sábado, maio 31, 2008

Chaque fois unique
Le premier jour de ma danse
Chaque fois unique
Le mouvement de tes lèvres
Chaque fois unique
Le soleil derrièrre tes yeux
Chaque fois unique
Je pense dans un rivage
Dans les bordes de ton sein
Chaque fois unique
La fin du monde
Temos que encarar Bartleby como uma reencarnação do Capitão Ahab.

Zaraza

Así que te duermes despejada
Para que nunca te des cuenta
De cómo mi ultimo cigarrillo
Estampa tu boca en la mía.

sexta-feira, maio 30, 2008

O Advogado de Família e o Caso da Dona Arminda

Episódio 12, cena 5- Interior, gabinete do Doutor Luis

Luis está sentado à secretária, a estudar um Decreto Lei, que entrou em vigor na véspera. Tocam à porta.

Luis- entre!

Entra uma Senhora, de cerca de 70 anos, vestida de preto

Luis- como está, Dona Arminda? Sente-se!
Arminda- obrigada, Senhor Doutor!
Luis- então, e Dona Arminda, como vão as coisas?
Arminda- oh, Senhor Doutor....o costume....estou com umas queixas, umas preocupações....
Luis- então, mas de que se trata?
Arminda- olhe, senhor Doutor, o meu vizinho de baixo, aquele rapaz de vinte anos, a quem estou sempre a tocar à porta, a dizer para baixar a música, até porque ele se mete em drogas, eu sei como é que é, tem uma namorada, com uma mãe que tem problemas de cabeça, e com uma avó que.....
Luis- sim, Dona Arminda, mas esse seu vizinho fez-lhe alguma coisa?
Arminda- sim, senhor doutor.....
Luis- então, mas o que é que ele lhe fez?
Arminda- estava ele sentado num banco com a namorada, aquela desavergonhada, a fazerem javardices, quando eu passei com a minha amiga, a Dona Alzira, e eu disse só: “que pouca vergonha”.
Luis- e depois?
Arminda- depois (começa a chorar)....
Luis- vá, acalme-se, conte-me o que se passou....
Arminda- depois, o meu vizinho respondeu-me: “o que é que foi, sua grande vaca gorda? Não tem mais para onde olhar? Está sempre a espiar os outros! Estúpida de merda”!
Luis- foi isso que ele lhe disse?
Arminda (chorando)- sim.....
Luis- e a sua amiga, a Dona Alzira, é testemunha disso tudo?
Arminda- é, senhor Doutor, e não é a primeira vez que ele me faz isso, outro dia chamou-me baleia, à frente do Senhor Mário, da mercearia, por quem eu sinto grande afecto e humilhou-me muito......oh......(recomeça a chorar)
Luis (dando um bocado de papel higiénico a Arminda, com o qual se estivera a assoar momentos antes)- vá, Dona Arminda, não chore, vamos tomar medidas!
Arminda- a sério, Senhor Doutor?
Luis- pois claro! Olhe, vamos fazer aqui uma queixa-crimezita contra esse seu vizinho!
Arminda- isso é que agradecia, Senhor Doutor....
Luis- ora, de nada, o que o senhor vizinho lhe fez foi um crime de injúria, pois dirigiu-lhe palavras ofensivas à sua honra!
Arminda- é verdade, Senhor Doutor....e chamar-me baleia e vaca gorda? A mim? E ele pode ir para a prisão, esse safado?
Luis- provavelmente não, mas daí a uns anos vai pagar uma multa e podemos também pedir-lhe uma indemnização por danos!
Arminda- isso é que sim, para aquele safado drogado, filho de uma maluca, neto de uma puta e namorado de uma cadela com cio desavergonhada aprender o que é bom!
Luis- Dona Arminda, não se preocupe, que eu amanhã vou já tratar da papelada! Passe por cá de manhã e dê-me os seus dados, os da sua amiga e os do seu vizinho.
Arminda- oh, Senhor Doutor, o Senhor é tão bondoso!
Luis- não sou nada, quero só ajudar os outros!
Arminda- Deus lhe pague, Senhor Doutor, já que eu não lhe vou pagar! E que isto seja resolvido o quanto antes! E se quiser voltar a casar, tenho uma sobrinha muito jeitosa, que....
Luis- sim sim, Dona Arminda, depois falamos! Boa tarde!

Dona Arminda sai. Entra a Secretária de Luis, a Menina Matilde.

