O Party Animal
- Então, foste de férias para alguma ilha no Pacífico?
- Não, porque é que perguntas isso?
- É que o blog anda meio parado…
- Ah, pois…sabes como são estas coisas, no Verão…
- Mas devias actualizar isto…gosto de ter leituras de praia.
- Levas o computador com internet wireless para o meio da areia, é?
- Não desconverses. Não tens nada para contar? Uma anedota? Um entremez com o Romualdo?
- Não tenho falado com o Romualdo. Mas posso contar uma pequena história (sem muita graça, diga-se, de passagem).
- Óptimo! Olha…mas a história não tem mais de 10 linhas, pois não? É que estou de férias, e não gosto de ler textos grandes, e maçudos…
- Por acaso tem mais de 10 linhas. Mas vou tentar abreviá-la ao máximo…
- Faz-me esse favor, agradecia imenso! De qualquer forma, vou lendo aos poucos, 10 linhas por dia, para ir mantendo a cabeça ocupada.
- Fica combinado, então. Olha, vou-te contar o que aconteceu ao Rogério S. Lembras-te dele?
- Rogério S.? Não estou a ver quem é…vamos fazer uma coisa…vais contando a história, oralmente…depois reduzes tudo a escrito, e será mais fácil para mim ler tudo de seguida, sabendo, mais ou menos do que se trata…podes começar, estou a ouvir.
Ok…O Rogério S. era um Party Animal. Conheces o termo, não? Nas festas em que participava, mesmo naquelas onde não seria, supostamente, a personagem principal, acabava por brilhar gloriosamente. Foi o caso, por exemplo, do casamento do seu velho amigo André. No final da festa, todos aplaudiam e aclamavam o Rogério S., incluindo a noiva, e já ninguém se lembrava que acontecimento estava a ser festejado.
O próprio Rogério S. casou, numa bela tarde de Verão, apenas para ter o prazer de ser o anfitrião da maior festa da década. E o seu casamento não foi a maior festa da década porque foi suplantado pela magnífica festa de divórcio, organizada 3 meses depois, como pretexto para a rentrèe, depois das férias.
Como Rogério não foi baptizado em pequeno, logo tratou de arranjar a mais brilhante festa de baptizado do Século, tendo para isso, mandado encerrar várias praias inteiras, para se banhar mais à vontade no Oceano, enquanto era iniciado na fé Cristã, entre um maralhal de amigos entusiastas. Depois, mandou o padre benzer centenas de garrafas de vinho, antes de se embebedar com o sangue de Cristo.
- Agora que falas nisso, acho que fui a essa festa. Foi há quanto tempo?
- Não sei, não me lembro. Mas deixa-me continuar. Estava a dizer que o Rogério era a alma de todas as festas. Mas, no meio de toda esta contagiante alegria e entusiasmo, ele guardava um crescente rancor relativamente a uma Cerimónia específica: de entre todas as festas onde fora o Rei, apenas lhe faltava organizar uma: o seu próprio velório. Achava intolerável não poder estar consciente nesse momento tão importante. Por isso, depois de pensar um pouco, acabou por resolver o assunto de uma forma prática. Avisou o Ricardo, o seu melhor amigo, e contou-lhe o plano: Rogério ia forjar a sua própria morte. Para isso, contava com a preciosa ajuda de Ricardo, a única pessoa que iria ter conhecimento da farsa. Rogério ia arrendar uma grande sala numa Casa Mortuária junto à igreja do seu bairro. Iria, também, comprar um caixão, que colocaria no meio da sala, e onde se enfiaria, durante parte da noite, enquanto chegassem os convidados. Ricardo diria a todos os amigos de Rogério que este falecera, de véspera, pedindo-os para comparecerem. No momento em que estivessem todos a carpir as suas mágoas, o caixão abrir-se-ia, ao som de uma música qualquer, e sairia de lá Rogério, o Party Animal, apenas para começar a dançar com todos os convidados, que cairiam a seus braços, mal soubessem que estava vivo.
- Ah ah! Bela ideia! E levou o seu plano avante?
- Claro! Apesar dos protestos do Ricardo, que o avisou que os amigos iriam ficar furiosos. Mas o Rogério insistiu.
