Jean-Paul Sartre, ou "O Futebolismo é um Humanismo"
Chega agora a vez de falarmos de Jean Paul Sartre, o famoso defesa esquerdo da equipa do Século XX. O seu aspecto físico impõe uma grande dose de respeito. Ao pé dele, o defesa benfiquista Luisão ganharia um concurso de beleza. É igualmente dotado de uma muito particular visão do jogo, a que os detractores maldosos apelidam de "estrabismo". Sartre é o que poderemos apelidar de "jogador individualista". Para ele, cada jogador deve escolher o seu próprio caminho sem o auxílio de padrões universais. Cada encontro contém uma série de escolhas, raramente sem nenhuma consequência negativa. E convenhamos, muitas vezes vêmo-lo fazer jogadas absurdas, levando-as sempre até ao fim, com resultados desastrosos. Como jogador, recusa-se a estudar o adversário antes dos encontros, pois, para ele, o conhecimento sensível sobrepõe-se ao conhecimento intelectual. Os jogadores surgem primeiro no campo, só depois é que se definem. Eles não possuem qualquer natureza, visto não haver Deus para as conceber. "O jogador não é mais do que aquilo que ele faz", é um chavão que costuma repetir à imprensa, além de "são 11 contra 11" ou "prognósticos só no fim", estes bastante utilizados pelos futebolistas portugueses da velha guarda, que foram por ele bastante influenciados. Por outro lado, é o primeiro a assumir as suas responsabilidades e erros. Nunca atira as culpas para cima do árbitro ou para o cortador da relva, a menos que esteja muito irritado. Os jogadores estão sós no mundo. Estão livres, sós e sem desculpas. Muitas vezes, ao intervalo, é visto a recolher às cabines cabisbaixo, com náuseas. Mas não pensem que é por causa da espetada de lulas que comeu ao almoço: é apenas porque reconheceu a gratuitidade das vicissitudes do encontro. Nestas alturas, tem a impressão de existir à maneira de uma coisa, de um objecto. Tudo lhe surge como pura contingência, sem sentido. No meio de tanto individualismo reconhecemos, com surpresa, que este lateral esquerdo se dá bem com treinadores exigentes, de pulso forte. Sartre vê neles a promessa da liberdade individual para exercer a arte do futebol como melhor entender. Os jogadores seriam libertados de decisões básicas para concentrar-se apenas no seu jogo. Isso aumentaria a concentração e os índices de confiança. Talvez por isto é que, apesar de achar unicamente que os jogadores se definem só no campo, acata de bom grado a sua posição de lateral esquerdo, por vezes a atacar mais, mas sem se aventurar por outros terrenos de jogo mais ao centro. Nos seus tempos áureos foi muito aplaudido, tendo mesmo recebido a Bola de Ouro numa ocasião. Sem se saber muito bem porquê, recusou o prémio.
1 Comments:
Querido Sartre, a jogares dessa maneira, a seguir dirás que - "o inferno são os outros"!
Vá, faz uma pausa para um serão de converseta bem regado a vinho, com os compinchas surrealistas, nos bares de Montparnasse.
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