quinta-feira, maio 31, 2007

Pequenas pistas para encontrar a Grande Maddie

1- A Maddie é muito grande, por isso não cabe num ângulo.
2- Não dá a mão a senhores de cor.
3- A Maddie gosta de ténis.
4- Não sabe falar esperanto.
5- Tem um namorado na Amazónia, que conheceu numas férias em que se ia perdendo. Quando a encontraram, ela estava em cima de uma anaconda. Os pais adoptaram a anaconda, que agora vive numa ala solitária do museu britânico.
6- A Maddie não gosta de petazetas.
7- A Maddie tinha um poster de Che Guevara no quarto.
8- A Maddie tem aversão a enchidos da região de Mirandela.
9- Antes de desaparecer por completo, foi vista a tomar um bagaço com um homem morto. Algumas testemunhas oculares admitem que se tratava de Antonin Artaud, mas houve quem dissesse que podia muito bem ser o Fernando Pessoa.
10- E agora, já sabem onde está a Maddie?

Aviso Importante

sE ChEgArEm Ao fIm DeStE POST, VeRãO QuE NãO FaZ QuAlQuEr S
e
n
t
i
d
o

QuEriAm O Quê?? NoViDaDeS Da PeQuEnA MaDdiE??

Conselho Saxofónico do Dia

Mente com quantos dentes tiveres, e multiplica esse número por quatro. Por cada cárie, tens direito a mentir mais cinco vezes. Não tires os dentes do siso. Apanhas febre e mentirás menos vezes, pois ficas com menos dentes. Palavra do senhor

quarta-feira, maio 30, 2007

La inmortalidad literaria

Por Roberto Bolaño

«Yo no sé cómo hay escritores que aún creen en la inmortalidad literaria. Entiendo que haya quienes creen en la inmortalidad del alma, incluso puedo entender a los que creen en el Paraíso y el Infierno, y en esa estación intermedia y sobrecogedora que es el Purgatorio, pero cuando escucho a un escritor hablar de la inmortalidad de determinadas obras literarias me dan ganas de abofetearlo. No estoy hablando de pegarle sino de darle una sola bofetada y después, probablemente, abrazarlo y confortarlo. En esto, yo sé que algunos no estarán de acuerdo conmigo por ser personas básicamente no violentas. Yo también lo soy. Cuando digo darle una bofetada estoy más bien pensando en el carácter lenitivo de ciertas bofetadas, como aquellas que en el cine se les da a los histéricos o a las histéricas para que reaccionen y dejen de gritar y salven su vida.»

Se miran, se presienten...

Se miran, se presienten, se desean, se acarician, se besan, se desnudan, se respiran, se acuestan, se olfatean, se penetran, se chupan, se demudan, se adormecen, se despiertan, se iluminan, se codician, se palpan, se fascinan, se mastican, se gustan, se babean, se confunden, se acoplan, se disgregan, se aletargan, fallecen, se reintegran, se distienden, se enarcan, se menean, se retuercen, se estiran, se caldean, se estrangulan, se aprietan, se estremecen, se tantean, se juntan, desfallecen, se repelen, se enervan, se apetecen, se acometen, se enlazan, se entrechocan, se agazapan, se apresan, se dislocan, se perforan, se incrustan, se acribillan, se remachan, se injertan, se atornillan, se desmayan, reviven, resplandecen, se contemplan, se inflaman, se enloquecen, se derriten, se sueldan, se calcinan, se desgarran, se muerden, se asesinan, resucitan, se buscan, se refriegan, se rehuyen, se evaden, y se entregan.

Oliverio Girondo, 1891-1967

segunda-feira, maio 28, 2007

Os livros e as mulheres

Olho para as centenas de livros no meu gabinete e apercebo-me que não toquei na maior parte deles depois de os ter lido ou dado uma vista de olhos pela primeira vez. Mas nem sequer considero a hipótese de me desfazer deles – então, e se eu quiser abrir este ou aquele um dia destes? Gastei o meu último dinheiro tanto a adquirir novos livros como em prostitutas. Comprar livros novos é um prazer muito diferente do prazer de ler: examinar, cheirar, folhear um livro novo é a própria felicidade.
Os livros dão-me confiança pela sua disponibilidade, de que posso sempre aproveitar-me se quiser. O mesmo acontece com as mulheres – preciso de muitas delas e têm de se abrir à minha frente como os livros. Na verdade, para mim, os livros e as mulheres são semelhantes de muitas formas. Abrir as páginas de um livro é o mesmo que afastar as pernas de uma mulher – o conhecimento revela-se à nossa vista. Todos os livros têm um odor próprio. Quando abrimos um livro e cheiramos, cheiramos a tinta e é diferente em cada livro. Rasgar as páginas de um livro virgem é um prazer inenarrável. Mesmo um livro estúpido dá-me prazer quando o abro pela primeira vez. Quanto mais esperto for mais me atrai, e a beleza da capa não é importante para mim. Isto não é necessariamente verdade para as mulheres.
Tal como uma mulher se pode vir com qualquer homem habilidoso, assim um livro se abre a qualquer um que lhe pegue. Dará o prazer da sua sabedoria a quem for capaz de o compreender. Por isso sou cioso e não gosto de os dar a ninguém para ler. A minha biblioteca é o meu harém.

