Recensão Crítica
O assunto voltou recentemente à discussão e inúmeras são as publicações que nos últimos dois anos se dedicaram a escalpelizar o famoso encontro entre Algazel e o Homem-Gargalhada em Casablanca. Os trabalhos canónicos de Sedley e Wells, “Through the true: a famous tea” publicados pela Oxford University Press em 1974, dificilmente serão ultrapassados no seu vigor, clareza e abrangência. O mesmo não podemos dizer de uma tese que fez escola mas sobre a qual caiu algum pó académico: falamos de “La conscience de l’hasard: un rendez-vous à Casabalanca” de 1986, da autoria do eminente professor em Estudos algazelico-homogargalhadianos na Sorbonne, Henri Pétri. Segundo esta tese o encontro teria sido originado por inspiração divina, inspiração que o autor conceptualiza como uma das faces do acaso, “la face constructive de l’hasard”. Ora, um estudo publicado em 2005 por Amonius Lark, vem colocar a seguinte questão: será que Henri Pétri conhecia suficientemente bem as fontes? No seu livro maravilhosamente escrito, “The true behind the mask: a scrupulous study on the meeting of the Laughing Man and Algazel at Casablanca” este professor de Princeton questiona-se se Henri Pétri saberia ou não o que estava escrito nos registos da alfândega de Casablanca quando os dois heróis se econtraram. Na verdade, esses registos foram confidenciais durante muito tempo até que um investigador russo, Vladimir Kubitchek, os trouxe a público. Hoje sabe-se com um grande grau de precisão que o motivo que proporcionou este encontro foi uma súbita vontade de ir à casa de banho. Eis a história: Algazel estava a ponto de embarcar quando uma fascinante dor intestinal o tomou desprevenido. Sem perder tempo correu para a casa de banho mais próxima e com a pressa deixou cair o passaporte. É nesse momento que vai a passar o Homem-Gargalhada e vê o passaporte a cair. Durante algum tempo segue Algazel gritando em árabe: “Olhe o seu passaporte, você deixou-o cair.” Mas Algazel de nada se apercebe, tal era a pressa. Então, o Homem-Gargalhada vê-se obrigado a aguardar à porta da casa de banho e é quando Algazel sai e repara num homem de máscara de tons avermelhados, máscara que à primeira vista (e bem) lhe parece ser feita de pétalas de papoila vermelha, estendendo-lhe o seu passaporte que se dá o encontro. O que se passou depois é outra história e nós não pretendemos ser exaustivos. Remetemos, contudo, o leitor interessado para uma obra de consulta obrigatória se quiser saber mais: “Laughing Man and Algazel: a friendship”, Routledge, London, 2007, de Stewart Jenkins e Mary Catholic Church.
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