Contos de Verão - Volume 1
A minha namorada tem um rabo-de-cavalo, mas só reparei nisso quando fomos à praia, uns dias depois do nosso primeiro encontro.
Quando a vi, de bikini, olhei para a extensão posterior, da coluna vertebral, situado na sua posição dorsal, e perguntei-lhe:
- Tens uma cauda?
Ao que me respondeu, com um leve desprezo:
- Não é uma cauda, é um rabo-de-cavalo.
Mudei rapidamente de conversa. Estava uma bela tarde de sol, metemo-nos na água, que se apresentava a uma temperatura deveras agradável. Nadámos durante meia hora, e ensinei-a a fazer o pino.
Vendo-a, de perto, depressa constatei, que a informação que me prestara, de que possuía um rabo-de-cavalo, estava incorrecta.
A cauda da minha namorada é mais curta, e mais estreita, do que as caudas dos cavalos. O tipo de pêlo também é um pouco diferente. Poderíamos, quando muito, chamar-lhe crina pois, segundo o Dicionário, a crina, sendo um tipo de pelagem presente nos equídeos, como o cavalo, ou as zebras, também se pode encontrar em pêlos de outros animais, como os gatos, ou as galinhas.
Confesso, desde já, que não sei muito bem qual é a diferença entre “cauda” e “crina”. Serão as crinas um tipo específico de caudas?
Não sei a resposta, tal como não sei a diferença entre encarnado e vermelho.
Esta questão foi levantada durante a nossa conversa, ocorrida uma hora mais tarde, na esplanada. A minha namorada teimava em afirmar que encarnado é uma cor diferente de vermelho. Discutíamos isso, enquanto assistíamos à operação de resgate de uma pequena criança de oito anos, que acabara de cair de uma ravina de 30 metros, junto à praia.
Quando lhe disse que a areia tinha ficado vermelha, com a cor do sangue da criança, ela respondeu-me, com um leve desprezo:
- A areia não está vermelha, está encarnada.
Adiante. Vocês conhecem, de certeza, aquela expressão que diz que “os olhos são o espelho da alma”.
No caso da minha namorada, que só tem um olho, poderia, quando muito, dizer que o seu olho é o espelho da alma.
Eu chamo-a, às vezes, Ciclope, na brincadeira.
Ao que ela responde, com um leve desprezo:
- Não sou Ciclope, os Ciclopes eram gigantes imortais, com um só olho no meio da testa, e o meu olho fica do lado esquerdo da cabeça.
Não riposto. A minha namorada tem, de facto, o seu olho do lado esquerdo da cabeça. Mas, para ser mais exacto, ela nunca poderia ser um Ciclope. Tem dois metros e meio de altura, é um facto, mas não é imortal.
Até porque sei que a mãe dela já morreu, fomos visitá-la outro dia, ao Museu de História Natural.
Olhámos para a redoma, onde estava depositada a minha sogra.
Quando perguntei à minha namorada se a sua mãe era uma múmia, respondeu-me, com um leve desprezo:
- Não sejas parvo, querido, as múmias são cadáveres que são embalsamados. Não foi o que se passou com a minha mãe, que morreu na queda de um glaciar, quando andava à caça de dinossauros.
Não preciso de observar o olho da minha namorada, para saber o que lhe vai na alma.
Sei que está satisfeita, quando começa a abanar o rabo, quando vamos, por exemplo, à Feira Popular, para comer farturas.
Nesses momentos, a minha namorada torna-se impulsiva, e pede-me para a levar, rapidamente a casa, para fazermos o amor.
Com a pressa, ao entrarmos em casa, costumo fechar a porta, com força.
A minha namorada solta um grito, e pergunto-lhe, sobressaltado:
- Desculpa, querida, magoei-te a cauda?
Ao que ela me responde, com um leve desprezo:
- Oh querido, quantas vezes já te disse que não é uma cauda, é um rabo-de-cavalo??
Gosto muito da minha namorada, e quero que o nosso relacionamento se torne mais sério. Ela pede-me para ter um emprego mais estável, e que me vista melhor. Quando a vou buscar ao trabalho, as colegas dela comentam a minha indumentária, e criticam-me por andar com a camisa por fora das calças.
“E corta-me esse cabelo, por favor!”, diz-me a minha namorada.
“Mas eu gosto de andar de rabo-de-cavalo”, respondo.
Ao que ela me responde, com um leve desprezo:
- Chamas a isso um rabo-de-cavalo?
