quinta-feira, julho 31, 2008

I don’t want to grow up!

Os demónios de Lugones

Escrevo, apressadamente, estas palavras, num estado de espírito bastante particular. Quando acabarem de ler este post, tenho plena consciência de que a minha presente situação não deixará de provocar, no leitor, dúvidas bastante fundamentadas quanto à autenticidade da minha narrativa.
Chamo-me L. Lugones e escrevo, desde há dois anos e meio, para este blog, o Ângulo Saxofónico. Nos meus tempos áureos divertia-me a publicar textos de outros escritores sul-americanos, a fazer entremezes e poemas sobre advogados, ou a publicar listas de músicos com bigodes farfalhudos.
Até que surgiram os Morângulos Com Açúcar, após uma bela ideia do meu caro colega Algazel.
Fizemos vários textos e guiões para essa série, e os nossos alter-egos ganharam força e vida própria, dentro deste blog. O problema (oh, e a nossa desgraça!) é que os alter-egos tomaram conta, paulatina e inexoravelmente, das nossas personalidades. As mudanças foram surgindo, subtilmente. De noite, antes de me deitar, já não lia uma Antologia de Realismo Visceral, e passava a folhear, distraidamente, revistas de surf. Coloquei de lado a minha caixa de DVD’s do Kieslowski e arranjei a Deluxe Edition do Baywatch. As minhas deambulações nocturnas mudaram de local. Deixei de frequentar os Loucos e Sonhadores e a Fábrica do Braço de Prata e passei a ser visto nos Bares das praias da Linha do Estoril, ou em São João da Caparica.
E larguei a escrita, obviamente. Troquei-a, levianamente, por uma prancha de surf e respectivo equipamento, tendo, para isso, vendido grande parte dos meus livros a um alfarrabista na Rua S.......
Fico na praia ou no Bar Galhada todo o dia, a beber minis. E os meus sonhos são povoados por mares revoltos (acordo sempre, a suar, antes de enfrentar a sétima onda.....).
Mudei a minha forma de falar. Chamo toda a gente de “puto”, estou rodeado de “cenas maradas” e “mando gandas pausas”. Só me restam uns minutos de lucidez, que vão diminuindo a cada dia que passa. Reuni as últimas forças que me restavam para escrever para este blog, e saiu-me este texto. Estou a tornar o Ângulo num blog comum. Ou seja, num diário.
Os meus colegas de blog não estão melhores. O Boécio só se diverte a cantar, pensando que faz parte dos BAL’Z. E o Algazel já não quer ir para o deserto, pois lá não há ondas nem minis nem babes.
E a Safo? Esperem.....agora que penso nisso, acho que ela resistiu à invasão da Safinha....e se eu?
Sim, é isso! Vou tentar tomar a personalidade da Safo, e passar a escrever, protegido, pelo seu nome....talvez o Low não descubra....é a minha última oportunidade....
Mas.....oh não.....oiço passos....é o Low que se aproxima.....a porta está bem trancada!
Oh não! A janela! A janela! Cena maradaaaaa................

segunda-feira, julho 21, 2008

A Sétima Onda- Esboços de Um Final Hipotético

O meu querido amigo (e provedor do bloguespectador) Algazel, a quem mando, desde já um Abraço de Prata, proibiu, com razão, a continuação do episódio da Sétima Onda. A partir de agora, vamos escrever coisas mais leves, estouvadas e com sabor a Verão, como o hip hop dos Morângulos. Deixo só mais algumas sugestões de um hipotético final de episódio, que nunca existirá. Os Morângulos continuarão a partir do episódio do aniversário do Low. Saudações e Abraços Morangulares.

10- Quem está mascarado não é a morte, mas sim uma fã dos morângulos, que quer conhecer de perto os nossos heróis e levá-los para outro lado, de preferência, depois de ter feito algumas provas contra eles, tendo, entretanto, a oportunidade de examinar os bíceps do Low.

11- Deus Ex-Machina puro: trata-se de um sonho de Low, Alga ou Buécio (ou, quem sabe, da Safinha). Ou então, um sonho da morte. Ou um sonho de Low, Alga e Buécio, que sonham que a morte sonhou com eles. Ou um sonho do leitor, que sonhou com este post, com os Morângulos e com este blog.

12- A Morte leva a alma dos nossos heróis, mas os seus corpos por cá continuam, a surfar e a mamar shots. Seriam os Morângulos Zombies, ou os Mortângulos com Açúcar.

13- Os Morângulos morrem, de facto, mas trata-se de um bloco publicitário inserido a meio da novela, sem aviso prévio. É um anúncio a uma agência funerária. O anúncio seguinte seria o funeral dos nossos heróis, com close ups dos caixões (que têm uma etiqueta a dizer- “Caixões Silveira- A Melhor Madeira”. Os episódios dos Morângulos decorreriam normalmente, sem ligação com os anúncios.

