sábado, maio 24, 2008

Circe, reencarnada e descomposta, ou exercício anónimo nº24

Gosto de ir à guerra, apenas para me poder esconder num buraco, enquanto espero que a tempestade cesse e me embalo com a litania das armas e dos tiros, e com o odor a terra queimada. Calo-me e espreito-te, lá do fundo da toca, a calcorrear as ruas, à chegada da aurora. Não me mexo, o sal da terra purificou-me os braços, que se fundem na aragem tornada vaga pelo ruído das armas. O teu corpo deixa-se levar pelas ruas, ao sabor do vento e da chuva e de um último sorriso esquecido pela multidão em fuga, que te procurou em vão, Circe, tornada morta pelos sonhos do tempo, pelas noites brancas, e pela sombra da memória de quem se cansou de esperar por ti.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"o meu amor cabe na cova que eu lhe fiz, o meu amor cabe na cova de um dente..."

5/25/2008  
Blogger Então oh coisinha? said...

Lindo..

5/25/2008  
Blogger Maga Ostrológica said...

Uma palavra: avestruz.

bj

5/27/2008  

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