-Não sei que música escolheria para abrir a pista….talvez o Highway to Hell”…O que achas?
- Eu escolheria o “nº1 Song In Heaven”, dos Sparks. Mas continuemos com a história: numa bela tarde primaveril, Ricardo comunicou a centenas de pessoas a tristíssima notícia do falecimento de Rogério S., e o subsequente velório, marcado para as 22 horas, em ponto.
Ricardo abriu um evento especial na sua página de Facebook, com o título “Rogério S.- a Morte do Século - Velório, Hoje, às 22 horas”. Na mesma página, não se esquecia de pedir a todos que trouxessem muitas garrafas de bebidas alcoólicas “em memória do nosso querido amigo, que haveria de gostar disto”.
- Isto faz-me lembrar as últimas palavras do Picasso. Sabes quais foram?
- Sei. “Bebam por mim”, e mais não sei o quê. Adiante. Pelas 22 horas, já quase ninguém cabia na enorme Capela Mortuária. Não faltou nenhum dos amigos, familiares e antigas namoradas de Rogério S. Estavam inconsoláveis. Ajoelharam-se, durante vários minutos, junto ao caixão, a chorar. Depois, começaram a contar as histórias mais excepcionais do defunto. Rogério, que ouvia todas as conversas, dentro do caixão, estava encantado, com todas essas maravilhosas palavras de apreço, e apeteceu-lhe levantar-se, para abraçar todos os seus amigos. Mas conteve-se. Preferiu aguardar mais um bocado, pelo momento mais oportuno.
Até que começou a intervenção do Ricardo. Lembro-te que o Ricardo era o melhor amigo de Rogério, e durante todos esses anos, funcionara como o seu testa de ferro, a sombra perfeita, que nunca se evidenciava perante os amigos, face à gigante personalidade de Rogério. Mas nessa noite, face à indisponibilidade do suposto defunto, teve de fazer as honras da casa. E safou-se muito bem. Começou por consolar todos os seus amigos, dizendo que Rogério os “deveria estar, de certeza a ver, e que desejaria que eles se divertissem muito”. Abriu várias garrafas de vinho, e começou a distribuir copos por todos. Depois, começou a contar histórias divertidas do falecido. Após alguns minutos, já todos se riam.
Foi o momento apropriado para Ricardo buscar a sua guitarra, e começar a cantar alguns temas, “em memória de Rogério”. À segunda música já todos batiam palmas. Depois da quarta canção, Ricardo chamou várias amigas de Rogério para fazerem uns duetos consigo, convite esse que foi bem aceite por todas. Abriu a pista, e começaram todos a dançar em volta do caixão. Alguns preferiam dançar aos pares, outros imitavam Rogério S., tudo numa enorme animação.
Os fantásticos (e surpreendentes) dotes de Ricardo para tocar, cantar e dizer anedotas, aliados à enorme quantidade de álcool ingerido por todos, tornaram a festa extremamente animada. Até havia algumas pessoas a dançar em cima do caixão, como se estivessem em cima de alguma coluna de uma discoteca.
- Então, e o Rogério? Nunca mais saía do caixão?
- Pois, parece-me que o Rogério se sentia, no mínimo, um pouco confundido, e não devia saber muito bem o que se passava. Mas lá acabou por se levantar, aproveitando um momento em que os bailarinos que estavam em cima do caixão foram à casa de banho. Ao princípio, ninguém reparou na sua presença. Mas lá conseguiu chegar à mesa de DJ, e colocar uma música qualquer, talvez o Stairway To Heaven, ou outra coisa do género. As pessoas olharam, para ele, ao sentirem que havia um som a sobrepor-se à música do Ricardo.
Quando repararam de quem se tratava, olharam, espantadas, sem entender nada do que se passava. Mas não ficaram demasiado satisfeitas, ao contrário do que pensara o Rogério.
- Mas porquê? Não gostavam dele? Ou teriam ficado habituadas à ideia de que ele tinha morrido, e o seu reaparecimento só serviu para reabrir feridas antigas?
