sábado, março 31, 2007

O Homem-Gargalhada na Cultura Popular


















No seu livro "A Day in the Life- The complete Beatles Recordings", Richard Ravenstein fala-nos da existência de uma raríssima edição de Sgt. Pepper's , apenas disponível em certas zonas da fronteira Paris-China.
Essa edição, cuja foto podemos ver, apresenta os 4 Fabulosos mascarados. Segundo Ravenstein, trata-se de uma subtil homenagem ao Homem-Gargalhada, de quem todos os membros da banda eram fãs.
Diz-se até que Ringo Starr adquiriu, a certa altura, uma máscara de pétalas de papoila vermelha, e andava com ela pelas ruas da Swinging London.
Contudo, a foto documenta também os primeiros sinais de desagregação do grupo, patentes na máscara de John Lennon, que é claramente Veneziana, demarcando-se, deste modo, do espírito do Homem-Gargalhada. Isto porque Lennon estava já numa fase Pynchoniana.
Actualmente, é bem raro encontrar esta edição. Dizem que existem apenas três exemplares, e um deles está na casa da minha avó, que não se quer livrar dele de forma alguma. Ainda ouve o disco de vez em quando, munida da sua máscara de Homem-Gargalhada.

quinta-feira, março 29, 2007

Fragmentos de um chá no deserto-1

Homem-Gargalhada: Caro Algazel, não sabia que também conhecia a fronteira Paris-China. O meu amigo não é um místico árabe? O que fazem os místicos árabes para esses lados?

Algazel: Costumo fazer curas de sono na Pérsia em casa de uns amigos, os Hashashin, e à vinda paro sempre na fonteira Paris-China para comer um croissant com um cházinho manchuriano.

H.G.: Não me diga! Os Hashashin são meus companheiros de armas, os meus aliados mais fiéis em terras persas! Grandes guerreiros, digo-lhe. E o chefe deles? Ó saudoso, Hasan al-Sabbah… Sem eles eu nunca teria derrotado o famoso monstro Tefur do Cáucaso, um combate que já durava desde que os Indo-europeus, aterrorizados, foram forçados a emigrar.

A: Foi você que matou o monstro Tefur? Aquele que “foi urdido pela aliança intravenosa da malignidade em estado puro e a aparência fugaz de um girassol de Inverno ao luar”? Aquele terrível monstro que desde tempos imemoriais eliminava sem pudor nem arrependimento todo e qualquer orgulho humano que almejasse a escalada irreversível? Ó, o horror…

H.G.: Esse mesmo, meu caro, esse mesmo… Pelo que vejo, teremos muito para conversar…

A.: Com todo o gosto.

(traduzido do original, "A famous tea in the desert sands: the history of a meeting at Casablanca", por Avelino Gusmão Teles)

quarta-feira, março 28, 2007

Casablanca














Algazel regressava das suas prolongadas férias. O Homem-Gargalhada andava perdido, procurando a fronteira Paris-China. Encontraram-se em Casablanca e tomaram um Chá no Deserto.
O Homem-Gargalhada despediu-se da seguinte forma:
- Algazel, I think this is the beginning of a beautiful friendship.

Um amor de pessoa

Quem conhece pessoalmente o Homem-Gargalhada, privilégio de que muito me orgulho, sabe bem que ele não é nada como o vulgo o pinta. As ideias feitas são o maior dos males humanos. Uma vez adquiridas impedem-nos de averiguarmos por nós mesmos, de perscrutar impérios, de sair de casa à noite em busca de monstros afectuosos, de tentar cair para sentir a dor na pele. Ora, com o Homem-Gargalhada passa-se o mesmo. Todos imaginamos uma implacável máscara de papoilas vermelhas por trás da qual se alberga uma singularidade maligna. Nenhuma verdade está presente nesta ideia. Eu que o conheço pessoalmente, posso afirmar que não encontrei, em toda a minha já longa vida, pessoa de trato mais fino, de amabilidade mais refinada, de voz mais graciosa, de coração mais terno. Em suma, um amor de pessoa.

segunda-feira, março 26, 2007

Eu gostaria de saber...

O Homem-Gargalhada sabe muito bem o que é o mal. Certo dia, tal como um discípulo que, embora amedrontado pela presença do seu mestre ganha coragem e consegue, a custo, interpelá-lo e conduzir a situação a seu favor, perguntei-lhe: “Meu senhor, tu que sabes todas as coisas, que infatigavelmente transpões a fronteira Paris-China, que sais incólume dos trabalhos mais árduos, que partes em busca da aventura com a mesma naturalidade com que o céu continua lá no alto, que viste todos os rostos, que bebeste lava do Etna, que amaste as feras do deserto dos Tártaros, que comeste raízes na praça de S. Marcos, que, enfim, aguardas o fim dos tempos, a noite de trevas em que virá o Anti-Homem-Gargalhada e se fará justiça pela força da tua espada nesse recontro final, meu senhor, diz-me o que é o mal.” Ele soergueu o rosto, e num único gesto levou os seus finos dedos às delicadas pálpebras, passou a palma da mão pela rubra máscara e, como um Deus há muito aposentado, proferiu estas doces palavras: “Agora, neste preciso momento e com uma nitidez absoluta, eu sei o que é o mal. Se te dissesse o que ele é, eu deixaria imediatamente de o saber.” À noite, pela umbrosa calada, numa esquina sórdida de uma qualquer rua noturnamente abandonada, o Homem-Gargalhada comete um crime hediondo.

domingo, março 25, 2007

Quem é esse tal de Doutor House?

