sexta-feira, novembro 28, 2008

Um Importante Comunicado

Recebemos hoje o seguinte texto, por email, que publicamos na íntegra, respeitando a vontade dos seus autores:


Caros autores do blog “Ângulo Saxofónico”:
Faço parte da Alta Autoridade para o Controlo da Qualidade dos Blogs Nacionais (AACQBN), um Órgão Cibernáutico, composto por representantes dos blogs portugueses mais importantes, ou seja, aqueles mais antigos, com muitos comentadores, grande repercussão na blogosfera, que aparecem em entrevistas e artigos de revistas sobre blogs portugueses, fazem jantares, todos os anos, numa qualquer ilha do Pacífico e que, de vez em quando, publicam em livro os posts publicados anteriormente no blog.
Como não há legislação publicada sobre a blogosfera, limitamo-nos a fazer Pareceres e Recomendações, que não são vinculativos, mas que têm o grande peso da nossa Doutrina e Saber.
Faço toda esta introdução a propósito do último post do vosso blog, “surfing for Moranguline”, que me chamou à atenção, e me suscitou alguma apreensão e colocou certas dúvidas. Vamos por partes:
1- Ok, percebo que tudo isto não passa de uma ironia, contra a alienação da juventude (ou seja, da faixa etária que vai dos 10 aos 40 anos) e contra o novo espírito e filosofia das empresas (proactividade, etc). Contudo, como se viu pela recente polémica acerca das afirmações de Manuela Ferreira Leite, há certas coisas com as quais não se pode fazer ironia. São assuntos delicados, percebem? Estamos a falar do estado de alma da juventude, e das suas dificuldades em singrar no mercado de trabalho. Não se pode brincar com assuntos desses. Porque é que não fazem ironia com os resultados do futebol da Selecção de Portugal? Ou com o computador Magalhães? Ou com os No Name Boys? São temas que podem originar rábulas divertidas, e que dispõem bem as pessoas! Resumindo, ironia sim, mas só de vez em quando e em matéria não delicada.
2- Os autores deste blog têm um nome estranho. Desculpem lá, mas não acredito que se chamem Boécio, Algazel, Safo ou Lugones. Por isso, não têm a coragem de dar a cara, perante matéria tão polémica. Quem são vocês? Digam o nome, morada, para a polícia vos contactar mais facilmente, caso algum jovem influenciável cometa alguma matança em algum liceu, e seja preciso instaurar um processo judicial perante os Senhores (as).
3- Não é bonito gozar veladamente com uma figura pública (Fernando Alvim). Poderiam dar-lhe um nome diferente ou, então, um nome parecido, como acontece naqueles jogos de futebol de computador (por exemplo, Fegnando Almim). Os leitores saberiam de quem estaríamos a falar, mas não haveria uma relação directa.
Há mais problemas, mas para já, fico-me por aqui. O melhor seria mandarem-me o vosso próximo post para o nosso correio electrónico, que eu responderia com um Parecer, ou sublinharia a azul as partes do post que julgaria passíveis de serem mudadas. Até posso dar recomendações! Acreditem, gosto de humor, de uma boa rábula ou um bom boneco televisivo, mas há que ter cuidado para não ferirmos susceptibilidades. E vocês até podem ser citados fora do contexto, e serem acusados de incitação à violência!
Abraço
João Pedro Jorge, acessor e crítico da AACQBN, liderada por Pedro Ameixia (*)

(*) Advogado, crítico de cinema, literatura, pintura, escultura e outros tipos de artes, poeta, cronista, blogger, encenador, especialista em Fernando Pessoa, programador, director da AACQBN, etc.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Surfing For Moranguline: uma história de tragédia, dor, violência e muita alienação!!! parte 1

Cena 8-Exterior Bar Galhada- Manhã

As mesas que estavam anteriormente na esplanada encontram-se recolhidas, dentro do estabelecimento. Lá dentro, os empregados do costume, vestidos da mesma forma de sempre- Tshirts para os homens, tops reduzidos para as mulheres. Lá fora, céu encoberto, cai uma chuva miúda. Pouca gente na praia. Sentados na areia, a beber uma mini, Low e Alga discutem a vida.