Puchkin, Diário Secreto (1836-1837)

A religião de Puchkin

Para Puchkin só existe uma divindade: a Fenda. A Fenda era tudo para o poeta, o alimento que lhe conferia a vitalidade poética nos versos e na vida. Na Fenda ele via o mistério do mundo. O outro Deus, senhor de esferas superiores, ausente da vida dos humanos de tão remoto, esse outro Deus era o Deus das expressões “Deus me ajude”, “Meu Deus”, “Por Amor de Deus”. Ou seja, um Deus morto em palavras, como todos os deuses. Em breve seguem posts do diário que podem ferir a sensibilidade dos leitores.

quinta-feira, maio 24, 2007

Ecos do Paraíso

«Depois de provar o fruto proibido, Adão e Eva conheceram a vergonha e envergonharam-se da sua nudez. A vergonha foi criada pelo Diabo, e por isso Deus percebeu que eles tinham cometido pecado ao verem a sua vergonha. Pela sua desobediência, Deus expulsou-os do Paraíso, mas deixou-lhes o prazer como consolação. Ao copularem, Adão e Eva não sentiram vergonha e essa ausência de vergonha fazia-os recordar o tempo em que estavam no Paraíso. Os amantes é a mesma coisa - por não terem vergonha em frente um do outro encontram o paraíso. Mas o Diabo não descansou e criou a sociedade humana, rodeada por uma bola de vergonha.
Deus permitiu ao homem ter uma mulher, sabendo que o pecado das tremuras passaria, mas não lhe permitiu fornicar com qualquer mulher nova. O pecado revive e perdura graças à variedade de mulheres fornecidas pela sociedade. O ser humano é uma criação de Deus, e a sociedade humana é criação do Diabo.
Pela violação da proibição, Deus não só expulsou Adão e Eva do Paraíso, como também multiplicou as proibições para dez. Não se pode ir para o Paraíso se se violar apenas uma. Violei uma por fornicação e violarei a segunda quando me vir livre de D'Anthès.»

Puchkin, Diário Secreto (1836-1837)

terça-feira, maio 22, 2007

2666, Bolaño

Há fronteiras, limites insondáveis, onde seres condenados trabalham todo o tempo, ou onde o tempo os esquece e os entrega aos cuidados da loucura. Aí, os combates podem custar a vida, porque o preço, fora do tempo, é o absoluto. Pode dizer-se que desses limites se avistam os desertos, e a visão do deserto, como só alguns sabem, não se suporta durante muito tempo. Se se estiver fora do tempo a contemplar o deserto, o mais provável é cegar. Só aqueles que, regressados à cidade, continuam a ver, podem trazer dessa terras horríveis coisas como 2666. Nós, os habitantes do mundo, não sabemos o que fazer com elas. Os mais prudentes afastam-se, os mais cruéis queimam-nas.

quinta-feira, maio 17, 2007

I AM THE KING!

quarta-feira, maio 16, 2007

Pascal, pensando

Se há um Deus, só se deve amá-lo a ele, e não às criaturas passageiras. O raciocínio dos ímpios, na Sabedoria, só se baseia no facto de não haver Deus. “Posto isto, diz, gozemos as criaturas.” É pior ainda. Porém, se houvesse um Deus a amar, não teriam concluído isso, mas sim o contrário. E é esta a conclusão dos sensatos: “ Há um Deus, portanto não gozemos das criaturas.”
Portanto, tudo o que nos incita a apegarmo-nos às criaturas é mau, visto que nos impede, ou de servirmos Deus, se não o conhecemos, ou de o procurarmos, se o ignoramos. Ora, estamos cheios de concupiscência; portanto, estamos cheios de mal; portanto, devemos odiar-nos a nós mesmos e tudo o que nos excitar a outro que não seja com Deus.

Pascal, Pensamento 479 (417)

domingo, maio 13, 2007

Parabéns, Amigas Ostras!