O Homem-Gargalhada é um homem actual. Vive em constante actualização, procura a novidade como um cão esfomeado busca um osso na lixeira. Mas porquê? Qual o motivo que levará um herói intemporal a sentir a pressão do turbilhão presente? Uma boa resposta seria: para alimentar os intensos diálogos-esplanada com o frequente amigo Gárgula-Desaguante, que conheceu numa expedição à torre-sul da catedral de Colónia (o que singularmente lhe ia custando a vida). Mas não é o único motivo. Vejamos porque é que o Homem-Gargalhada vive na ansiedade dilacerante de consumir os cerca de 88 episódios semanais das 36 mais-importantes-séries-televisivas-de-matriz-ângulo-saxónica. Disse-me outro dia: “Nunca me senti tão mal na minha já longa vida, quando um miúdo de rua se virou para mim e disse: olha, tu pareces o doutor house virado do avesso e com menos uma grande percentagem de QI, para além de seres vermelho e cheirares a mel de tartaruga balcânica. Aquilo do “com menos uma grande percentagem de QI” não me ofendeu nem a sua deficiente gramática, nem os aspectos críticos relativos ao meu cheiro ou cor. O que me enlouqueceu foi eu não saber quem era esse tal doutor a quem o miúdo me comparava. Mas eu não me deixo enxovalhar assim. Falei com o Gárgula-Desaguante que me aconselhou a comprar uma televisão e assinar a TV Cabo, adquirir um computador e instalar net. Agora é só ver os episódios novos e sacar da net os pacotes das edições anteriores. O Gárgula-Desaguante já me apresenta aos amigos como o Maior-especialista-ibérico-em-questões-relacionadas-com-séries-televisivas-de-matriz-ângulo-saxónica. Mas eu não ligo a elogios vazios de conteúdo”.

sexta-feira, março 23, 2007

quarta-feira, março 21, 2007

Nostalgia da verdadeira eleição

Sonho com o dia em que hão-de repetir na televisão aquela entrevista de duas horas que fizeram ao Homem-Gargalhada quando este se candidatou a Presidente-do-Mundo-Inteiro e em que ele respondeu, invariavelmente, a todas as perguntas: “Em termos práticos não, teoricamente sim.”

terça-feira, março 20, 2007

O Homem-Gargalhada e a imagem

O Homem-Gargalhada foi tirar umas fotografias tipo-passe. É verdade, o Homem-Gargalhada também tem de renovar o bilhete de identidade. Quando chegou ao fotógrafo, este pediu-lhe delicadamente para retirar a máscara de pétalas de papoila vermelha. O Homem-Gargalhada aprecebeu-se de que o fotógrafo estava ao corrente tanto das suas aventuras como dos seus adereços e personalidade, e com toda a certeza pertenceria a uma rede internacional que há anos o perseguia para o exibir como troféu na televisão, a Sociedade Secreta dos Perseguidores Implacáveis do Homem-Gargalhada (SSPIHG). É então que, num truque inédito, o Homem-Gargalhada aprisiona o fotógrafo e fotografa-o até à exaustão, até uma baba de Elefante-Montês de textura e consistência equilibradas e de cor amarelo-esfuziante lhe escorrer pela boca e pelos olhos. Dessa sessão fotográfica, o Homem-Gargalhada escolheu a fotografia mais singela e não necessitou de retoque. É essa a fotografia com que o Homem-Gargalhada se apresenta à polícia nas operações STOP e na segurança social, onde vai receber o sustento mensal com que alimenta as suas impenetravelmente insuperáveis aventuras. (Contamos poder exibi-la em breve)

segunda-feira, março 19, 2007

O Homem-Gargalhada faz anos

Dizem que encomendou um bolo gigante, um bolo feito de resíduos nucleares e baba de elefante montês com pepitas de sangue de gigante-asiático em estado de quarentena. Quem vai querer perder esta festa assumidamente ESPECTACULAR? Quem não deseja ardentemente experimentar uma fatia-mais-que-deliciosa?

domingo, março 18, 2007

sexta-feira, março 16, 2007

Anti-Homem-Gargalhada

O Homem-Gargalhada não morreu. Ele é imortal, ou quase. Quem quiser matar o Homem-Gargalhada terá de transformar-se no seu secreto e mais terrível inimigo: o Anti-Homem-Gargalhada. Quem detém a força, a raiva, o ódio, a perversidade e a paciência necessária para o fazer?

terça-feira, março 13, 2007

O Regresso do Homem-Gargalhada

O Homem-Gargalhada não morreu. O Homem-Gargalhada é imortal, vai durar sempre; quando a fronteira Paris-China desaparecer, ele ainda estará cá, embrulhado em aventuras intermináveis e fascinantes, sempre em busca de novas fronteiras. O Homem-Gargalhada é imortal, e quando já não houver papoilas no mundo com que produzir a sua máscara misteriosamente bela, então uma nova máscara igualmente misteriosa e imponente surgirá do reino das flores, pétalas que um outro Salinger há-de coser.

quinta-feira, março 01, 2007

Mutis

«Era más romántico quizá cuando
arañaba la piedra
y decía por ejemplo, cantando
desde la sombra a las sombras,
asombrado de mi propio silencio,
por ejemplo: "hay
que arar el invierno
y hay surcos, y hombres en la nieve"
Hoy las arañas me hacen cálidas señas desde
las esquinas de mi cuarto, y la luz titubea,
y empiezo a dudar que sea cierta
la inmensa tragedia
de la literatura.»

(Leopoldo María Panero, El que no ve, 1980)