Low- chaval, isto tá uma seca.
Alga- yá puto, isto já teve, tipo, melhores dias
Low- sim, man, no verão é que se tava bem. Agora, tipo, é sempre tudo igual.
Alga- percebo o que dizes, Low. Nem distingo os dias...
Low- a sério, Alga? Mas isso, é tipo, fácil- deixa lá ver, segunda feira é o primeiro dia da semana, depois, é tipo, terça feira, depois é….
Alga- não é bem isso que queria dizer, puto! Para mim, os dias é que são tipo, todos iguais, tas a ver?
Low- yá, bacano, fazemos sempre as mesmas cenas! A propósito, bora surfar?
Alga- não me apetece muito Low. Ainda agora acabámos, tipo, de surfar..
Low- yá meu, também não me apetecia, tipo, fazer isso, mas não me apetece fazer mais nada. Não me apetece andar de mota, não me apetece, tipo, tar com a minha miúda e tentar, tipo, ter conversas com ela e tentar parecer inteligível.
Alga- queres dizer inteligente?
Low- yá puto, essas cenas maradas, pá, tas lá!
Alga- pois, percebo o que dizes, Low. Nem me apetece ler livros, nem nada.
Low- yá, livros pa quê?
Alga- está tudo feito, tudo escrito.
Low- e pra qué que eu vou, tipo, estudar? Os meus pais, agora, querem, tipo, que eu seja adevorado.
Alga- o quê? Querem que sejas devorado?
Low- não, chaval, adevorado, tipo aqueles chavales de fato e gravata que falam bués nas salas de áudio-violência e dizem cenas bué maradas que ninguém pecebe patavina...
Alga- ah, Low, tou tipo, a perceber! Querem que sejas advogado!
Low- yá, é isso, puto! Pá, até deve ser uma cena fixe, pelo menos apareço bué na televisão, há bués advorados na televisão, agora há aquela cena portuguesa, a liberdade 21, deve ser uma cena gravada naquela avenida de Lisboa, e…
Alga- Low, desculpa lá dizer isso, mas aquilo são, tipo, actores. Os advogados a sério não aparecem na televisão!
Low- tas a falar verdade, Alga? Então, tipo, não tenho futuro. Não há nada que queira fazer. Sinto assim uma cena bué vazia por dentro, chaval…
Alga- percebo o que dizes, puto. Também sinto, tipo, o mesmo! Estamos perdidos, meu!
Low- perdidos, como, Alga? Como é que podemos tar, tipo, perdidos? Não reconheces, tipo, isto? O Bar Galhada? E se tivermos perdidos, temos os telemóveis, com MSN e webcam e Google Earth incluídos e…
Alga- não, Low, estamos perdidos no mundo, andamos, tipo, à deriva, somos, tipo, bué insignificativos como todos estes grãos de areia da praia, puto….
Low- Alga, não sou parvo, toda a gente já diz, tipo, desde que eu era canuco, que eu tinha bué areia na cabeça, sei onde queres chegar….
Alga- não é bem isso, Low, estou a falar da areia, tipo, num sentido mais metrafísilico. A nossa geração, está tipo, sem rumo. Eu, tu, o Buécio, a Safinha….
Low- o Buécio também? Então nos States as pessoas também metem a frísica na areia?
Alga- yá, puto, em todo o lado! Sais, tipo, daqui, e pedem, tipo que ganhes a vida. E o que tens de ser, puto? Proactivo, com espírito iniciativo e de equipa, dinamitivo, empreendivo, organizativo, progressivo na carreira…
Low- que cenas são essas? Eu não sou, tipo, nada disso!
Alga- nem eu, Low. Como posso ser, tipo, iniciativo e proactivo, quando não há sentido nisto tudo? Isso é tudo uma farsa, uma grande felatia!
Low- mas o que fazemos, então?
Alga- como não nos apetece, tipo, surfar, nem beber minis, nem tar com babes, nem andar de mota, nem ler livros, nem ver televisão, nem jogar Playstation, propunha irmos, tipo, a casa do meu tio, que era militar, e buscar uma data de espingardas e metralhadoras que ele tem, e começar, tipo, aos tiros ao pessoal! A gente somos todos, tipo, gente sem sentido nenhum neste mundo, nascemos todos, tipos, aliens, somos alien nados, talvez uma morte, tipo, sem sentido, dê sentido a esta cena toda.
Low- puto, grande cena, grande ideia! Não percebi népias, mas apetecia-me bués andar aos tiros, só disparei nessas cenas no computador! E onde é que vamos, tipo, andar aos tiros?
Alga- no Colégio da Morangulada, claro!
Low- chaval, alta cena! E disparamos contra quem?
Alga- contra os outros alunos, claro!
Low- boa, puto! Vamos ligar ao Buécio, a contar a cena, e à Safinha, para ver, tipo, se alinha!
Alga- bora! Mas primeiro, vamos, tipo, acabar as minis! Odeio dar tiros quando estou, tipo, com sede!
Low- puto, vamos ter um dia diferente! Ontem, a esta hora, tava, tipo, em casa sem fazer népias! Vou ligar ao Buécio!
Alga- yá, liga!
Low- está a atender o telefone! Buécio, puto, vamos andar aos tiros ao colégio da morangulada! Achas que podemos, tipo, fazer isso?
Buécio- yes, we can!!!
Low- O Buécio alinha! Olha, vamos, tipo, levar os telemóveis e câmaras e, tipo, filmar aquilo tudo e meter no iuturbo! Até podemos falar em directos com os nossos amiguinhos!
Alga- boa ideia, Low! Ouvi dizer que o Alvim está, tipo, a promover um concurso sobre vídeos giros na escola, e quem tiver mais views ganha!

