domingo, março 29, 2009

Comunicado da Direcção do Ângulo Saxofónico- 2

Após veementes protestos do nosso membro Algazel, que mandou um mail e um comentário inflamado, a partir do seu refúgio no deserto (a Escola de Forró Alga & Pernambucano Lda.), a Direcção do Ângulo Saxofónico resolveu suspender das suas funções, por tempo indeterminado, o Algazel Estagiário (com quem, de resto, o Ângulo nunca assinou qualquer contrato de trabalho, encontrando-se o dito senhor em pleno período experimental).
O nosso caro Algazel também acha que o Lugones devia ter apagado de imediato os posts assinados em seu nome e não devia ter facultado o acesso do blog ao Alga Estagiário (mas cá para mim, é apenas inveja masculina, pois o Algazel tem o velho desejo de ser o blogger mais popular e credível, de entre os colaboradores do Ângulo).
De qualquer forma, para apaziguar a sua fúria, resolvemos entrar em casa do Lugones, aproveitando o facto de o mesmo não se encontrar presente, para acedermos ao seu computador, e fazermos um pequeno post ao jeito de algumas das suas rimas.
O resultado final é o post que se vê aqui em baixo, “Quero ser italiano”.
O Ângulo agradece, mais uma vez, aos seus queridos leitores.
Um bem-haja a todos!

Quero ser Italiano

Gostava de ser italiano,
E de saber tocar piano,
todas as notas, de toda a escala,
E ser aplaudido, de pé, numa sala,
ou num qualquer bar onde pudesse tocar.
Depois, para o encanto ser total,
Acho que não ficaria nada mal
Pôr-me a dançar,
Com toda a gente no meio da pista.
Escolhia uma miúda,
E apanhava uma bebedeira,
Dormiria com ela a noite inteira,
E sem nenhum compromisso à vista
(como com qualquer bom artista),
Estaria no dia seguinte noutras cidades,
A fazer espectáculos de variedades,
Ou a filosofar à beira-mar,
Para tentar engatar
Outra miúda para acrescentar à lista.
Dir-lhe-ia uma graçola,
E cantar-lhe-ia uma melodia ao som da pianola.
No fim da noite, com um gemido,
Sussurrar-lhe-ia ao ouvido,
Num jeito banal,
Para o encanto ser total,
Dir-lhe-ia, ao cair do pano:
“sabes querida, que eu sou italiano”?

sexta-feira, março 27, 2009

Estas músicas que vos deicho

Disseram-me que o Algazel gostava de música clássica.

Confesso que não curto muito essas cenas e essas hondas, mas andei a pesquizar por aí, e os outros membros do blog pediram-me que encontra-se coisas que ele gostasse, para incooperar num post há sua medida.

Acabei por encontrar uma cena clássica muito gira, uma miúda chamada Vanessa Mae (deve ser possidónio, pois ela ainda é nova e ainda tem trassados de oriental, não me parece que seja mãe de uma miúda chamada Vanessa que além disso é nome portugues da zona do Porto, onde as pessoas são portuguesas de gema sem trassos orientalistas nem môros), que toca música clássica muito bem e além disso é muito gira. Assim, mato dois coelhos com uma só queijadada pois que me disseram que o Algazel além de gostar de música clássica gosta de miúdas giras. Esta aqui é um regalo para os olhos e toca muito bem violonselo.

Aqui fica este vídeo.



quarta-feira, março 25, 2009

Comunicado da Direcção do Ângulo Saxofónico

Uma vez que o nosso querido colega e amigo Algazel anda desaparecido há uns bons meses, e ainda não recebemos notícias suas, contratámos, temporariamente, para o seu lugar, um Blogger Estagiário, que acabou o Curso há uns tempos, e que andava à deriva por aí, depois de ter tentado a sua sorte noutros países europeus.
Recebemos excelentes indicações deste Blogger, que, ainda por cima, tem pais ricos, e que são capazes de arranjar alguns patrocínios para o Ângulo Saxofónico.
Mas não o contratámos por razões interesseiras. O rapaz escreve bem, não dá erros, e constrói bem as frases. Para além disso, pedimos-lhe para que se debruçasse sobre as referências artísticas do nosso querido Algazel, para que os leitores não notem as diferenças.
Esta semana, o Algazel Estagiário falará sobre Cinema, e Robert Bresson, como verão na crónica que está mesmo em baixo deste post. Para a semana, será a vez da Literatura, com referências obrigatórias a Roberto Bolaño.
Quando o verdadeiro Algazel regressar, voltará a tomar conta da sua rubrica.
Um grande bem-haja aos nossos queridos leitores!