- Oh, sei lá... Estou só a contar a história, abstenho-me de dar interpretações. Isso fica para os ouvintes e leitores. Olha, mas vou abreviar a história. Conto só os factos essenciais: 1- O Rogério começou a pôr música; 2- os amigos foram ter com ele, para tirar satisfações; 3- O Rogério contou a história atrás mencionada, cada vez mais atrapalhado, por ver que os amigos não achavam graça à sua pequena brincadeira; 4- acabaram todos por lhe dar uns tímidos abraços; 5- O Rogério continuou a pôr música, mas poucas pessoas dançavam. A maioria dos presentes foi para o pé de Ricardo, que deixara de dar o seu concerto, e fazia, agora, também, o seu DJ Set; 6- face ao que se sucedia na sala, Rogério meteu a música cada vez mais alto; 7- Ricardo meteu, também, por sua vez, a música mais alto.
- E como é que tudo acabou?
- A certa altura, apareceu um Funcionário da Casa Mortuária, que ficou, passe a piada fácil, “mortificado” com o ambiente vivido dentro da sala.
-Ahah! Calculo! O que é que ele disse?
- Disse: “pensava que se tratava de um velório, mas afinal estou a ver duas pessoas a meter música aos altos berros, outras a dançar bêbedas, e acima de tudo…vejo um caixão aberto, sem nenhum corpo lá dentro. Uma vez que não há corpo, não há velório, e vou ter de fechar a sala”.
Os presentes fizeram um ar consternado. Afinal, até se estavam a divertir e ainda era cedo. Como tal, acercaram-se do solícito Funcionário, e disseram-lhe:
- Está enganado, senhor. Há, de facto, um corpo dentro desta sala, e estamos a velá-lo.
- “Mas onde é que está o corpo?”, perguntou o atónito Funcionário.
- Ali!
Todos os presentes apontaram para Rogério. Este, por uns momentos, ficou espantado, e continuou a meter música. Mas ao ver que ninguém dançava e que continuavam todos a olhar fixamente para si, acabou por desligar a aparelhagem. Depois, com um ar triste, foi ter com os seus amigos, e despediu-se, individualmente, de cada um. Houve lágrimas, e todos o abraçaram, efusivamente. Em seguida, Rogério entrou no caixão, deitou-se, e fechou a tampa, com a ajuda dos seus amigos. Antes de fechar os olhos, ainda reparou que Ricardo voltara a meter música. E pronto, é esta a história.
- É bonita. Vais escrevê-la?
- Acho que não. Vou para a praia.
- Fazes bem. Apareces lá no Bar Galhada, logo à noite?
- Claro! Gostava que me ajudassem a escrever uma letra pop, em português.
- Isso é uma óptima ideia! Ainda podes ir a festivais de Verão, e tudo!
- Eu sei! Além disso, estive a falar com os tipos da Flor Caveira, e eles precisam de arranjar mais uns Pastores Baptistas para a Editora.
- Já te converteste?
- Vou-me converter amanhã, já combinei com o Tiago Guillul. Podes ir assistir. Eu mandei, de resto, convites pelo Facebook para todo o pessoal.
-Boa! E vai haver música?
- Claro! Música, animação, e muita poética rock.
-Lá estarei!
- Não, porque é que perguntas isso?
- É que o blog anda meio parado…
- Ah, pois…sabes como são estas coisas, no Verão…
- Mas devias actualizar isto…gosto de ter leituras de praia.
- Levas o computador com internet wireless para o meio da areia, é?
- Não desconverses. Não tens nada para contar? Uma anedota? Um entremez com o Romualdo?
- Não tenho falado com o Romualdo. Mas posso contar uma pequena história (sem muita graça, diga-se, de passagem).
- Óptimo! Olha…mas a história não tem mais de 10 linhas, pois não? É que estou de férias, e não gosto de ler textos grandes, e maçudos…
- Por acaso tem mais de 10 linhas. Mas vou tentar abreviá-la ao máximo…
- Faz-me esse favor, agradecia imenso! De qualquer forma, vou lendo aos poucos, 10 linhas por dia, para ir mantendo a cabeça ocupada.
- Fica combinado, então. Olha, vou-te contar o que aconteceu ao Rogério S. Lembras-te dele?
- Rogério S.? Não estou a ver quem é…vamos fazer uma coisa…vais contando a história, oralmente…depois reduzes tudo a escrito, e será mais fácil para mim ler tudo de seguida, sabendo, mais ou menos do que se trata…podes começar, estou a ouvir.
