segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny

ESTAÇÃO

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça


Como já terão lido nas notícias, morreu Mário Cesariny.
Para os que residem na zona de Lisboa, aconselho que visitem a Perve Galeria, na Rua das Escolas Gerais, em Alfama. Para além de ter em exibição várias pinturas recentes de Cesariny, feitas em colaboração com Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, a Galeria lançou recentemente a edição em serigrafia de um díptico do autor, intitulado "Londres-Ucránia" (200 exemplares assinados e numerados pelo autor).
A Perve Galeria disponibiliza ainda o seu último livro de Pintura e Poesia "Timothy McVeigh- O Condenado à Morte".

quinta-feira, novembro 23, 2006

Perfume



Já que a nossa amiga Safo anda numa de "VJ de serviço", aproveito também para deixar aqui uma das últimas pérolas delirantes dessa dupla de génios mutantes chamados Sparks.

Perfume

Geneviève wears Dior
Margaret wears Trésor
Mary Jo wears Lauren
But you don't wear no perfume

Deborah wears Clinique
Marianne wears Mystique
Judith wears Shalimar
But you don't wear no perfume

That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you

Anna wears CK1
Jeanie wears Opium
Trisha wears No.5
But you don't wear no perfume

Susan wears St. Laurent
Janie wears L'Air du Temps
Kirstin wears Davidoff
But you don't wear no perfume

That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you

The olefactory sense is the sense
that most strongly evokes memories of the past
Well screw the past

That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you

Geneviève wears Hermès
Annabelle wears Arpège
Betty Lee wears Guérlain
But you don't wear no perfume

Katie wears Giorgio
Lily wears Moschino
Jenna wears Kenneth Cole
But you don't wear no perfume

That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you

Carol wears Cacharel
Lana wears Tommy Girl
Cynthia wears J'Adore
But you don't wear no perfume

Jennifer wears Céline
Laura wears Armani
Deborah wears Polo Sport
But you don't wear no perfume

Gina wears Vera Wang
Sheila wears Helmut Lang
Dinah wears Oxygene
But you don't wear no perfume

Jody wears Gaultier
Peggy wears Jean Patou
Stella wears Lagerfeld
But you don't wear no perfume

That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you
That's why I want to spend my life with you

Sinusoidal da sincronias possíveis

Se tomarmos o tempo segundo um modelo mecânico-vectorial, temos um campo heterogéneo formado por linhas concorrentes. Como se sabe, através da matemática euclidiana básica, o ponto é a confluência de (pelo menos) duas linhas. É óbvio que nem sempre a distribuição pontual é antecipável – o destino é justamente esta distribuição aleatória das linhas segundo direcções e sentidos múltiplos. O melhor modelo seria até assumi-lo a três dimensões: o enviesamento torna-se mais complexo e menos calculável – há cruzamentos de linhas que são radicalmente indetermináveis com exactidão – e, diga-se até, muito pouco convenientes!! Deseja-se um esquema e tem-se uma algaraviada. É claro que é possível – e desejável! – tentar actuar mecanicamente sobre esta distribuição aleatória – paradoxo. Questão essencial: será que uma distribuição pontual determina distribuições pontuais outras? Se assumirmos a radical aleatoriedade, parece que não. Mas esta depende igualmente de “uma certa” necessidade – que nada tem a ver com a causalidade mecânica. Há que ter igualmente em conta a temporalidade cronológica – a da vinda sucessiva à presença – “Cronos que come os seus filhos” será um lugar-comum necessário?

Breve nota sobre a pataética

Pathos: palavra grega comummente reconhecível, mas de tradução difícil. O pathos não é sofrimento, pelo menos não em sentido comum – πάσχειν é traduzível por “sofrer”, no sentido de “sofrer ou sentir qualquer coisa”, isto é, de “estar predisposto para sentir”. Será talvez uma certa inquietude fundamental, pelo que o “pateta” será, por conseguinte, o inquieto – o sofredor, num sentido de comunhão ontológica. Não um corpo sofredor de inquietude, mas um corpo constituído, produzido por essa mesma inquietude. A inquietude não é uma propriedade ou um atributo do pateta: o pateta é a inquietude e simultaneamente é produzido por ela – a inquietude é o pateta enquanto corpo-patético, que é também corpo-proteico, sem outra forma que a da deformação inquietante – o puro pulsionar da inquietude que o anima, que é o seu sopro vital, a sua vitalidade, a sua vida. O corpo patético é a inscrição presente e proteica (porque contaminada pela não-presença do seu devir pulsional) da inquietude, ou seja, do pathos.

