segunda-feira, maio 28, 2007

Os livros e as mulheres

Olho para as centenas de livros no meu gabinete e apercebo-me que não toquei na maior parte deles depois de os ter lido ou dado uma vista de olhos pela primeira vez. Mas nem sequer considero a hipótese de me desfazer deles – então, e se eu quiser abrir este ou aquele um dia destes? Gastei o meu último dinheiro tanto a adquirir novos livros como em prostitutas. Comprar livros novos é um prazer muito diferente do prazer de ler: examinar, cheirar, folhear um livro novo é a própria felicidade.
Os livros dão-me confiança pela sua disponibilidade, de que posso sempre aproveitar-me se quiser. O mesmo acontece com as mulheres – preciso de muitas delas e têm de se abrir à minha frente como os livros. Na verdade, para mim, os livros e as mulheres são semelhantes de muitas formas. Abrir as páginas de um livro é o mesmo que afastar as pernas de uma mulher – o conhecimento revela-se à nossa vista. Todos os livros têm um odor próprio. Quando abrimos um livro e cheiramos, cheiramos a tinta e é diferente em cada livro. Rasgar as páginas de um livro virgem é um prazer inenarrável. Mesmo um livro estúpido dá-me prazer quando o abro pela primeira vez. Quanto mais esperto for mais me atrai, e a beleza da capa não é importante para mim. Isto não é necessariamente verdade para as mulheres.
Tal como uma mulher se pode vir com qualquer homem habilidoso, assim um livro se abre a qualquer um que lhe pegue. Dará o prazer da sua sabedoria a quem for capaz de o compreender. Por isso sou cioso e não gosto de os dar a ninguém para ler. A minha biblioteca é o meu harém.

Puchkin, Diário Secreto (1836-1837)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bewareeee!!!!

5/29/2007  
Anonymous Anónimo said...

A quem comprenderia ele melhor: aos livros ou às mulheres?

5/29/2007  

Enviar um comentário

<< Home