sábado, outubro 27, 2007

We ought to dance with rapture

«What man most passionately want is his living wholeness and his living unison, not his own isolate salvation of his "soul." Man wants his physical fulfilment first and foremost, since now, once and once only, he is in the flesh and potent.»

(D.H. Lawrence, Apocalypse)

quarta-feira, outubro 17, 2007

Sugestões Para Ver no DocLisboa: 2- À Meia Noite Processarei Seu Cadáver

Trata-se de um dos melhores Documentários alguma vez saídos da América do Sul. A realização é de Luiz Martinho de Oliveira. O Documentário centra-se num caso ocorrido em meados dos anos noventa, numa pequena localidade brasileira do interior nordestino chamada Barlavento.
Nesta localidade, uma sociedade de advogados liderada por um actor galã caído em desgraça semeia o caos, ao obrigar os habitantes, por meios de chantagem, e a troco de uma vã promessa de poderem entrar numa telenovela juvenil de grande sucesso, a processarem-se uns aos outros, a fim de obter o dinheiro dos honorários e das custas judiciais. Os crimes sucedem-se com uma intensidade cada vez maior e mais assustadora e a desconfiança aumenta no seio da pacata localidade, até se instalar um clima de terror e pânico generalizado.
O Documentário filma com mestria e de forma perturbadora este microcosmos de uma sociedade em crescente desagregação física e moral. A não perder.

Sugestões Para Ver No DocLisboa: 1- Das Mann Gelachter

Vai passar finalmente em Portugal a obra-prima de Lech Mekas, D.M.G. (Das Mann Gelachter), que foi filmado um pouco por todo o mundo. O Documentário centra-se no culto do Homem-Gargalhada e a sua evolução ao longo dos tempos e as implicações que o mesmo teve nas mais diversas culturas.
A palavra a Sérgio Tréfaut, um dos programadores da 5ª Edição do Doc: «Durante anos, os especialistas tentaram fazer um diagnóstico sobre o "gargalladisme". O filme conta essa dificuldade, definir o que é a sintomatologia e o que é o diagnóstico. Face a ele, reage-se de maneiras totalmente diferentes. É bastante polémico. Mas é o exemplo de um filme que é importante mostrar. Vi-o em Copenhaga, houve um grego que se levantou a meio e disse: "este é o melhor filme que vi na vida". O filme aborda coisas que não são fáceis. Pode-se fazer um filme e chegar a uma certa realidade social. A maneira como trata cada indivíduo transforma-o num monumento. Tem uma capacidade e um talento extraordinário para pôr no devido lugar a dignidade de cada ser humano. E ficamos a pensar: o que é que faz numa situação destas um cineasta? Muitas vezes, situações desta natureza podem mudar a vida de quem filma. A questão é essa, quais são os limites? O que é que podemos fazer? No caso do realizador e do meu, a resposta foi simples: arranjámos umas máscaras de pétalas de papoila vermelha e pusemo-nos a caminho da fronteira Paris-China».

segunda-feira, outubro 15, 2007

BOÉCIO



Eu, que outrora escrevi poemas com uma paixão juvenil,
sou forçado, desgostoso, a compor cadências tristes.

LUGONES



Meus senhores, seja
A lua peremptória,
De esta dedicatória
Timbre, brasão e cunho.

ALGAZEL




Há cinco vantagens
no casamento:
a procriação,
a satisfação do desejo sexual,
cama e roupa lavada,
a companhia
e a auto-disciplina no ganha-pão.

SAFO



Deitaram-se lua

e Plêiades, em meio

a noite, o tempo em fuga,

e eu adormecendo só.

Comunicado aos eventuais (poucos) interessados

O Ângulo, essa hidra literária ou cão Cérbero pós-moderno, volta a distribuir as suas cabeças.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Algazel desce ao mundo dos vivos

Ocorre-me agora que só existe um único motivo que me faria descer ao mundo inferior, nem que fosse por um fim-de-semana: contemplar a borboleta. Uma desvantagem e uma vantagem compensadora: eu sou feio, mas ela é cega. E tudo ficaria nos seus devidos lugares.