Algazel apresenta crítica literária

Depois da história do forrobodó nas areias do mediterrânico, em terras mexicanas do norte de África, voltei a tempo a Portugal para falar de dois temas do qual eu pessoalmente gosto muito: cinema e particularmente dentro do cinema, o realizador de cinema Robert Bresson.
Actualmente, há na cinemateca um retro-espectativa deste realizador ainda vivo, e que é o realizador vivo mais velho do mundo, ainda mais velho que o Oliveira, pois que o Bresson nasceu em 1901 e fez muitos filmes ao longo dos tempos e quiçá das décadas. A cinemateca representada por João Bernardo da Costa, está a fazer a retro-espectativa de todo o seu espólio cinematogárfico, desde filmes como pickpoquet (de 1959), ou muchete (de 1967), até filmes seus mais recentes, como Nikita (de 1990, com Elton John no papel principal), ou 5º Elemento (de 1997, em que entra a mulher de Bresson da altura, Milla Jovovich).
Bresson, que era primo do "Papa" do Surrealismo André Bresson, influenciou muitos realizadores, mas dizem que se dava mal com outro realizador francês da altura, Jean Pierre Melville, mais conhecido como o autor do livro da baleia Moby Dick, e que fez também uns discos com o pseudónimo de Moby.
Bresson e Melville inspiraram realizadores como Abbas Kairismaki, que fez o "Sabor da Melancia" ou "O vento levar-nos-á nas nuvens passageiras", ou André Sakharov, realizador da "Arca Russa", e vencedor do prémio do Nobel da Paz, em 1975.
Vão haver outros filmes bons na Cinemateca. Aguardem pela minha próxima crónica.

quarta-feira, março 18, 2009

Sugestões para o cancioneiro das líricas pop-rock Lusitanas- canção para André Sardet, ou para as Just Girls

Nas letras de pop-rock fala-se muito de amor, quando muito, de ódio (vide as Songs of Love and Hate). Proponho, agora, uma abordagem diferente a esta temática, com uma letra, que mistura, pela primeira vez, desde o “Amor de Água Fresca”, Relações Humanas e Alimentos. Seria interessante colocar a canção na voz de André Sardet, ou dos Pólo Norte ou, então, numa variante feminina, dirigida a um namorado, cantada pelas Just Girls.

Amo a minha namorada
Quase tanto como um saco de batatas
Às vezes ponho-me a pensar do que mais nela gosto
E não chego a qualquer conclusão
Porque é tudo tão igualmente banal, sensaborão…
Mas gosto desta sensação
De nada me agradar, ou excitar particularmente
De me sentar, no sofá, calmamente, ao seu lado, a ver televisão
E não existir naquele momento qualquer tensão,
Ou uma pausa atroz, que terei de preencher, a todo o custo,
Sob pena de me rebentar o coração
De tormentas, incertezas, dúvidas, inquietações.
Com a minha namorada, consigo passear de mão dada, sem medir a força do seu pulso.
É sempre igual, sempre suave, e mesmo que se irrite, e me largue num qualquer assomo de raiva
Eu peço muitas desculpas, simplesmente, e assim seguimos, sempre em frente, pelo caminho, pela mesma estrada de sempre.
Não me bate o coração com mais força, não sinto nada de diferente,
Afinal, amo a minha namorada
Apenas, e tão só, quase como um saco de batatas,
Daqueles que se trazem lá da terra natal, que o vizinho ofereceu
E que ficam na dispensa para o ano inteiro
E quando precisar de me servir, sei que haverá mais uma batata guardada, dentro do saco
Serão todas iguais, sem surpresa, todos os dias do ano
Talvez uma seja maior, outra esteja estragada, outra saiba melhor e me dê um pouco mais de alegria nesse dia
Mas sei com o que contar
(afinal, são batatas).
Gosto de passear com a minha namorada
Discutimos cinema, literatura, tudo muito livremente
Não há razão para discordarmos, pois não há interesse na luta
Na obtenção de uma pequena vitória num qualquer assunto trivial
Quando vamos para a cama, é quase agradável
Não necessito de me mostrar, de me pôr à prova
E posso discorrer, livremente, pensar na vida, no dia seguinte
Enquanto passo com a minha mão sobre a sua pele, que tem um toque suave, inofensivo, elegante.
Conheço-lhe os segredos, pois não tem nenhum
Abraço-a com força, não num esforço de não a perder
Mas tão-só por uma questão de hábito
E eu amo tanto os hábitos
Que me apetece abraçá-los.
Oh, a minha namorada atende-me sempre o telefone a meio do dia
Mas se tiver um amante, não quero nem saber
Afinal, amo-a quase tanto como um saco de batatas.
Quando tudo se esgotar, arranjarei outra
Sem inquietações
Paixões
Ou outras palavras terminadas dramaticamente
Usadas apenas por aquela gente
Que tudo quer e tudo sente
Eu não.
Apenas sigo de mão dada
Com a minha namorada
Um saco de batatas, um quase nada
E assim estarei muito bem