Menina Matilde- a baleia gorda chateou-o muito?
Luis- oh....o costume, Menina Matilde! Há muita gente na sala de espera?
Menina Matilde- umas 50 pessoas.....
Luis- huum...ok...e hoje só estou eu de serviço, o Doutor Vasques está de férias e a Doutora Pereira da Cunha está de baixa...faça entrar o próximo....e depois mande vir uma Pizza. Hoje não devo chegar a casa a tempo de jantar. Tenho de compensar os meus queridos filhos e os meus amados pai e tio-avô com um almoço no fim de semana e uma ida ao Oceanário....
Menina Matilde- claro, Doutor Luis, eu mando vir a Pizza.....oh....o Senhor é tão bondoso...ainda por cima, com o Estado a pagar-lhe tarde e a más horas...(olhando para Luis, de forma provocadora, e desapertando um botão da sua camisa)...o Senhor Doutor não me quer consultar....também?
Luis- Oh Menina Matilde, eu sou bondoso, mas não sou totó! A menina Matilde ainda me metia depois um processo em cima, por assédio sexual!
Menina Matilde (rindo-se)- oh! O Senhor Doutor é demais!
Luis (rindo-se também e dando uma palmadinha no rabo da sua secretária)- vá! Qual é o próximo cliente?
Menina Matilde- é o Senhor Jacinto, aquele carpinteiro que se farta de roubar os clientes e tem um caso com a mulher do homem do talho!
Luis- Faça-o entrar, Menina Matilde! A justiça não pode esperar!

quinta-feira, maio 29, 2008

A Abelha e o Advogado de Família

Quando o Dr. Luis da Silva não estava no seu consultória do CAPA (Centro de Apoio Permanente de Advogados), ia, de vez em quando para o seu escritório particular, que ficava próximo do Tribunal. Apesar de ter uma Placa Luzidia, em tons dourados, que dizia: “Luis da Silva Couto- Advogado”, o escritório costumava estar vazio, pois Luis cobrava honorários, o que não é do agrado do cidadão comum, que gosta que lhe resolvam os problemas e o ouçam queixar-se, mas de graça. Por isso, Luis da Silva costumava ir para o escritório para descansar dos guinchos dos seus filhos, para ler um bocado e para ver sites coloridos na internet.
Um dia, quando Luis chegou ao escritório, reparou em 3 abelhas moribundas, que jaziam no soalho. Viu ainda mais duas abelhas a esvoaçar, junto à janela. Não ligou.
Quando lá voltou, dois dias depois, o número de abelhas moribundas ascendia a 20, e havia mais umas quantas a esvoaçar desesperadamente, de um lado para o outro, como se quisessem comunicar.
Como Luis não conseguisse trabalhar com tamanha zumbideira, resolveu voltar para casa.
Três dias depois, de regresso ao escritório, Luis viu que o número de abelhas mortas no chão ascendia à centena. Como não ouviu nenhuma abelha a esvoaçar, pousou o computador portátil na sua mesa e começou a ver um site desportivo.
Passado uns momentos, reparou num leve movimento, vindo do extremo da mesa. Era uma última abelha, que se tentava mover com dificuldade.
Luis acabou por perguntar: “amiga abelha, precisas de alguma coisa?”
A abelha, parecendo perceber o que Luis lhe acabara de dizer, ganhou um pouco de alento, e começou a mexer-se, em direcção ao advogado.
Luis continuou: “amiga abelha, porque é que vieram aqui parar? E porque é que começaram todas a morrer? Precisam de alguma ajuda minha? Foi por isso que vieram aqui ter?”
A abelha continuou a aproximar-se, com um esforço sobre-abelhês, pois já estava meio ressequida.
De repente, Luis, lembrando-se do filme que vira com os seus filhos, no Verão anterior, o “Bee Movie”, perguntou à abelha:
- Já sei! Vocês têm um problema jurídico entre insectos ou contra os humanos e precisam de um advogado! É claro que vos vou ajudar! Do que se trata?
Nisto, a abelha parou de se mexer e ficou inerte, petrificada, com um estranho líquido a sair-lhe da boca e decompôs-se rapidamente.
A partir desse dia, Luis não voltou a ver abelhas no escritório, apesar de as chamar insistentemente, e de para lá levar, todos os dias, muitas flores com pólen.

terça-feira, maio 27, 2008

O Advogado de Família

Depois da criação e do sucesso da série "Morângulos Com Açúcar", o Ângulo continua a apostar na Produção Nacional, desta vez com a criação de um novo personagem, de que todos, certamente, gostarão. Trata-se do "Advogado de Família".
A nova série debruçar-se-á sobre a vida de Luis da Silva, de 40 anos, viúvo, e que vive com os seus 3 filhos, menores, com o seu pai e com o seu tio avô. Os encargos familiares são todos suportados por Luis da Silva, que tem um consultório de Advogado de Família no Centro de Atendimento Permanente por Advogados (CAPA) do bairro local.
Luis da Silva ama a sua família e os seus clientes. Os seus clientes também o amam, e consultam-no para todas as necessidades. Muitas vezes, faz horas extraordinárias, só para ajudar uma velhinha necessitada ou um desenraízado social, e para lhes pedir e fazer justiça.
Luis da Silva não tem tempo para o amor, apesar de a sua secretária nutrir por si uma paixão secreta. Apenas quer ajudar os seus e os outros (que também fazem parte dos seus).
Para completar o leque de personagens, existe ainda um inteligente cão, o "Bonifácio" e uma empregada doméstica, que tem umas expressões patuscas, uma grande sabedoria popular e também ama muito toda a família.
Não perca, em breve, os emocionantes casos do ADVOGADO DE FAMÍLIA, apenas aqui, no Ângulo Saxofónico.

