sexta-feira, abril 17, 2009

As Aventuras do Incrível Romualdo Castelo- nº10- As Mensagens de Telemóvel Enguiçadas

Naquela tarde, Romualdo Castelo estava a trocar uma série de mensagens por telemóvel com Marta A., sua amiga de longa data.
Acabara de lhe mandar uma mensagem a confirmar o horário do filme que iam ambos ver, nessa noite, ao cinema, quando recebeu outra mensagem de Marta A., que rezava o seguinte:
- “Amo te. Ouves?”
Mais nada, nenhuma explicação, ou uma nota prévia que explicasse esse assomo amoroso.
Romualdo ficou uns momentos a matutar no que acabara de ler. Conhecia Marta A. há vários anos, e nunca tinha pensado nela como possível namorada. Apesar de tudo, Marta A. até era bastante engraçada.
Romualdo decidiu que seria de mau tom deixar de responder a tal mensagem, tal como achou de mau tom que uma mulher bonita e interessante como Marta A. pudesse não ser correspondida amorosamente. Como tal, respondeu-lhe, com a seguinte mensagem:
- “Eu também te amo, percebes?”
Acabara de lhe mandar essa mensagem, quando recebeu, quase simultaneamente, nova missiva de Marta A., que dizia apenas o seguinte:
-“ Desculpa, Romualdo, enganei-me no número! LOL! O cinema fica combinado para as 22.30, então! Abraço”
Romualdo ficou lívido, compreendendo que tinha metido o pé na poça. Recebeu de imediato, uma mensagem de Marta A.:
- “Amas-me, Romualdo? K conversa é essa? Eu tava a mndar a mensagem p o meu namorado.”
Romualdo ficou uns segundos a pensar. Até que mandou a seguinte resposta:
- “Pensava que a mensagem que tinhas mandado era dirigida a mim, e q tavas a dizer q me amavas, como amigo. Eu respondi que te amo, mas como amigo ou como se fôssemos irmãos. Além disso, tb tenho namorada!! LOOOOL!Bejos”.
Esta mensagem tinha um pequeno senão, para além de ser um pouco rebuscada. O senão consistia no facto de Romualdo não ter, naquele momento, namorada. Por isso, olhou para a sua lista telefónica, e viu o número a seguir ao de Marta A. Tratava-se de Marta D., que também conhecia há alguns anos, não tantos como Marta A., mas, mesmo assim, uma velha amiga, com quem Romualdo tivera, em tempos, um caso. Marta D. era engraçada, e simpatizava bastante com Romualdo, era uma boa altura para lhe pedir em namoro, e para salvar a face perante Marta A., pois, ao namorar com Marta D., Romualdo ficaria com um bom álibi para justificar a anterior resposta por telemóvel.
Com estes pensamentos em mente, Romualdo não tardou em mandar a seguinte mensagem para Marta D:
- “Amo te. Ouves?”
Passado uns minutos, Romualdo recebeu a seguinte mensagem de Marta D:
- “ k é isso,pah? Sabes k simptizo kntigo, mas agora tnho namorado. Tás-me a pô n1 situação difícil”.
Romualdo viu que tinha metido, de novo, o pé na poça. Marta D., além de não poder namorar consigo, naquele momento, sentir-se-ia, a partir de agora, constrangida com toda a situação.
Para piorar as coisas, subsistiam os problemas com Marta A., que mandava, agora, insistentes mensagens, a perguntar quem era a “felizarda” que namorava com Romualdo.
Por isso, tratou de pensar no plano C, e olhou, de novo, para a lista telefónica. Havia uma Marta M., antiga colega de trabalho, que sempre se tinha mostrado muito apaixonada por Romualdo. Contudo, este nunca lhe respondeu ao assédio, devido ao facto de Marta M., mau grado a simpatia, ser pouco atraente fisicamente. Para além disso, tinha uma gaguez aflitiva, que provocava risos descontrolados por parte de Romualdo, sempre que tinham alguma conversa.
Todavia, para salvar duas velhas amizades, Romualdo decidiu sacrificar-se, e dar o grande passo. Para tal, mandou, primeiro, para Marta D., a seguinte mensagem:
- “Oooops! Enganei-me! A mensagem era para outra Marta, a minha namorada! Lolada! Tá tudo bem? Bjx”
De seguida, mandou para Marta M. a já habitual mensagem:
- “Amo te. Ouves?”
Marta M., quando recebeu a mensagem, teve dois minutos e meio de felicidade intensa. Porém, e uma vez que sabia que Romualdo lhe devotava, somente, uma simpatia sarcástica, não tardou em compreender que a mensagem lhe fora, provavelmente, enviada por engano. Até que se lembrou da sua velha amiga, Marta R.
Uma vez, quando Marta M. passeava na rua com Marta R., viu Romualdo a passar, por acaso. Acabaram por tomar café todos juntos, e Marta M. reparou, com raiva, que Marta R. olhava embevecida para Romualdo.
Enfurecida, Marta M., chegou rapidamente à conclusão de que a mensagem se dirigia, provavelmente, para a sua velha amiga. Como tal, mandou a seguinte mensagem a Marta R:
- “Podes ficar com ele, sua porca! A partir de hoje, acabou a nossa amizade”.
Para Romualdo já não mandou mais nenhuma mensagem, pois ficou sem saldo. Romualdo ainda esperou um bocado, sem saber o que fazer, e farto de receber mensagens de Marta A. e Marta D., a perguntarem quem era a sua nova namorada, acabou por deixar o telemóvel em casa, e sair, para ver sozinho, a sessão das 22.30.
Nem se importou muito. Gostava de se sentar nas filas da frente, para ver melhor o ecrã, o que irritava as suas companhias de cinema, que se queixavam de ficar com dores no pescoço.

7 Comments:

Blogger E. A. said...

Sim, ver um filme nas filas da frente é bom remédio para quebrar enguiços! :)

4/17/2009  
Blogger Alberto Colima said...

Ahahahahahaha! O Romualdo é o maior!

4/18/2009  
Blogger Lugones said...

E há vantagens em poder ver filmes sozinho. Dá para uma pessoa se espreguiçar melhor, meter o casaco na cadeira ao lado, e tirar os sapatos, sem problemas de estar a causar má impressão à nossa companhia cinematográfica :)

4/19/2009  
Blogger Fräulein Else said...

http://www.shaviro.com/Blog/?p=740

o último post do Shaviro fala de uma "Pop conference" que houve em Seattle, de edição anual. Talvez lhe/vos interesse.

4/20/2009  
Anonymous de se lhe tirar o chapéu said...

Se bem que há companhias que já nem ligam ao tirar do sapato... :p
Antes isso que mastigar pipocas!

Há personagens que se metem em cada embrulhada... Onde irá Lugones buscar tal inspiração?! :D

Beijo

4/20/2009  
Blogger Lugones said...

Else, fui espreitar esse post, e a tal pop conference, e pareceram-me bastante interessantes.
Cá em Portugal, as coisas, nesse aspecto, ainda estão um pouco incipientes. A escrita pop é considerada arte menor e os próprios músicos têm culpa no cartório, ao olharem com desconfiança para qualquer análise que se faça nesse aspecto. Acham coisa de intelectual.

de se lhe tirar o sapato, vou buscar estas inspirações ao Romualdo! Ele costuma mandar-nos uns mails, a contar as suas peripécias! :)

4/20/2009  
Blogger E. A. said...

Sim, a escrita e música pop é considerada "menor" por ser positivamente distractiva. Mas, eu acredito que a arte das musas é sempre alienante e, assim, será tão alienante Beethoven ou Beatles. :)

4/21/2009  

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