Faz hoje precisamente noventa anos que as nossas amigas Ostras viram o Homem Gargalhada pela primeira vez. "Estava em cima de uma árvore e era muito belo e brilhante e usava uma máscara de pétalas de papoilas vermelhas. Depois, nós pedimos-lhe três desejos, porque queríamos um Kinder Surpresa, mas ele enganou-se e confiou-nos antes três segredos sem interesse, de que nós já nos esquecemos. Por fim, deu-nos uns cogumelos muito poderosos e disse-nos que, se os comêssemos, íamos ver o sol bailar. Assim foi".
Na foto, vemos a Maga Ostrológica e a Maria Ostra, acompanhadas por um amigo desconhecido.

sexta-feira, maio 11, 2007

COMUNICADO

A direcção do Blog Ângulo Saxofónico comunica que, após a publicação do post “Novidades da pequena Madeleine”, uma verdadeira enxurrada de emails chegou à nossa caixa de correio. A maioria deles desejando saber do paradeiro não da pequena Madeleine mas sim do desaparecido Homem-Gargalhada, visto que ambos se poderiam ter encontrado lá para os lados da fronteira Paris-China. Mas é a respeito de um email específico que nos queríamos referir. Da morada andre_breton@hotmail.fr, chegou-nos um mail nestes termos, que traduzimos do francês: “Caros senhores, sou o presidente de um partido literário bastante famoso, que dá pelo nome de Surrealismo. Estou neste momento a organizar uma antologia cujo título provisório é “Antologia do Humor Negro”. Ora, tendo tomado conhecimento do vosso post “Novidades da Pequena Madeleine”, venho por este meio pedir-lhes permissão para que o possa incluir na designada antologia. Sem mais, saudações surreais.”
Depois de uma morosa reunião de última hora para a qual os membros do blog se deslocaram dos mais diversos pontos do globo, inclusivamente da fronteira Paris-China, a direcção decidiu negar a colaboração nessa antologia. A justificação é simples: recusamos qualquer colaboração com grupos literários politicamente organizados. Sem mais, saudações saxofónicas.

Onde Está a Pequena Maddie?

Novidades da Pequena Madeleine

A Polícia Judiciária acaba de revelar a mais recente fotografia da pequena Madeleine, tirada há poucos dias. Como se vê, envergava uma máscara de papoilas vermelhas. Diversas testemunhas afiançam que a menina ia a caminho da fronteira Paris/China, enquanto cantarolava uma célebre canção de Jacques Brel, "Ne me quitte pas", aquela sobre o ombro do cão.

quinta-feira, maio 10, 2007

Música, a pedido de algumas famílias

Cartografias da finitude















(Egon Schiele, Nu Feminino, 1914)

Momento Susana Tamaro

«Penso na atitude pós-moderna como a daquele homem que ama uma mulher muito culta e que sabe que não lhe pode dizer “Amo-te loucamente” porque ele sabe que ela sabe (e que ela sabe que ele sabe) que aquelas palavras já foram escritas por Barbara Cartland. Ainda assim, há uma solução. Ele pode dizer “Tal como Barbara Cartland diria, amo-te loucamente”. Nesse momento, tendo evitado a falsa inocência, tendo dito claramente que já não é possível falar inocentemente, ele terá contudo dito o que queria dizer à mulher: que a ama, mas que a ama numa época de inocência perdida. Se a mulher for nisto, terá recebido, de qualquer modo, uma declaração de amor. Nenhum dos dois interlocutores se sentirá inocente, ambos terão aceite o desafio do passado, do que já foi dito e não pode ser eliminado, ambos jogarão conscientemente e com prazer o jogo da ironia... Mas ambos terão conseguido, uma vez mais, falar de amor.»

(Umberto Eco, Posfácio ao Nome da Rosa)

domingo, maio 06, 2007

Mensagem Imperial

Uns dias depois da sua tomada de posse, o Imperador proferiu um longo discurso, que foi emitido pelas estações de televisão e rádio existentes no país.
Terminou a sua dissertação com uma ameaça: "e não se esqueçam, as portas das nossas prisões estarão sempre abertas a todos os criminosos"!
Na maior prisão do país, as reacções não se fizeram esperar. Fizeram-se enormes filas de prisioneiros, exigindo a sua libertação imediata. "Não ouviram o Imperador?As portas da prisão estão abertas a todos os criminosos!"
Os guardas, incrédulos, abriram os portões, deixando sair todos os prisioneiros.
Um dos guardas, diligente, ainda mandou alguns tiros para o ar, para tentar dissuadir algum dos criminosos. Sem efeito. A prisão ficou vazia.
Mas não por muito tempo. O guarda que mandou os tiros para o ar foi detido e enviado para os calabouços, acusado do seguinte crime: uso indevido e desperdício de munições públicas.
Foi o próprio Imperador que mandou executar a pena.

terça-feira, maio 01, 2007

Bombons envenenados