quarta-feira, julho 25, 2007

Concurso de Verão

Inauguramos aqui um daqueles concursos cuja única finalidade é afastar os bocejos e espreguiçadelas que vêm com o Verão, ainda que este ano ele esteja demasiado frouxo para isso. O mote é Coimbra e o objectivo é construir aforismos que destruam, de muito bom grado, o bom nome dessa santa terra. Não há como justificar este nosso ensejo, tal como não será nunca possível justificar os programas de Verão que as cadeias de televisão emitem a partir das praias. Gostaríamos que os nossos leitores nos enviassem aforismos. O autor do melhor aforismo receberá um modelo 1/10000 da cabra, que poderá funcionar como porta-chaves. Aqui fica um exemplo possível: "Se Coimbra fosse um bolo, cheirava a mofo e sabia a bolor."

quarta-feira, julho 18, 2007

O Homem-Gargalhada Na Cultura Popular-Cinema, parte 1

Todos sabemos que o Homem-Gargalhada exerceu uma tremenda influência sobre Luis Buñuel. Na sua autobiografia, Mon Dernier Soupir, publicada em 1982, Buñuel diz, na página 53, que «tudo o que sou hoje, devo-o ao Homem-Gargalhada».
Todavia, poucos saberão que a sua primeira obra cinematográfica, "Un Chien Andalou", é uma homenagem directa à figura do Homem-Gargalhada.
Isto deve-se a alguns factores: em primeiro lugar, o filme foi co-escrito por Salvador Dali, que não partilhava das simpatias gargalhadianas de Buñuel.
Em segundo lugar, ambos queriam, em 1929, cair nas boas graças das hostes Surrealistas, lideradas pelo inefável Breton. Ora, este era um anti-gargalhadiano por excelência.
Desde o início das filmagens houve pressões de várias ordens, que levaram à diluição da influência directa do Homem-Gargalhada neste projecto.
Tudo começou com o próprio título do filme. Buñuel pretendia chamá-lo "Un Enfant and a Loup"- uma criança e um lobo, numa mistura anglo-francesa. A criança simbolizaria o Homem-Gargalhada, que foi raptado, ainda muito novo, por bandidos chineses. O lobo simbolizaria o seu fiel amigo, Asa Negra que, como todos sabemos, era um lobo cinzento.
Breton vetou de imediato o título do filme. Buñuel surgiu então com o título "Un Chien and a Loup"- um cão e um lobo. O cão representava a natureza dócil do Homem-Gargalhada, que se manifestava diversas vezes (como, por exemplo, na sua recusa em matar os bandidos chineses). O lobo representaria, além do seu fiel amigo Asa Negra, o seu lado selvagem e violento. Face a uma nova recusa de Breton, Buñuel deu-lhe o nome que todos conhecemos: "Un Chien Andalou".

Passemos à temática do filme:
1- A famosa cena do olho cortado (imagem nº1)- como sabemos, os bandidos chineses deformaram a face do Homem-Gargalhada, até a tornar irreconhecível. Esta cena representa a impressão que a sua cara causava a quem o visse. Os estranhos caíam redondos à vista da sua cara horrenda. Como tal, as pessoas não podiam ver o Homem-Gargalhada com os seus próprios olhos. O corte do olho do espectador é simbólico, representando a sua inacessibilidade ao contacto humano.
2- A cena em que a personagem masculina carrega um piano, burros mortos, as Tábuas das Leis e dois padres (imagem nº2) - a maior parte da crítica interpreta-a como um ataque feroz à Igreja. Não tem inteiramente razão. Existe, de facto, um ataque velado ao Clero, mas por outros motivos. Os pais do Homem-Gargalhada eram missionários abastados. Quando este foi raptado, recusaram-se a pagar o resgate, por motivos religiosos. A cena representa ainda a árdua luta do Homem-Gargalhada em busca dos seus objectivos, carregando com o peso dos seus oponentes. Os burros representam a imagem das suas vítimas, que não paravam de atormentar a sua consciência.
Ficamo-nos por aqui. Este texto representa apenas um esboço de um ensaio sobre o Cinema e o Homem-Gargalhada. A segunda parte deste artigo será publicada em Livro, juntamente com uma Edição revista deste Texto, na Editora Objecto Cardíaco, a mesma do João Pedro George. Assim, aproveitem agora para ler este artigo, pois vai ser retirado do blogue na próxima semana.