Ok…O Rogério S. era um Party Animal. Conheces o termo, não? Nas festas em que participava, mesmo naquelas onde não seria, supostamente, a personagem principal, acabava por brilhar gloriosamente. Foi o caso, por exemplo, do casamento do seu velho amigo André. No final da festa, todos aplaudiam e aclamavam o Rogério S., incluindo a noiva, e já ninguém se lembrava que acontecimento estava a ser festejado.
O próprio Rogério S. casou, numa bela tarde de Verão, apenas para ter o prazer de ser o anfitrião da maior festa da década. E o seu casamento não foi a maior festa da década porque foi suplantado pela magnífica festa de divórcio, organizada 3 meses depois, como pretexto para a rentrèe, depois das férias.
Como Rogério não foi baptizado em pequeno, logo tratou de arranjar a mais brilhante festa de baptizado do Século, tendo para isso, mandado encerrar várias praias inteiras, para se banhar mais à vontade no Oceano, enquanto era iniciado na fé Cristã, entre um maralhal de amigos entusiastas. Depois, mandou o padre benzer centenas de garrafas de vinho, antes de se embebedar com o sangue de Cristo.
- Agora que falas nisso, acho que fui a essa festa. Foi há quanto tempo?
- Não sei, não me lembro. Mas deixa-me continuar. Estava a dizer que o Rogério era a alma de todas as festas. Mas, no meio de toda esta contagiante alegria e entusiasmo, ele guardava um crescente rancor relativamente a uma Cerimónia específica: de entre todas as festas onde fora o Rei, apenas lhe faltava organizar uma: o seu próprio velório. Achava intolerável não poder estar consciente nesse momento tão importante. Por isso, depois de pensar um pouco, acabou por resolver o assunto de uma forma prática. Avisou o Ricardo, o seu melhor amigo, e contou-lhe o plano: Rogério ia forjar a sua própria morte. Para isso, contava com a preciosa ajuda de Ricardo, a única pessoa que iria ter conhecimento da farsa. Rogério ia arrendar uma grande sala numa Casa Mortuária junto à igreja do seu bairro. Iria, também, comprar um caixão, que colocaria no meio da sala, e onde se enfiaria, durante parte da noite, enquanto chegassem os convidados. Ricardo diria a todos os amigos de Rogério que este falecera, de véspera, pedindo-os para comparecerem. No momento em que estivessem todos a carpir as suas mágoas, o caixão abrir-se-ia, ao som de uma música qualquer, e sairia de lá Rogério, o Party Animal, apenas para começar a dançar com todos os convidados, que cairiam a seus braços, mal soubessem que estava vivo.
- Ah ah! Bela ideia! E levou o seu plano avante?
- Claro! Apesar dos protestos do Ricardo, que o avisou que os amigos iriam ficar furiosos. Mas o Rogério insistiu.
-Não sei que música escolheria para abrir a pista….talvez o Highway to Hell”…O que achas?
- Eu escolheria o “nº1 Song In Heaven”, dos Sparks. Mas continuemos com a história: numa bela tarde primaveril, Ricardo comunicou a centenas de pessoas a tristíssima notícia do falecimento de Rogério S., e o subsequente velório, marcado para as 22 horas, em ponto.
Ricardo abriu um evento especial na sua página de Facebook, com o título “Rogério S.- a Morte do Século - Velório, Hoje, às 22 horas”. Na mesma página, não se esquecia de pedir a todos que trouxessem muitas garrafas de bebidas alcoólicas “em memória do nosso querido amigo, que haveria de gostar disto”.
- Isto faz-me lembrar as últimas palavras do Picasso. Sabes quais foram?
- Sei. “Bebam por mim”, e mais não sei o quê. Adiante. Pelas 22 horas, já quase ninguém cabia na enorme Capela Mortuária. Não faltou nenhum dos amigos, familiares e antigas namoradas de Rogério S. Estavam inconsoláveis. Ajoelharam-se, durante vários minutos, junto ao caixão, a chorar. Depois, começaram a contar as histórias mais excepcionais do defunto. Rogério, que ouvia todas as conversas, dentro do caixão, estava encantado, com todas essas maravilhosas palavras de apreço, e apeteceu-lhe levantar-se, para abraçar todos os seus amigos. Mas conteve-se. Preferiu aguardar mais um bocado, pelo momento mais oportuno.