14- A Morte leva os nossos heróis para o Outro Lado. Já lá está toda a gente, e as ondas são maiores que no Hawai. Os Morângulos confraternizam com bloggers famosos, surfam contra o Pedro Mexia e o Possidónio Cachapa (que são derrotados vergonhosamente) e ficam amigos de todos os comentadores do Ângulo Saxofónico, com quem surfam, também, e bebem bejecas, envergando máscaras de pétalas de papoila vermelha, no Bar Aíso.


Morângulos com Açúcar: uma comunicação do provedor do bloguespectador

Definitivamente, não foi incólume a onda de protestos que sob variadíssimos dispositivos e formas chegou até à minha pessoa. Não me era estranha a existência de uma blogue-novela de cunho desviante para os mais jovens que andava no ar há já algum tempo. Contive-me durante as sessões contínuas de degradação evidente. Fui-me contendo mesmo em momentos como aquele em que um jovem de conduta que eu denominaria no mínimo atroz, esse tal Alga, assalta o pobre Low com a veemente e reaccionária litania da literatura, do lúgubre mundo do pó dos livros, como um parasita ou um membro da Igreja Mórmon. Um jovem como Low, de espírito livre e aventureiro, por vezes demasiado sensual nos seus rituais, mas, em suma, imerso na jovialidade e na ingenuidade próprias da adolescência foi sempre o modelo que defendi como arquétipo da pedagogia edificante em tele e blogue-novelas da nossa época. Ora, nada me atormentava mais nessa novela, tendo ainda mais em conta o meu papel de provedor, do que a clara e assertiva atitude dos guionistas de, sempre de modo subliminar e por vezes quase intravenoso, tentarem remeter (ou desviar) os jovens bloguers para referências de sabor erudito, muitas vezes recorrendo a citações subtis, a evidentes desvios de leitura, a poesia ou mesmo a elementos do imaginário da cultura de outros tempos, onde é bem de ver nos próprios nomes das personagens. O cúmulo deste comportamento, que eu apelido desde já de degradante, profundamente adverso aos corpos e às mentes da nossa juventude, chega neste último episódio, que suscitou a crítica acérrima dos mais variados quadrantes. Onde já se viu a tentativa de alegorizar, recorrendo a uma ironia mesma, um episódio desta novela tendo por base o ignóbil filme de um certo senhor Ingmar Bergman? Onde está a moral que queremos dar aos nossos filhos quando colocamos uma personagem disfarçada de morte a passear pela praia de Carcavelos desafiando os pobres imberbes a cavalgar ondas atrás de ondas, num desafio que culminaria (se eu permitisse a continuação da emissão dos episódios) com a Sétima Onda, essa sim incavalgável, por trás da qual todos nós sabemos que se iria encontrar o abraço da morte? Será com exemplos destes que os nossos miúdos poderão algum dia vir a saber escutar um bom rap dos Bal'z? A apreciar um bom grafitti numa das paredes do claustro do Mosteiro dos Jerónimos? A bater um coro decente a uma qualquer miúda do calibre da Safinha? Em que país é que estamos?
Vejo-me portanto obrigado a cancelar imediatamente esta blogue-novela, na esperança de que os guionistas a saibam reformular com consciência e bom gosto.

Props pa toda essa gera marada,
Henrique Vaz Veloso

quinta-feira, julho 10, 2008

A Sétima Onda- 1ª Parte

Tarde solarenga.Esplanada do Bar Galhada. Buécio, Alga e Low estão sentados, a beber cerveja. Buécio olha para as raparigas que passam, enquanto Low está embrenhado na leitura de um livro. Alga parece impaciente. Por detrás dos 3 personagens, estão as pranchas de surf de cada um deles.

Buécio- olhem práquela gaja! Não me importava de lhe fazer, tipo, uma audição, para ela ser, tipo, dançarina dos BAL’Z!
Alga (meio distraído)- Yá, Yá, bué fixe....Low, como é que é, meu? Quando é que páras de ler esse livro? Tá-me mesmo a apetecer, tipo, partir umas ondas, man!
Low- espera aí, puto. Tou só a acabar de ler este capítulo do livro que me emprestaste. É bué da curtido, meu!
Buécio- tás a ler um livro, puto? O qu’é que tás a ler?
Low- uma cena que o Alga disse que tinha tudo a ver comigo, chaval. O livro chama-se....hum.... (começando a soletrar) “D-o-s-to-to-ies-vky”, de um autor chamado “O Idiota”. Deve ser, tipo, um possidónio, o gajo não deve ter este nome marado.
Alga- Low, meu, o nome do escritor é que é Dostoievsky, um gajo romeno. O livro chama-se “O Idiota”, tás a ver?
Low- aaah....yá, chaval! Não tava a topar poquéquio livro tinha um nome tão marado, meu. Cheguei agora à segunda página e tava a achar altamente, mas não tava, tipo, a peceber népia.
Alga- yá, meu, mas buga surfar?
Buécio- yá, bora lá! Agora há bués chavalas ali na praia e eu queria, tipo, que elas me vissem!
Low (fechando o livro)- bora lá, então!

Nisto, aproxima-se um estranho personagem, que se senta na mesa dos nossos heróis. Enverga um grande capuz.