terça-feira, julho 17, 2007

Deixem-se disso

«Deixem-se, pois, dessas deleitações com a Arte. Deixem-se de ser artistas. Deixem, por Deus!, deixem todo o modo de falar da Arte, aquelas sínteses, análises, subtilezas, profundidades e todo esse sistema de inchar-se e inflar-se; e, em vez de impor ficções, deixem-se criar pelos factos. E apenas isto deveria trazer-lhes um marcado alívio, libertando-vos da sua limitação, abrindo-vos à realidade; mas assim mesmo afastem todo o temor de que este mais amplo e são método de considerar a Arte possa privá-los de qualquer riqueza ou grandeza, porque a realidade é mais rica e grande que as ingénuas ilusões e pobres mentiras. E em seguida mostra-vos-ei que riquezas vos esperam neste novo caminho.»

Witold Gombrowicz, Ferdydurke (um livro de que nunca ouvi falar neste país)

sexta-feira, julho 13, 2007

O maior escritor do século

Extracto de uma entrevista concedida em 1978 pelo Homem-Gargalhada a uma rádio britânica.

- Costuma ler?
- Sim.
- Quanto?
- O suficiente.
- Não lhe cansa os olhos, a leitura?
- Se leio o suficiente não. Quando exagero começo a ver cores, a deixar de ver formas, a imaginar coisas que não estão lá.
- Lá?
- Sim, na página. Nas páginas só se devem ler as palavras e não as margens e o espaço entre as palavras e entre as linhas de palavras. Como lhe disse, se exagero e começo a ler outras coisas que não as palavras sucedem-me aqueles fenómenos que lhe referi.
- Diz-se que tem uma predilecção especial pela literatura do séc. XX. Tem algum género favorito?
- Sim, o género simples de distribuição de palavras, muito em voga em Chipre, nos anos 20 e 30.
- E quem é para si o maior escritor do século?
- Um escritor malaio de origem cipriota cujas obras estão depositadas numa mala perdida no deserto de Mojave que um anónimo há-de descobrir daqui a 500 anos e publicar numa editora pan-asiática obscura dessa época.

quinta-feira, julho 12, 2007

New Criticism

A crítica literária teria muito a ganhar se simplificasse razoavelmente o seu arsenal de conceitos, reduzindo-o para três ou quatro* categorias operativas (operative labels) onde coubesse literalmente todo o mundo da produção literária que se possa imaginar. Sonho, por exemplo, com uma página de crítica literária onde estivesse escrito o título do livro, o nome do seu autor, o nome da editora (dispensável), o nome do tradutor (se fosse o caso) e a respectiva categoria crítico-operativa: “compre e não leia”, “peça emprestado e abandone numa mesa de café”, “roube, leia e queime” ou “entre numa livraria, aponte uma arma ao empregado e exija todos os exemplares disponíveis para imediata destruição no meio da rua, num cerimonial em quase tudo semelhante ao das apoteoses nazis, menos na intenção”.

* não é que já não exista a modalidade das estrelinhas, mas falo de uma coisa séria.

