Como o vencimento de um escritor falecido há mais de 60 anos não é muito substancial, tive de procurar uns empregos na secção de classificados do jornal. Lá encontrei um que me convinha, mas que continha um aviso ameaçador: "é necessário possuir conhecimentos de informática na óptica do utilizador". Fiquei sem saber o que isso era, mas o meu instinto disse-me que estava, de alguma forma, relacionado com computadores.
Lá consegui ligar a temível máquina, depois de várias tentativas falhadas.
Acedi a um programa chamado "Word", onde comecei a escrever o Curriculum Vitae.
Alguns amigos prepararam-me um texto para mandar: "experiência em Software ESRI, nomeadamente, ArcGis. Informática na óptica do utilizador, nomeadamente, Access, Project e Frontpage..."
Estava tudo muito bonito e eu já "dominava a situação" quando, num instante trágico e que para sempre lamentarei, o teclado deixou de dar sinais de vida. Tentei escrever algumas coisas, mas sem resultado. Desesperado, comecei a dar-lhe murros vigorosos. Talvez por isso, surgiram vários silvos agudos, vindos das entranhas da máquina.
Tentei reconfortá-la, mas sem efeitos práticos. Farto de ouvir esse ruído, mandei vários pontapés no computador e outros tantos murros no visor. Daí a pouco, apareceram, vindas do nada, várias faíscas, e até um pouco de fumo. Cheirava a queimado. As faíscas aumentaram de intensidade. Para tentar apaziguar a raiva do computador, deitei-lhe água, mas deu-se um fenómeno chamado "curto-circuito". Surgiram chamas, que irromperam um pouco por toda a sala. As pessoas saíram para a rua, em pânico. Os bombeiros foram chamados e já oiço, lá ao fundo, as sirenes. O prédio foi evacuado. Só cá estou eu, rodeado por chamas, mais esta máquina infernal, que não se cala por um instante que seja.
Tento encontrar uma tomada, para a poder desligar, ou talvez algum comando, no programa "Word", que diga "apagar incêndios".
Nem me passa pela cabeça fugir. Seria algo humilhante e indigno para uma pessoa com experiência em Software ESRI, nomeadamente, ArcGis.