Rio-me, dou-lhe a mão, e seguimos para a Feira Popular, a tempo de comermos uma fartura.
Quando a vi, de bikini, olhei para a extensão posterior, da coluna vertebral, situado na sua posição dorsal, e perguntei-lhe:
- Tens uma cauda?
Ao que me respondeu, com um leve desprezo:
- Não é uma cauda, é um rabo-de-cavalo.
Mudei rapidamente de conversa. Estava uma bela tarde de sol, metemo-nos na água, que se apresentava a uma temperatura deveras agradável. Nadámos durante meia hora, e ensinei-a a fazer o pino.
Vendo-a, de perto, depressa constatei, que a informação que me prestara, de que possuía um rabo-de-cavalo, estava incorrecta.
A cauda da minha namorada é mais curta, e mais estreita, do que as caudas dos cavalos. O tipo de pêlo também é um pouco diferente. Poderíamos, quando muito, chamar-lhe crina pois, segundo o Dicionário, a crina, sendo um tipo de pelagem presente nos equídeos, como o cavalo, ou as zebras, também se pode encontrar em pêlos de outros animais, como os gatos, ou as galinhas.
Confesso, desde já, que não sei muito bem qual é a diferença entre “cauda” e “crina”. Serão as crinas um tipo específico de caudas?
Não sei a resposta, tal como não sei a diferença entre encarnado e vermelho.
Esta questão foi levantada durante a nossa conversa, ocorrida uma hora mais tarde, na esplanada. A minha namorada teimava em afirmar que encarnado é uma cor diferente de vermelho. Discutíamos isso, enquanto assistíamos à operação de resgate de uma pequena criança de oito anos, que acabara de cair de uma ravina de 30 metros, junto à praia.
Quando lhe disse que a areia tinha ficado vermelha, com a cor do sangue da criança, ela respondeu-me, com um leve desprezo:
- A areia não está vermelha, está encarnada.
Adiante. Vocês conhecem, de certeza, aquela expressão que diz que “os olhos são o espelho da alma”.
No caso da minha namorada, que só tem um olho, poderia, quando muito, dizer que o seu olho é o espelho da alma.
Eu chamo-a, às vezes, Ciclope, na brincadeira.
Ao que ela responde, com um leve desprezo:
- Não sou Ciclope, os Ciclopes eram gigantes imortais, com um só olho no meio da testa, e o meu olho fica do lado esquerdo da cabeça.
Não riposto. A minha namorada tem, de facto, o seu olho do lado esquerdo da cabeça. Mas, para ser mais exacto, ela nunca poderia ser um Ciclope. Tem dois metros e meio de altura, é um facto, mas não é imortal.
Até porque sei que a mãe dela já morreu, fomos visitá-la outro dia, ao Museu de História Natural.
Olhámos para a redoma, onde estava depositada a minha sogra.
Quando perguntei à minha namorada se a sua mãe era uma múmia, respondeu-me, com um leve desprezo:
- Não sejas parvo, querido, as múmias são cadáveres que são embalsamados. Não foi o que se passou com a minha mãe, que morreu na queda de um glaciar, quando andava à caça de dinossauros.
Não preciso de observar o olho da minha namorada, para saber o que lhe vai na alma.
Sei que está satisfeita, quando começa a abanar o rabo, quando vamos, por exemplo, à Feira Popular, para comer farturas.
Nesses momentos, a minha namorada torna-se impulsiva, e pede-me para a levar, rapidamente a casa, para fazermos o amor.
Com a pressa, ao entrarmos em casa, costumo fechar a porta, com força.
A minha namorada solta um grito, e pergunto-lhe, sobressaltado:
- Desculpa, querida, magoei-te a cauda?
Ao que ela me responde, com um leve desprezo:
- Oh querido, quantas vezes já te disse que não é uma cauda, é um rabo-de-cavalo??
Gosto muito da minha namorada, e quero que o nosso relacionamento se torne mais sério. Ela pede-me para ter um emprego mais estável, e que me vista melhor. Quando a vou buscar ao trabalho, as colegas dela comentam a minha indumentária, e criticam-me por andar com a camisa por fora das calças.
“E corta-me esse cabelo, por favor!”, diz-me a minha namorada.
“Mas eu gosto de andar de rabo-de-cavalo”, respondo.
Ao que ela me responde, com um leve desprezo:
- Chamas a isso um rabo-de-cavalo?
Rio-me, dou-lhe a mão, e seguimos para a Feira Popular, a tempo de comermos uma fartura.