sábado, junho 09, 2007

A Ideia de Estudo

«... a mais extrema e exemplar incarnação do estudo na nossa cultura não é, nem a do grande filólogo, nem a do doutor da Lei. É antes a do estudante, tal como ele aparece em certos romances de Kafka ou de Walser. O modelo destes é o do estudante de Melville, que passa a vida numa mansarda baixa "em tudo semelhante a um túmulo", os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça entre as mãos. E a sua figura mais acabada é a de Bartleby, o escritor que deixou de escrever. Neste caso, a tensão messiânica do estudo foi invertida, ou antes, está para lá de si mesma. O seu gesto é o de uma potência que não precede o seu acto, mas se lhe segue e o deixou para todo sempre atrás de si: é o gesto de um Talmud que não só renunciou à reconstrução do Templo, mas pura e simplesmente o esqueceu. Deste modo, o estudo liberta-se da tristeza que o desfigurava, para regressar à sua verdadeira natureza: não a obra, mas a inspiração, a alma que se alimenta de si própria.»

Giorgio Agamben, Idea della Prosa