O Homem-Gargalhada Na Cultura Popular-Cinema, parte 1
Todos sabemos que o Homem-Gargalhada exerceu uma tremenda influência sobre Luis Buñuel. Na sua autobiografia, Mon Dernier Soupir, publicada em 1982, Buñuel diz, na página 53, que «tudo o que sou hoje, devo-o ao Homem-Gargalhada».
Todavia, poucos saberão que a sua primeira obra cinematográfica, "Un Chien Andalou", é uma homenagem directa à figura do Homem-Gargalhada.
Isto deve-se a alguns factores: em primeiro lugar, o filme foi co-escrito por Salvador Dali, que não partilhava das simpatias gargalhadianas de Buñuel.
Em segundo lugar, ambos queriam, em 1929, cair nas boas graças das hostes Surrealistas, lideradas pelo inefável Breton. Ora, este era um anti-gargalhadiano por excelência.
Desde o início das filmagens houve pressões de várias ordens, que levaram à diluição da influência directa do Homem-Gargalhada neste projecto.
Tudo começou com o próprio título do filme. Buñuel pretendia chamá-lo "Un Enfant and a Loup"- uma criança e um lobo, numa mistura anglo-francesa. A criança simbolizaria o Homem-Gargalhada, que foi raptado, ainda muito novo, por bandidos chineses. O lobo simbolizaria o seu fiel amigo, Asa Negra que, como todos sabemos, era um lobo cinzento.
Breton vetou de imediato o título do filme. Buñuel surgiu então com o título "Un Chien and a Loup"- um cão e um lobo. O cão representava a natureza dócil do Homem-Gargalhada, que se manifestava diversas vezes (como, por exemplo, na sua recusa em matar os bandidos chineses). O lobo representaria, além do seu fiel amigo Asa Negra, o seu lado selvagem e violento. Face a uma nova recusa de Breton, Buñuel deu-lhe o nome que todos conhecemos: "Un Chien Andalou".
Passemos à temática do filme:
1- A famosa cena do olho cortado (imagem nº1)- como sabemos, os bandidos chineses deformaram a face do Homem-Gargalhada, até a tornar irreconhecível. Esta cena representa a impressão que a sua cara causava a quem o visse. Os estranhos caíam redondos à vista da sua cara horrenda. Como tal, as pessoas não podiam ver o Homem-Gargalhada com os seus próprios olhos. O corte do olho do espectador é simbólico, representando a sua inacessibilidade ao contacto humano.
2- A cena em que a personagem masculina carrega um piano, burros mortos, as Tábuas das Leis e dois padres (imagem nº2) - a maior parte da crítica interpreta-a como um ataque feroz à Igreja. Não tem inteiramente razão. Existe, de facto, um ataque velado ao Clero, mas por outros motivos. Os pais do Homem-Gargalhada eram missionários abastados. Quando este foi raptado, recusaram-se a pagar o resgate, por motivos religiosos. A cena representa ainda a árdua luta do Homem-Gargalhada em busca dos seus objectivos, carregando com o peso dos seus oponentes. Os burros representam a imagem das suas vítimas, que não paravam de atormentar a sua consciência.
Ficamo-nos por aqui. Este texto representa apenas um esboço de um ensaio sobre o Cinema e o Homem-Gargalhada. A segunda parte deste artigo será publicada em Livro, juntamente com uma Edição revista deste Texto, na Editora Objecto Cardíaco, a mesma do João Pedro George. Assim, aproveitem agora para ler este artigo, pois vai ser retirado do blogue na próxima semana.
7 Comments:
Ah, sim, TODOS sabemos!... Todos e mais algúns. Todos, sem dúvida, TODOS. Porque TODOS somos muito cultos e interessados e temos tempo. TODOS gostamos do mesmo e TUDO nos faz sentido e parece bem. TODOS, sem dúvida, TODOS gostamos de ópera e falamos francês.
A unica coisa que TODOS fazemos é bocejar!
Das influências de Buñuel não sei nada, mas sei o que é sinestesia - serve? ;)
Não
te
piques,
miúdo
!
:P
E o ombro do cão não teve que ver também com qualquer coisa, assim tipo, qualquer coisa, não sei bem bem... mas não terá, também, servido de inspiração, hum?
Fodass, ópera é que não se aguenta!
Só se for para abafar os gemidos histéricos de algumas mulheres quando se estão a vir!
Ora, ora...
Se elas sofrem de histerismo é porque têm um grunho em lugar de amante.
Foi essa a conclusão de Freud? Já não me lembro, mas devia ser parecida...
E ainda mais:
tão pouco a propósito, Sr. Grunho;
se houve movimento artístico (ou chamar-lhe-ia mesmo ética!) que elevou as mulheres foi o Surrealismo...
[Perdão aos administradores do Ângulo por ter respondido directamente a um dos comentários, mas teve que ser]
Cara Papillon,
Já devia saber que o ângulo é todo seu. Use e abuse dele. Um dia destes fá-la-emos membro-honorário.
Não vale a pena reagir a grunhos nem a grunhidos.
Atenciosamente,
Seu Ângulo
Oh! :o
Anguloso mas hospitaleiro...
Não, mas não quero ser "abusiva".
Sim, sei que foi redundante responder ao Sr. Grunho.
Mas não é tudo retórica por aqui (blogosfera)?
(não é para responder, é retórica, a pergunta, também).
;)
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