Até que começou a intervenção do Ricardo. Lembro-te que o Ricardo era o melhor amigo de Rogério, e durante todos esses anos, funcionara como o seu testa de ferro, a sombra perfeita, que nunca se evidenciava perante os amigos, face à gigante personalidade de Rogério. Mas nessa noite, face à indisponibilidade do suposto defunto, teve de fazer as honras da casa. E safou-se muito bem. Começou por consolar todos os seus amigos, dizendo que Rogério os “deveria estar, de certeza a ver, e que desejaria que eles se divertissem muito”. Abriu várias garrafas de vinho, e começou a distribuir copos por todos. Depois, começou a contar histórias divertidas do falecido. Após alguns minutos, já todos se riam.
Foi o momento apropriado para Ricardo buscar a sua guitarra, e começar a cantar alguns temas, “em memória de Rogério”. À segunda música já todos batiam palmas. Depois da quarta canção, Ricardo chamou várias amigas de Rogério para fazerem uns duetos consigo, convite esse que foi bem aceite por todas. Abriu a pista, e começaram todos a dançar em volta do caixão. Alguns preferiam dançar aos pares, outros imitavam Rogério S., tudo numa enorme animação.
Os fantásticos (e surpreendentes) dotes de Ricardo para tocar, cantar e dizer anedotas, aliados à enorme quantidade de álcool ingerido por todos, tornaram a festa extremamente animada. Até havia algumas pessoas a dançar em cima do caixão, como se estivessem em cima de alguma coluna de uma discoteca.
- Então, e o Rogério? Nunca mais saía do caixão?
- Pois, parece-me que o Rogério se sentia, no mínimo, um pouco confundido, e não devia saber muito bem o que se passava. Mas lá acabou por se levantar, aproveitando um momento em que os bailarinos que estavam em cima do caixão foram à casa de banho. Ao princípio, ninguém reparou na sua presença. Mas lá conseguiu chegar à mesa de DJ, e colocar uma música qualquer, talvez o Stairway To Heaven, ou outra coisa do género. As pessoas olharam, para ele, ao sentirem que havia um som a sobrepor-se à música do Ricardo.
Quando repararam de quem se tratava, olharam, espantadas, sem entender nada do que se passava. Mas não ficaram demasiado satisfeitas, ao contrário do que pensara o Rogério.
- Mas porquê? Não gostavam dele? Ou teriam ficado habituadas à ideia de que ele tinha morrido, e o seu reaparecimento só serviu para reabrir feridas antigas?
- Oh, sei lá... Estou só a contar a história, abstenho-me de dar interpretações. Isso fica para os ouvintes e leitores. Olha, mas vou abreviar a história. Conto só os factos essenciais: 1- O Rogério começou a pôr música; 2- os amigos foram ter com ele, para tirar satisfações; 3- O Rogério contou a história atrás mencionada, cada vez mais atrapalhado, por ver que os amigos não achavam graça à sua pequena brincadeira; 4- acabaram todos por lhe dar uns tímidos abraços; 5- O Rogério continuou a pôr música, mas poucas pessoas dançavam. A maioria dos presentes foi para o pé de Ricardo, que deixara de dar o seu concerto, e fazia, agora, também, o seu DJ Set; 6- face ao que se sucedia na sala, Rogério meteu a música cada vez mais alto; 7- Ricardo meteu, também, por sua vez, a música mais alto.
- E como é que tudo acabou?
- A certa altura, apareceu um Funcionário da Casa Mortuária, que ficou, passe a piada fácil, “mortificado” com o ambiente vivido dentro da sala.
-Ahah! Calculo! O que é que ele disse?
- Disse: “pensava que se tratava de um velório, mas afinal estou a ver duas pessoas a meter música aos altos berros, outras a dançar bêbedas, e acima de tudo…vejo um caixão aberto, sem nenhum corpo lá dentro. Uma vez que não há corpo, não há velório, e vou ter de fechar a sala”.
