domingo, novembro 11, 2007

La clôture de la représentation

Eu gostava de pronunciar as palavras. Sílaba a sílaba. Letra a letra. Na ponta da língua, entre os dentes. C-A-M-A e aí estava eu com as pálpebras a fecharem-se. Quando pronunciava G-A-T-O, aí estava ele, ao meu colo, receptivo mas só até mais ver. E-d-e-s-ú-b-i-t-o-u-m-c-o-r-p-o e vinha a alvorada e todo a desmesura da matéria nas minhas mãos. Agora falta-me sempre uma sílaba e as palavras martelam o tímpano mas ficam presas no ouvido interno. Distribuo-as em planos de duas dimensões e aponto as coordenadas. Sem corpo e sem profundidade, o sentido ecoa até ao fim dos tempos.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Boa Boécio!
Gostei!
Talvez a voz se transforme em matéria. Em cama ou gato ou língua no pescoço.

11/11/2007  
Anonymous Anónimo said...

O sr. Boécio sabe que a matéria já deixou de lhe ser acessível.

11/11/2007  
Anonymous Anónimo said...

Quando as palavras fazem ping pong dentro da cabeça, não há sentido possível.

11/11/2007  
Anonymous Anónimo said...

"Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela musica.
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isso todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só"

11/12/2007  
Anonymous Anónimo said...

uma gata filósofa:
uma gata com boé cio.

11/20/2007  

Enviar um comentário

<< Home