Pequeno Entremez Pop Light Para Entreter A Malta e Porque é Verão, Está Calor e Tal

- Romualdo, precisamos de falar
- O que foi? É algo grave?
- Não....acho que não...
- Fiz alguma coisa de errado? Diz-me!
- Não! Tu não fizeste nada de errado! Eu é que...não sei...olha, esquece!
- O que foi??
- Nada....
- Agora diz-me! Estou preocupado! O que é que aconteceu?
- Bem...o problema....é.....que.....
-........
- Eu.....
- ??
- Eu...é complicado dizer isto...
- Siiiim???
- Eu....eu gosto de ti, Romualdo!
- Eu também gosto de ti, por isso é que saímos juntos, gosto de passear contigo, ir a concertos...
- Não é nada disso, Romualdo! Eu GOSTO de ti!
- Ah!! Gostas de GOSTAR??
- Sim.......
- Ah....
- Olha, esquece, não te sintas obrigado a fazer nada, queria só mesmo dizer-te o que sinto....provavelmente...o que eu sinto....não é correspondido : (((
- Porque dizes isso? (embaraçado)
- Não sei...nunca me deste sinais de que gostasses de mim....
- Mas eu...eu....eu também gosto de ti!! O problema é que sou tímido, não tenho jeito para estas coisas e...
- Quer dizer que também gostas de mim?!?
- Siiiimmmm......siimm.....sim!
- Hesitaste....
- Sim...não! Ainda estou em choque! É a emoção!
- LOL! Então....diz-me, por favor......QUERES NAMORAR COMIGO??!....
- ..................pois........sim......sim.....claro......claro.....claro!!
- De certeza??
- Sim!
- Ai, estava com tanto medo, estive não sei quantas horas a pensar nesta conversa, etc
- Não te preocupes, eu gosto mesmo de ti!!.......Olha....tenho é de me ir embora, amanhã levanto-me cedo, tenho de levar o cão ao veterinário, sabes...
- Claro!
- Adeus, então!
- Adeus....Não me dás.....um....um beijo??
- Claro!
(beijam-se)
- Até amanhã!
- Até amanhã!

Romualdo apanhou o metro, seguindo em direcção a casa. Pegou num livro, mas não conseguiu ler nada.....porque é que o estavam sempre a colocar em situações difíceis?
" e é claro, nunca consigo dizer que não a nada que me peçam..."
Só nesta semana já era a terceira vez que isso acontecia. E agora acabava de arranjar a sétima namorada. Com tanto programa, quase nem dormia.
" já nem consigo ver o Dr. House!!".... "afinal, não sou mau rapaz", repetia para com os seus botões.
"Só não quero é incomodar", disse, entredentes, antes de atender mais um telefonema no seu telemóvel.

quarta-feira, julho 11, 2007

Fase Homem-Gargalhada dos Talking Heads


Subtil homenagem dos Talking Heads ao Homem-Gragalhada, graças ao paintbrush.
Viva o paintbrush. Viva o Homem-Gargalhada. Vivam os Talking Heads.

terça-feira, julho 10, 2007

Repost ou ripostar

Repost, um conceito agora inaugurado pelo ângulo, é o equivalente inglês ao ripostar português. Surge como reacção ao post de periodicidade quinzenal, tão ao gosto deste blog e cujos efeitos ainda não foram totalmente estudados nas mentes quinzenalmente expostas a blogs. Consiste em repostar/ripostar/rir ao postar um post de antanho sem lhe fazer qualquer alteração, ou seja, exactamente como ele pela primeira vez veio à net, ou seja, nuzinho e a berrar, coberto pelos resíduos placentários onde foi gerado. Ou seja, um expediente criado à semelhança daquelas viagens de fim-de-semana de destino único combinadas na sexta-feira ao crepúsculo pelo casal em vias de consumir as últimas réstias de amor que ainda alimentam a penosa relação que em breve vai terminar. Não queremos com isto anunciar a morte do ângulo, porque o ângulo é imortal. Pelo contrário, desejamos desenterrar da memória colectiva bloguística marcos miliares como as Aventuras do Homem Gargalhada, A Tragi-cómica saga da pequena Maddie, os saudosos entremezes que outrora faziam as delícias de muitos ou a eremítica magia de Algazel. Até Já.

quarta-feira, julho 04, 2007