Os presentes fizeram um ar consternado. Afinal, até se estavam a divertir e ainda era cedo. Como tal, acercaram-se do solícito Funcionário, e disseram-lhe:
- Está enganado, senhor. Há, de facto, um corpo dentro desta sala, e estamos a velá-lo.
- “Mas onde é que está o corpo?”, perguntou o atónito Funcionário.
- Ali!
Todos os presentes apontaram para Rogério. Este, por uns momentos, ficou espantado, e continuou a meter música. Mas ao ver que ninguém dançava e que continuavam todos a olhar fixamente para si, acabou por desligar a aparelhagem. Depois, com um ar triste, foi ter com os seus amigos, e despediu-se, individualmente, de cada um. Houve lágrimas, e todos o abraçaram, efusivamente. Em seguida, Rogério entrou no caixão, deitou-se, e fechou a tampa, com a ajuda dos seus amigos. Antes de fechar os olhos, ainda reparou que Ricardo voltara a meter música. E pronto, é esta a história.
- É bonita. Vais escrevê-la?
- Acho que não. Vou para a praia.
- Fazes bem. Apareces lá no Bar Galhada, logo à noite?
- Claro! Gostava que me ajudassem a escrever uma letra pop, em português.
- Isso é uma óptima ideia! Ainda podes ir a festivais de Verão, e tudo!
- Eu sei! Além disso, estive a falar com os tipos da Flor Caveira, e eles precisam de arranjar mais uns Pastores Baptistas para a Editora.
- Já te converteste?
- Vou-me converter amanhã, já combinei com o Tiago Guillul. Podes ir assistir. Eu mandei, de resto, convites pelo Facebook para todo o pessoal.
-Boa! E vai haver música?
- Claro! Música, animação, e muita poética rock.
-Lá estarei!
12 Comments:
Os Flor Caveira tb aceitam hereges, pelo menos assim o escreveram no myspace e adicionaram-me: «Os artistas da FlorCaveira são cristãos sérios. Promovem activa e intermitentemente mensagens religiosas com fins proselitistas (actualização de 2008: o catálogo compreende agora também 2 católicos e 1 pagão).» :D
Ahah!
Estava apenas a picá-los, amigavelmente :)
Até simpatizo com os músicos dessa editora.
Mas é uma boa informação para o narrador, talvez não precise de se converter, afinal :)
Ya, e foi curioso q acabei de descobrir q acho q o «pagão» q eles referem sou eu, porque qd os adicionei, por graça, e porque tb simpatizei com eles, ainda que ñ seja religioso nem sequer a favor de religiões, mto menos cristãs, fi-lo apresentando-me pagão, tb para me meter com eles; e hoje, devido ao seu post, deparei, no myspace deles, com o que cito acima eheh. Os bons cristãos ñ fecham a porta a ninguém :)
Ahah! Também fui espreitar o myspace deles, e apreciei o fino sentido de humor!
Fiquei reconfortado com o facto de tratarem todos os seus ouvintes com toda a solidariedade mediterrânica.
Só por curiosidade: o caro amigo Tiago também é músico?
Não sou músico, mas toco guitarra desde os meus 14/15 anos. Aprendi durante quatro anos, depois desleixei-me e prossegui apenas por gozo, até hoje. Pelo que, dou uns toques, mas não sou digno desse título: músico :)
À procura de uma canção sobre amores de verão, essa moda da estação, sr. trapalhão?
És muito engraçadão e primas pela boa observação, mas volta e meia, também, és um bocado ressentidão.
(já estou farta da rima em ão, joão coração, tim balalão e com esta me vão :p :p :p)
O João Coração é interessante!
Sim, concordo com a Else. Tem charme, sentido de humor e uma carinha laroca. Também é bastante prolífero, ouviu os discos "certos" na adolescência e, por vezes, parece conhecer a musicalidade do verso para além do convencional. Nem sempre se aguenta à bronca, mas volta e meia surpreende.
Também acho graça ao moço. Tive a oportunidade de o ver ao vivo pela primeira vez, e gostei.
Ena! O Party Animal és tu! :D
Boas férias!
(silly season :p)
Epá, ó joana banana, espero não ter muito a ver com esse party animal, uma personagem trágico-patética!
Low, só fiz uso do título do post... mas serviu-te a carapuça, foi? :p
Enviar um comentário
<< Home