A Passagem dos Séculos

Os séculos estão a ficar cada vez maiores. Em cada século surgem cada vez mais novidades, tomando sempre novas qualidades. No espaço de um século quase foi possível destruir a terra e ao mesmo tempo perceber que sem ela não seríamos nada. Os séculos começam a estender os seus limites para além do inimaginável, a tal ponto que parece já não haver papel na terra para escrever todas as listas como, os melhores filmes do século, as melhores cadernetas de cromos do século, os melhores murais do século, os melhores samurais do século, o melhor homem-gargalhada do século... Parece-me, e é bem provável que só eu pense assim, que os séculos estão a tornar-se maiores, no sentido de que é possível começar um século na pré-história (como o séc. XXI) e acabá-lo numa galáxia fora do grupo local. Este final a minha vida não mo concederá certamente, mas digam lá se isto não é tornar um século quase infinito?

quarta-feira, outubro 10, 2007

Substabelecimento

Nos mandatos judiciais, presume-se conferido aos mandatários das partes o poder de substabelecer. Com o substabelecimento, a parte passa a ficar representada por dois mandatários, qualquer deles com a plenitude dos poderes de representação.
Se o substabelecimento for sem reserva, o substituto fica com os mesmos poderes do mandatário original.

Deveria aplicar o substabelecimento nos meus contactos diários.

Hoje vou a um casamento. Não me apetece ir. Amanhã vou a um jantar de anos. Detesto todas as pessoas que vão estar presentes. Para a semana, tenho de ir a um almoço com a família toda e respectivas criancinhas. Apetece-me envenenar-lhes os pratos. Arranjaria muito menos problemas se fizesse substabelecimentos em todas estas situações.

Exemplo de substabelecimento para festas de anos de pessoas que não me interessam para nada:
Sem reserva, substabeleço no Exmo. Senhor Ângulo Algazel, contribuinte nº1234567, residente no Deserto dos Tártaros, os poderes que me foram conferidos pelo aniversariante, para os exercer no jantar do dia Y, que corre trâmites no Restaurante Z.
Estes poderes incluem os de contar anedotas, declamar poesia, ser engraçado, espirituoso, simpático e educado. Os poderes incluem ainda os de comprar uma prenda a meu bel-prazer, pagar a minha conta do restaurante e dar boleia aos outros convidados e ser o mais prestável possível com os mesmos.
O Convidado
Ângulo Lugones

Ou outro, mais geral:
Sem reserva, substabeleço no Exmo. Senhor Homem-Gargalhada, sem número de contribuinte e com residência na fronteira Paris/China, os poderes que me foram conferidos pela Sociedade Civil, para os exercer durante dias indeterminados, que correm trâmites um pouco por toda a parte.
Estes poderes incluem os de fazer a barba, vestir roupa aprumada, trabalhar, participar nas conversas mostrando um ar interessado, ser prestável, sociável, amável, desenrascado, ter opiniões próprias e fazer com que as mesmas sejam ouvidas, discutir, criar, sorrir e ir ao ginásio fazer, pelo menos, 30 minutos diários de passadeira rolante e 100 flexões.
Os poderes incluem ainda os de escrever o que o Exmo. Senhor Homem-Gargalhada quiser, neste modesto blog.
O indivíduo
Ângulo, singelamente ao seu dispôr

terça-feira, outubro 02, 2007

Variações Sobre Roshomon

Filosofia Etílica - Quadro estatístico

0 g/l: filósofos do séc. XX (excluídos Benjamin e Wittgenstein);
Até 0,5 g/l: filósofos da tradição escolástica;
De 0,5 g/l até 0,8 g/l : filósofos modernos (à excepção de Espinosa), Benjamin e Wittgenstein
De 0,8 g/l até 1,2 g/l: filósofos árabes (à excepção de Algazel)
De 1,2 g/l até 10 g/l: Espinosa, Algazel, Nietzsche e Simone Weil
De 10g/l até ao infinito: Sócrates
De 0 a menos infinito: os outros