sábado, junho 03, 2006

Walter Benjamin, o “anjo” recolector

Declaro desde já que me proponho ao bombom oferecido pelo Algazel. Mas antes de mais há que tratar da colecção de cromos futebolísticos – é que a redondinha está prestes a rolar. E nada melhor do que lançar precisamente o cromo do Benjamin, guarda-redes da equipa do século XX.

A aptidão de Benjamin para as tarefas defensivas surgiu com uma admiração muito particular pela eficácia da dupla de centrais Marx-Engels, o que terá contribuído também para o seu fascínio pelo estilo de jogo da equipa do século XIX – Benjamin redigiu, de resto, algumas notas sobre aquilo que designou como a “tragédia barroca” dos seus agora adversários, regidos pela coragem e o desejo de vitória, elementos essencialmente anímicos e transcendentes à dinâmica do jogo. Contudo, rapidamente forjou um estilo próprio que o levou à titularidade entre os postes de uma equipa que joga de forma muito mais analítica. Benjamin será sempre um dos resistentes entusiastas do futebol total das velhas escolas, tal como o testemunham as suas críticas à “reprodutibilidade técnica” dos lances estudados e à sua indefectível defesa da “aura” dos grandes talentos, que lhe permite postular a crença num messianismo da ética de jogo independente de todo o mercantilismo esteticista que envolve o espectáculo. O seu estilo pessoal consiste na recolecção atenta dos remates adversários, que estuda com afincada paciência: «A suave monotonia ainda não envolve a minha baliza, gosto de marchar entre as suas fileiras de lances desordenados», afirma então em tom quase místico, referindo-se a si mesmo como um verdadeiro coleccionador de remates descontextualizados. Curioso é também o seu encantamento pelas particularidades arquitectónicas de alguns estádios, principalmente pelas arcadas do estádio parisiense de Saint Dennis, assim como a sua quase obsessão pelas figurações de anjos, nas quais projecta a própria imagem, concebendo-se como um guardião alado que protege as redes com a uma aura singular.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cada um tem a sua mania, ah pois é!

6/05/2006  

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