segunda-feira, julho 21, 2008

Morângulos com Açúcar: uma comunicação do provedor do bloguespectador

Definitivamente, não foi incólume a onda de protestos que sob variadíssimos dispositivos e formas chegou até à minha pessoa. Não me era estranha a existência de uma blogue-novela de cunho desviante para os mais jovens que andava no ar há já algum tempo. Contive-me durante as sessões contínuas de degradação evidente. Fui-me contendo mesmo em momentos como aquele em que um jovem de conduta que eu denominaria no mínimo atroz, esse tal Alga, assalta o pobre Low com a veemente e reaccionária litania da literatura, do lúgubre mundo do pó dos livros, como um parasita ou um membro da Igreja Mórmon. Um jovem como Low, de espírito livre e aventureiro, por vezes demasiado sensual nos seus rituais, mas, em suma, imerso na jovialidade e na ingenuidade próprias da adolescência foi sempre o modelo que defendi como arquétipo da pedagogia edificante em tele e blogue-novelas da nossa época. Ora, nada me atormentava mais nessa novela, tendo ainda mais em conta o meu papel de provedor, do que a clara e assertiva atitude dos guionistas de, sempre de modo subliminar e por vezes quase intravenoso, tentarem remeter (ou desviar) os jovens bloguers para referências de sabor erudito, muitas vezes recorrendo a citações subtis, a evidentes desvios de leitura, a poesia ou mesmo a elementos do imaginário da cultura de outros tempos, onde é bem de ver nos próprios nomes das personagens. O cúmulo deste comportamento, que eu apelido desde já de degradante, profundamente adverso aos corpos e às mentes da nossa juventude, chega neste último episódio, que suscitou a crítica acérrima dos mais variados quadrantes. Onde já se viu a tentativa de alegorizar, recorrendo a uma ironia mesma, um episódio desta novela tendo por base o ignóbil filme de um certo senhor Ingmar Bergman? Onde está a moral que queremos dar aos nossos filhos quando colocamos uma personagem disfarçada de morte a passear pela praia de Carcavelos desafiando os pobres imberbes a cavalgar ondas atrás de ondas, num desafio que culminaria (se eu permitisse a continuação da emissão dos episódios) com a Sétima Onda, essa sim incavalgável, por trás da qual todos nós sabemos que se iria encontrar o abraço da morte? Será com exemplos destes que os nossos miúdos poderão algum dia vir a saber escutar um bom rap dos Bal'z? A apreciar um bom grafitti numa das paredes do claustro do Mosteiro dos Jerónimos? A bater um coro decente a uma qualquer miúda do calibre da Safinha? Em que país é que estamos?
Vejo-me portanto obrigado a cancelar imediatamente esta blogue-novela, na esperança de que os guionistas a saibam reformular com consciência e bom gosto.

Props pa toda essa gera marada,
Henrique Vaz Veloso