Buécio (virando-se para os amigos)- conhecem este gajo? Deve ser dread, usa um capuz bué da nice!
Low e Alga- népias, chaval!
Indivíduo de capuz (consultando umas folhas)- vocês são o....Alga, Low e Buécio?
Alga, Low, Buécio- yá, meu!
Indivíduo de capuz- ah, então, antes de mais nada, queria pedir-vos um favor. Podiam assinar aqui uns autógrafos? É que a minha filha mais nova é fã dos Morângulos e....
Buécio- yá, na boa! E que idade é que tem, tipo, a sua filha? Se ela quiser, pode fazer, tipo, uma audição para dançarina nos BAL’Z e....
Indivíduo de capuz (sorrindo)- oh....não me parece! Permitam que me apresente....eis o meu nome (o indivíduo de capuz distribui um cartão de visita a cada um dos nossos três heróis).
Alga (lendo o cartão)- “Doutor Encapuçado- Advogado”?
Indivíduo de capuz (mostrando embaraço)- ah, desculpem, dei-vos os cartões errados! Esse é o meu emprego em part time! Aqui têm os cartões que vos queria dar (distribui novos cartões).
Low (lendo o seu cartão com atenção)- “Mow Ret- e”? O que é que isso quer, tipo, dizer? Não sei bem inglês!
Buécio- puto, isto não tá em inglês! Está escrito “Morte”!
Indivíduo de capuz, que se intitulará, a partir de agora “Morte”- é verdade, meus senhores! Sou a Morte, e vou-vos levar...
Low- deixa, tar, chaval, nós ainda vamos surfar, não precisamos de boleia.....
Morte- boleia?? Não vos vou levar a casa, seus cretinos!
Buécio- então, vais-nos levar, tipo, para onde?
Morte- vou-vos levar para O Outro Lado!
Low- para o outro lado? Tás marado, ou quê? Para ir para o outro lado da estrada não é preciso irmos de boleia!
Morte (irritado)- quem é que falou em ir para o outro lado da estrada?? Vou-vos levar para o Outro Mundo!
Buécio- a sério, man? Sempre quis ir, tipo, para o outro lado do mundo!! Há lá gajas fixes?
Low- Yá, puto! E há ondas bacanas?
Morte (realmente irritado)- mas quem é que falou em ir para o outro lado do mundo?? Vocês vão deixar este vale de lágrimas, vão bater com as dez, vão sair na horizontal, vão vestir o paletó de madeira, vão-se neutralizar, vão adormecer o sono eterno, vão na paz dos anjos, com os anjinhos, vão ter o vosso desfecho, epílogo, conclusão!!! Em suma, vão morrer!!! Entendido?? E é agora mesmo, que eu ainda tenho de atender um cliente daí a meia hora, no meu emprego em part-time, vou fazer uma habilitação de herdeiros!

Corta para intervalo. Sabemos que os olhos dos nossos leitores se cansam e também temos de preencher espaço com os nossos compromissos publicitários. Se quiserem saber já como acaba o episódio, liguem para a Linha Morângulos (3 Euros Por Cada Minuto de Chamada).



terça-feira, julho 01, 2008

Mais um texto em espanhol

Los dos esqueletos, con los huesos blanqueados por el sol, conversan sentados al socaire de la pared del cementerio.

Esqueleto A: Oye
Esqueleto B: Dime.
Esqueleto A: Lo peor que podemos hacer es desanimarnos.
Esqueleto B: Si, eso seria lo peor.
Esqueleto A: Vendrán tiempos mejores, estoy seguro de eso.
Esqueleto B: Oh, desde luego! Vendrán tiempos mejores!
Esqueleto A: Se trata de saber esperar.
Esqueleto B: Si, se trata de eso.
Esqueleto A: Los árboles volverán a ser verdes.
Esqueleto B: Eso es: verdes. Y cantarán otra vez los pájaros.
Esqueleto A: Ah, qué agradable será entonces vernos regresados a la carne!
Esqueleto B: Crees que regresaremos también a la carne?
Esqueleto A: Quién lo duda?
Esqueleto B: (nostálgico) Eso seria estupendo.
Esqueleto A: (Tras una breve pausa) Como te llamavas antes?
Esqueleto B: Juanito.
Esqueleto A: Anda pues, Juanito! Levanta el corazón!
Esqueleto B: (Mirando a través de sus costillas) Qué corazón?
Esqueleto A: (Reconsiderando la situación, con acento súbitamente desesperanzado) La verdad es que hicimos mal muriéndonos.
Esqueleto B: Si, hicimos mal.
Esqueleto A: Perdimos el corazón.
Esqueleto B: Si, lo perdimos.
Esqueleto A: Eso fue, sin duda, lo peor.


Silencio. El Esqueleto B sopra a través de su propia tibia y brota una suave melodía, que ondula apenas la cabeza de las ortigas. Al conjuro de la música, las serpientes de hace cien años- apenas un rosario de menudas placas óseas- tratan inútilmente de erguirse como en los viejos tiempos de la ponzoña fulminante.

(Javier Tomeo)