sábado, dezembro 07, 2013

A Bela história de Sernão D'Amortanha




Sernão D'Amortenha marcou presença em todos os grandes eventos bélicos, esteve na invasão da Catalísia e enterrou o estandarte da República dos Jacumecos por terras da Lampareira.
O tio avô militar ensinou-lhe bem cedo os velhos códigos deontorrágicos e a continenciar a remota linha Herbadanainha.
Sernão D'Amortanha sentiu-se arrebatado quando abafou o primeiro nigurunfo, ao espetar a afinadíssima vara do seu tangalote bem no meio do lamboril do incauto sacrispanto, tendo logo  mandado radiante mensagem avisando a sua família distante, numa missiva encriptada colocada nas patas de um pombondengue carroceiro.
O tio avô, satisfeito com o jeito delfínico para varar nigurunfos, matou de uma assentadela dois borregelos e três vacainhos, para comemorar o efemérito. 

Quando Sernão D'Amortanha despachou o terceiro nigurunfo, o seu sangue já não jorrava mais intensamente e uma intensa modorra começava a invadir o espírito endorminhado. Do espólio nigurunfico saqueado apenas lhe interessavam os livros bafurustos e as últimas palavras arrancadas às almas vaporosas das suas vítimas antes do suspiro final., palavras que guardava zelosamente, num recipiente hermeticamente fechado, à prova de fugas de informação, palavras, pensamentos, acções e omissões.

Sernão D'Amortanha arrancou milhões de últimas palavras e engolpinhou de, um longo trago, toda a tradição oralítíca dos nigurunfos.   

Quando já não restava um último nigurunfo para vaporar aos ouvidos de Sernão D'Amortanha, seguiram-se os, sandomílios, os analfabarantos, buzidunguios, carmafélicos, dignorantios, efeméricos, falantrópicos, gugalôcios e muitas outras sub espécies, todas varradas bem no meio do lamboril pelo empedernástico tangalote do digníssimo Sernão D'Amortenha. As suas almas eram pacientemente pentefinadas e guardadas no recipiente.

Coberto de honralhas, com toda a República dos Jacumecos a seus pés, e sem mais sub espécies para tangalotar, Sernão d'Amortanha casou-se com a Bela, filha do Marchimprador e foi viver para o campo, na qualidade de uma respeitável árvore, o que apanhou toda a gente surprevenida, todos esperavam que seguisse a carreira de Imperador, Presidente Alado, Embaixador do Universo junto das galáxias adjuvantes ou que professasse os méritos em escolas militares dos terrenos em redor, mas eis Sernão transformado num frondoso plunvedico zigursférico.

Não foi uma escolha acasada, os plunvedicos zigursféricos são árvores vestustais da pátria d'Amortenha, cantautadas por bardos, poetistas de longas gerações. Reza a lenda que os plunvedicos chegam a atingir os cinco mil anos, o que talvez tenha pesado na escolha de Sernão. Um pequeno passo para a eteriadade, transformar-se em plunvedico zigursférico.

Os plunvedicos dão boas folhas racúrticas, cheias de seivas aloevéricas, boas para curar ecuremas da pele, têm um tronco cheio de madeira forte para produzir em massa mesas cadeiras pranchas rolhas.
(isto desconhecia eu, li-o num panfleto).

 Sernão d'Amortenha enraizou-se no floresmato mais remóspito e tratou de professar os ensinamentos extraídos aos povos varridos pelo tangalote.

A mulher, frustraída, tratou de não o acompanhar na jornada. Não fazendo fé nas palavras, tratou de provar que haverá sempre Bela sem Sernão e amorou-se de varíadissimos pretendentes.

Passaram-se os anos e reza a lenda que Sernão d'Amortenha se especializou nos dotes teatrais. Dizem que é dos melhores declamacantadores do Reino. Mas aqui já entramos no terreno da mitalenda. Isto porque nunca mais se soube nada de Sernão.
Se não existe som de uma árvore a cair na floresta, também não chegam relatos de suas cantórias.
A audiência do Sernão constava apenas de bichos típicos da floresta: ratafungos, ornotopeios, burregalos, perigatos, galinhótamos, rinossauros zibrocerontes.
Os bichos acercam-se de Sernão. Bebem-lhe as palavras ou arrancam-lhe pedaços de tronco? As rolhas de plunvedicos zigursféricos vendem-se agora a 12 zélits o gramilo).

Por dezenas de quilomares na redoria da floresta onde enraizou eternamente, apenas um som se ouve durante as longas noites de luar nascente.
O som de Bela gritando depois de adormecidos os amantes, enquanto olha para todos os horizontes em redor.
"Sernão, Sernão D'Amortenha! Por onde andas tu?".

1 Comments:

Anonymous stay sick said...


Este também está muito bom! Está de digno de Cronópio :)

12/23/2013  

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