segunda-feira, março 16, 2009

Little treasures

quinta-feira, março 12, 2009

Um Homem Fora de Tempo

Exmo. Senhor,
Afirma que eu, ao escrever tantas cartas, tantos posts nos meus blogs e ao fazer centenas de comentários em sites e fóruns da Internet, devo ter mais tempo disponível do que todas as outras pessoas.
Respondo-lhe o seguinte: é verdade, e de um modo mais literal do que possa pensar. Não se trata do facto de eu ter uma vida mais desafogada, ou de estar desempregado ou, sequer, de ter um emprego com um horário maleável.
Não, a verdade é que tenho mais tempo disponível, mesmo. E porquê? Vou-lhe contar um segredo: é porque tenho MESMO mais tempo do que as outras pessoas. Comigo, passa-se um fenómeno curioso: o meu dia tem 48 horas, ou seja, enquanto passa um segundo para o comum dos mortais, para mim passam 2 segundos.
Isto pode parecer-lhe um facto bizarro, mas deverá conhecer os meus antecedentes familiares: os dias do meu pai duravam 30 horas. Isto era uma tradição de família: a minha avó paterna tinha dias que duravam 27 horas, e o meu avô paterno tinha dias que duram 30 horas.
O meu pai casou-se com uma amiga de infância, cujos dias duravam 38 horas. Passado uns anos, nasci. Não me dei logo conta da minha bizarra situação. Contudo, as aulas pareciam-me durar uma eternidade. Pudera! Uma aula de 50 minutos para uma pessoa normal representava, para mim, uma maratona de 100 minutos. Mas, às vezes, não me podia queixar, nomeadamente, quando fazia os testes, e dispunha do dobro do tempo dos outros. Até podia ir à casa de banho, descansado, ou comer uma merenda no bar, enquanto os meus colegas olhavam, desesperadamente, para o relógio.
Ninguém repara na minha particularidade. Para os comuns dos mortais, sou como eles, vivo no seu tempo. Apenas eu noto as diferenças. Por exemplo, quando vou ao cinema, tenho o dobro do tempo dos outros para reparar em pormenores técnicos, ou em pequenas gaffes, como um microfone mal escondido, ou um erro de raccord.
Tenho algumas dificuldades nos relacionamentos amorosos, nomeadamente, para desenvolver uma conversa coerente com a outra pessoa, a chamada “cara-metade”. Muitas já terminaram o namoro comigo, alegando que tínhamos ritmos diferentes de vida.
A própria vida sexual representa alguns problemas. Queixam-se de que não dou a devida atenção aos chamados “preliminares” e que me vou abaixo muito depressa, ou que me canso rapidamente, durante o chamado “acto sexual”. Em contrapartida, também dizem que recupero depressa.
Quanto à vida profissional, tenho bastante sucesso. Consigo acabar os trabalhos até ao fim do dia, e ainda escrever longos posts no meus blogs, daqueles que mais ninguém lê.
A morte não me preocupa por aí além, nem tenho medo dos médicos. Até me rio, ao pensar no momento em que estiver muito doente, e em que irei perguntar ao médico:
-Doutor, quanto tempo me resta?
- Apenas dois meses, meu infeliz paciente.
E rir-me-ei para os meus botões, ao saber que ainda terei quatro meses pela frente.
Ao longo da minha vida, e devido à minha fantástica condição, ocorreram-me alguns episódios interessantes. Mas o mais espantoso, e horrífico, ocorreu numa manhã de nevoeiro, num inverno. Ainda me recordo de todos os pormenores. Por mais espantosos que possam parecer, os factos que relatarei agora são todos verdadeiros. Saía eu de casa, como todos os dias, quando….

Nota do Editor: a carta não termina aqui, mas não tive tempo, nem paciência, para ler o resto.
Os meus dias são curtos, amanhã tenho de me levantar cedo, e ainda quero fazer umas partidas de cartas, online.

quinta-feira, março 05, 2009

Crónica do quotidiano

Pensando poder resolver os seus problemas de distracção crónica, o nosso grande amigo Excelentíssimo Doutor Leopoldo Lugones (Poldinho para os seus) decidiu tentar uma experiência de retiro e, assim sendo, foi pedir a orientação e a companhia do nosso Excelso Algazel, outrora mestre nessas andanças, para empreender uma jornada pelas areias desérticas do Norte de África. Contudo, e enquanto se preparavam espiritualmente para o evento, foram ambos raptados por temíveis ninfas de tez morena e cabelo revolto, acabando retidos num baile de Forró brasileiro, junto às areias do Mediterrâneo. O nosso excelso filósofo, surpreendentemente versado nas disciplinas da dança, depressa enfeitiçou as raptoras sem precisar de recorrer ao cepticismo argumentativo. Já o nosso querido novelista, impotente a princípio para lidar com a ameaça, e ainda atormentado por visões de cartazes ambíguos colados a paredes não menos ambíguas, acabou por conseguir aderir aos recentes ensinamentos do seu novo mestre e juntar-se à batalha. Diz-se que enquanto um desarmava as inimigas com melífluos passos de sedução, o outro as prostrava através de arrebatadores golpes de luta livre. Não consegui perceber ainda o desenlace de tão singular episódio, nem por quanto tempo ficaram ainda retidos os meus companheiros, mas a quem ousar descrer deste assombroso relato respondo com a missiva que hoje chegou à minha caixa de correio.