sexta-feira, maio 09, 2008

O Mi Menor Que Queria Ser Dissonante

Havia um mi menor que não gostava da sua condição. Estava farto de ser utilizado nas baladas de adolescentes, e de ser chamado grande malha. Que raio! Tinha de estar sempre a ser conjugado com o dó, o lá e outros que tais. Ainda o irritava mais, quando o utilizavam e faziam, de seguida, um solo estridente na escala de mi menor.
Até que resolveu ser dissonante. Aliou-se ao ré de sétima e ao fá sustenido e elaborou um manifesto artístico, “Da dissonância e aleatoriedade dos acordes musicais – O manifesto”. Contudo, como a situação se mantivesse inalterável, passou à luta activa.
De cada vez que um guitarrista se atrevesse a tocar o acorde de mi menor, apanhava um choque eléctrico. Em breve, vários outros acordes se juntaram à luta. O mi menor reside agora nas notas estridentes, tocadas totalmente ao acaso, ao sabor da trova do vento que passa e não pede licença para soprar, e da desafinação do momento. O seu lema é “tudo pela ordem musical, tudo contra a ordem musical”. E não lhe falem em pautas e escalas. Pode irritar-se e dar-vos uma dentada valente, com aqueles dentes aguçados, capazes de partir pedras (não muito duras, claro está, pois o mi menor não usa dentagard).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Dissonante, mas afinadinho.

5/11/2008  

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