Low e Alga acabam as minis e vão-se embora da praia, levando as pranchas. Pela primeira vez desde há vários meses, têm um sorriso no rosto.

Corta para intervalo de 30 segundos e para descanso dos olhos e da atenção dos queridos leitores




segunda-feira, novembro 17, 2008

(Bruce Adams, Holy Mary, Holy Shit!)

domingo, novembro 16, 2008

A Incerteza do Princípio

Petit chou disse:
olá!

Honeybunny disse:
hallo

Petit chou disse:
tudo bem?



Honeybunny disse:
sim, tudo


Petit chou disse:
o que é que fizeste hoje?



Honeybunny disse:
sei lá…o costume…que raio de pergunta

Petit chou disse:
o que é que foi? Pareces distante….



Honeybunny- disse:
olha, precisamos de falar

Petit chou disse:
falar? O que é que se passa? Aconteceu-te alguma coisa?
Honeybunny disse:
não….não me aconteceu nada….só acho é que….

Petit chou disse:
achas o quê?
Honeybunny disse:
acho que a nossa relação não resulta!
Petit chou disse:
não resulta? Porquê?
Honeybunny disse:
porquê? Olha, sei lá….em primeiro lugar, temos ritmos de vida completamente diferentes….

Petit chou- disse:
diferentes?



Honeybunny- sim! Sabes que eu gosto de me deitar tarde, e agora, no máximo, às 2 da manhã, dizes que tens de desligar o computador e que tens de ir para a cama
Petit chou disse:
e tenho! Trabalho cedo!
Honeybunny disse:
sim, mas antigamente não era assim….agora, mesmo que não tenhas de te levantar cedo, desligas isso à hora do Vitinho…
Petit chou disse:
que exagero!
Honeybunny disse:
exagero nada! Mas isso é o menos! O pior é que o tempo em que estamos juntos online, não é de qualidade, admite, entrámos numa rotina, mandas-me sempre os mesmos bonecos, os mesmos smiles, os mesmos vídeos do youtube, jogamos sempre aos mesmos jogos interactivos….não há inovação da tua parte, e parece que fazes tudo mecanicamente
!
Petit chou disse:
isso não é verdade!
Honeybunny disse:
não é verdade? Claro que é! Por exemplo, no outro dia, na Sueca online, falhaste em várias vazas que eram facílimas, depois só fizeste porcaria na batalha naval, etc
Petit chou disse:
estava num dia mau!
Honeybunny disse:
desculpas….tens é outros interesses! Sei perfeitamente que não gostas de sueca, preferes Copas, e que não gostas de ver os vídeos do Rui Unas que te mando, preferes ver as piadas dos Contemporâneos!
Petit chou disse:
sim, mas podemos conciliar as coisas….
Honeybunny disse:
não dá….como é que posso estar a jogar sueca, ao mesmo tempo das Copas? Além de que não me divirto com isso….ainda não tenho idade para entrar em compromissos, com quem quer que seja….ah, e outra coisa….
Petit chou disse:
O quê?
Honeybunny disse:
das poucas vezes que vens ao Messenger, metade do tempo estás “Ausente”.

Petit chou disse:
e estou mesmo! Tenho de fazer compras, arrumar a casa
Honeybunny disse:
pois, mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar

Petit chou disse:
e tu? Só esta semana, em 2 dias, apanhei-te 5 vezes com o sinal de “ausente para almoço”
Honeybunny disse:
e devia estar….
Petit chou disse:
5 vezes? Por favor, não inventes desculpas! Não querias era falar comigo!
Honeybunny disse:
pelo menos não invento “dores de cabeça” e “cansaço”…
Petit chou disse:
vá, confessa, há mais alguém, certo?
Honeybunny disse:
alguém? Alguém como?
Petit chou disse:
andas a falar com mais gente no Messenger! Tudo isto é por causa de outra pessoa!
Honeybunny disse:
não tem nada a ver! As nossas conversas já não atingiam um grau de satisfação há muito tempo e sabes bem isso! Ao princípio, isto durava 5 horas, agora nem 5 minutos
!
Petit chou disse:
responde! Há mais alguém?
Honeybunny disse:
há! Há sim! Ando a corresponder-me com 3 pessoas e estou a gostar!
Pet
it chou disse:

estás a falar com elas neste momento?