حمام (turkish hammam)

(Jean Auguste Dominique Ingres, Le bain turc, 1862)

Para além de todo os fetiches possíveis, o banho turco traz essencialmente um imenso relaxamento...

quarta-feira, novembro 22, 2006

«Best album ever of songs about fucking»



(PJ Harvey, Rid of Me)

Orfeu Lavrado

«Orfeu o bardo era um homem que não sabia esperar. Depois de perder a mulher, porque a possuiu cedo de mais a seguir ao parto ou porque olhou quando não devia ao tirá-la do mundo dos mortos depois de a libertar da morte pelo seu canto, fazendo-a regressar ao pó antes de ela novamente se fazer carne, Orfeu inventou a pederastia, que evita o parto e está mais perto da morte do que o amor pelas mulheres. As rejeitadas perseguiram-no: com as armas dos seus corpos troncos pedras. Mas a canção poupa o bardo: o que ele tinha cantado não lhe chega à pele. Camponeses, assustados com o barulho da perseguição, fugiram e largaram os arados, que não tinham encontrado lugar na canção dele. E assim ele encontrou o seu lugar entre os arados.»

VJ de serviço



Na Rua 23 de Manhattan não se pernoitava, ia-se ficando e vivia-se. Mark Twain, Dylan Thomas, William Burroughs, Tennessee Williams, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Sartre & Bouvoir, Stanley Kubrick, Milos Forman, Ethan Hawke, Dennis Hopper, Jane Fonda, Uma Thurman, Robert Mapplethorpe, Frida Kahlo, Robert Crump, Henri Chopin, John Cale, Patti Smith, Dee Dee Ramone, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Rufus Wainwright e, claro, Syd & Nancy fazem todos parte do interminável panteão de residentes. Fica aqui a homenagem de um outro locatário, Leonard Cohen, na memória de uma noite em branco que perfez com Janis Joplin um outro par inseparável desse lugar mítico – ao Chelsea Hotel.

domingo, novembro 19, 2006

Welcome To The Bates Motel

quinta-feira, novembro 09, 2006

Muito Importante

«Un tempo si nasceva vivi e a poco a poco si moriva. Ora si nasce morti – alcuni riescono a diventare a poco a poco vivi»

Roberto "Bobi" Bazlen

Para Diaristas

"Me puse a escribir este diario, no quiero que la soledad yerre en mí sin sentido, necesito a los hombres, un lector... No para comunicarme con él. Sólo para emitir señales de vida. Ya hoy consiento en las mentiras, los convencionalismos, las estilizaciones en este diario con tal de pasar de contrabando, aunque sea como un eco lejano, un tenue sabor de mi yo aprisionado. […] Ya soy. Witold Gombrowicz, estas dos palabras que llevaba sobre mí, ya realizadas. Soy. Soy en exceso. Y aunque podría acometer todavía algo que me resultara imprevisible a mí mismo, ya no tengo deseos... Nada puedo querer por el hecho de ser en exceso. En medio de esta indefinición, versatilidad, fluidez, bajo un cielo inasible soy, ya hecho, terminado, definido... soy y soy tanto que ese ser me expulsa del marco de la naturaleza. "

Witold Gombrowicz, Diário

quarta-feira, novembro 01, 2006

Trans-Europe Express

Quero a pele morna fundida na almofada
e o bafo azedo e cálido ao acordar
Uma mosca por dentro do vidro e
uma planta de vaso ao canto da sala.
Na carne o gelo que queima como um
calafrio que galga a espinha de lés-a-lés
Porque estes olhos estacionam todo o passar-
-se em haletos de véu de retina.
Sem combustível para as vísceras ou
um fósforo de ruído branco em série
de Fourier Não há mijo nem sangue
que reduza a impedância deste ema-
ranhado de fibras de cobre e pó-de-arroz.