Honeybunny disse:
por acaso estou!


Petit chou disse:
eu conheço-as?
Honeybunny disse:
Não os conheces! Não são contactos comuns!
Petit chou disse:
e o que é que estão a fazer?
Honeybunny disse:
neste momento, estamos a fazer um torneio de Uno.

Petit chou disse:
e é tão bom jogares com elas como é jogares comigo?
Honeybunny disse:
não me faças perguntas difíceis….é diferente….olha, agora tenho de me meter ”Offline”, que quero ganhar um jogo
Petit chou disse:



Honeybunny disse:
vá, não fiques assim! Sabes que vais ser sempre um contacto especial!
Petit chou disse:
A sério?
Honeybunny disse:
Claro, miúda! Olha, quando me vires online, podes sempre fazer um jogo comigo, ou mandar-me uns vídeos, ou uns cartões!E lembra-te: teremos sempre Paris!
Petit chou disse:
Paris? Assim como no Casablanca, com a Ingrid Bergman e o Bogart?
Honeybunny disse:
o Casa quê? Não, estou a falar deste Paris!: http://www.youtube.com/watch?v=koH0sDec2-k
Não te lembras, tótó? Foi o primeiro video em que rimos em simultâneo!

Petit chou disse:
ah, yá, pois foi!
Hon
eybunny- disse: vá, depois falamos! Inté!

Petit chou disse:
inté!
Honeybunny disse:
Olha, queres fazer um jogo de poker, como despedida?

Petit chu disse:

Bora lá!

sexta-feira, novembro 14, 2008

Moby Dick, Herman Melville

Faz hoje anos que foi publicado Moby Dick. É um livro sobre um naufrágio, sobre o mal, acima de tudo sobre o mal. Há várias personagens, como é normal nos romances. Entra também uma baleia branca (o que já não é tão normal nos romances), que não usa palavras para dialogar com os outros intervenientes, mas na sua linguagem ensurdecedora parece querer dizer qualquer coisa de muito importante. Ao que parece nenhum dos personagens conhece essa língua em que ela se expressa. Há, finalmente, um sobrevivente, que se transforma em narrador. Quem ainda não o leu tente mergulhar nele antes de mergulhar definitivamente.
OBSERVATION OF FACTS

Facts have no eyes. One must
Surprise them, as one surprises a tree
By regarding its (shall I say?)
Facets os copiousness.

The tree stands.

The house encloses.

The room flowers.

These are facts stripped of imagination:
Their relation is mutual.

A dryad is a sort of chintz curtain
Between myself and a tree.
The tree stands: or does not stand:
As I draw, or remove the curtain.

The house encloses: or fails to signify
As being bodied over against one,
As something one has to do with.

The room flowers once one has introduced
Mental fibre beneath its elegance,
A rough pot or two, outweighing
The persistence of frippery
In lampshades or wallpaper.

Style speaks what was seen,
Or it conceals the observation
Behind the observer: a voice
Wearing a ruff.

Those facets of copiousness which I proposed
Exist, do so when we have silenced ourselves.


Charles Tomlinson

terça-feira, novembro 11, 2008

COMO UMA LINHA
Que desse a volta
A qualquer coisa
Que fosse como
O teu pescoço
Assim esta linha
Perversa,
linha da morte,
é o baraço
que envolve,
qual abraço da corda-bamba,
de luz e treva,
fado e samba,
o meu desejo de ti,
pendurado em mim
pelo nó da garganta

(para a v.)

quinta-feira, novembro 06, 2008

YES WE CAN!!!

segunda-feira, novembro 03, 2008

Não é uma dor, não é propriamente uma dor. Nem uma espera. Não. É como se sempre tivesse estado presente e eu o reconhecesse, nem é uma dor nem a esperança, mas sim o que sempre esteve e estará. O presente eterno, a combustão de tudo. Não é que ignore a nossa presença, mas o presente eterno não é uma dor nem uma esperança, por isso não é humano, não compreende palavras. E acontece, por vezes, reconhecermo-nos, e ficarmos parados, presentes, contemplando-nos. No fim, quando já se torna insuportável para mim, eu quase que choro, e ele fica, por aí, sem dor nem esperança.