segunda-feira, maio 26, 2008

Tío Bewrkzogues

No se puede responder. No se puede responder. No se puede responder. 4) No se puede responder.
No se puede responder. No se puede responder. 3) No se puede responder. No se puede responder.
La estrangulé. La estrangulé con una corbata roja a pintas blancas. Después la poseyí. ¡Lo costosas que han sido estas nupcias! Oh madre, oh madre, oh madre. No se puede responder. 2) No se puede responder. No se puede responder. No se puede responder. Papá mírame a los ojos. Cuando tenga una casita blanca, completa-blanca, juro que no la mancharé de sangre. Me cuidaré bien de hacerlo. Será una casita blanca perfecta sobre una loma verde y yo. Yo no asesinaré a nadie ahí. Salvo algún descuido o desliz. Este liz. A nadie ahí asesinaré. Matar es un disgusto. No mataré entonces en la casita blanca como la leche. Allí no habrá ninguna salpicadura de sangre, ningún huesito con la huella de mis dientes. Ni la gillette estará oxidada por causa oscura, ni nadie me vendrá con frases de cordel, el cordón de la cortina, la corbata. Cortar. Ni la frase ni el calibre de la frase. Tírale bajo, a las piernas no más alto. No haré nada malo allí. Matar. Por favor. No mataré a nadie más nunca más. Aunque no me den esa casita blanca. Puede ser simplemente un techo, aislado, desplazable, un sombrero, sí, un pedazo de poste común para apoyar la espalda. No. No mataré a nadie más. Concha. A los que aman a los locos y a los asesinos, yo digo, yo les enseñaría a andar amando. Dádmelos. Sí. No mataré a nadie más, me cortaré las manos antes de hacerlo. No voy a matar a ningún niño más por tentador que sea su cuerpiño: a ningún niño. Matar es un disgusto.
¡Matar, matar, matar es un digusto!
1) No se puede responder.
Papá, papaz, papaí, paisá, paisagrí. Paz y tardanza. 0) No se puede responder. Pero ya dije que no mataré nunca más a nadie. Chorreante de lágrimas cuando recibí el telegrama lloré como un. Un loco. Tíó Bewrkzogues ha muerto. Lloré. En el estilo más chileno. La muerte la tiene con otros. Yo corazón planchado en oro y guasca trenzada. El ex yo paradito y disimulado. Pero no: no mataré nunca más. Abrieron el celular a la mañana. Abrieron otro celular. Del segundo abierto bajaron las mujeres. La moda era de cadenas arrolladas a la cintura. Bajaron del celular tintineando las cadenas, tin tin desde temprano. El primer abierto era de hombres. Bajaron. Y aquí estamos. Era eso. Allá él el que lo enfrente. Si éste es Pepe, perfecto: éste es Ramón. Cosa cosa, evidente. Dos y uno para el descarte. Mujeres con conchas. A una fila. Otra fila hombres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .un vigilante hijogris. Cree que así debe ajustarme las esposas. Me lastima las muñecas inú
tilmente. Con un poco nomás basta. La cárcel tiene sus ventajas. Es preferible la cárcel estable a andar rondando de comisaría en comisaría. La ciudad no es cruel. Sólo un imbécil puede quejarse de una ciudad organizada. Todo está perfecto. Quiero estar solo en la casita blanca. Que no me dejen a nadie para no caer en la tentación. O sí, a muchos. Aunque no hay muchos. Ni uno.
Oh madre, el casamiento debió resolverse en el simple civil, seguido de un almuerzo entre los íntimos. Pero tú te obstinaste en las modas que tú llamabas modas napoleónicas. Te quitaste la sandalia de oro y adelantaste tu piecito para que yo lo besara, temblando. Tú te obstinaste. Sonreías en lo alto y yo crujía en lo bajo, luchando con la incomodidad de mi ropa de gala, el maldito espadín, la congestión de todos mis rasgos. Me puse a fumar, hice humo, y tú diste la orden de enganchar los caballos, a la moda, ibas con los pezones al aire, con el tul rozando. Oh madre. ¿Por qué has hecho nupcias tan costosas si tu hijo no puede permanecer erguido frente a ti?
La cantina estaba llena. Me quedé frente al micrófono con la boca abierta, sin poder cantar ni entender. La cantina estaba llena. No se puede responder. Preguntándome en otras ocasiones qué hacer cuando no había. Nada que hacer. Quedarse en aquella cocina distante mirando por la ventana distante, mirando dos árboles en ojiva. Quedarse todos los instantes sin nada que hacer, no se puede responder, no se puede responder. Cada canto tiene sus grietas. Es el cantor el que se pierde, pero. No se puede responder. La cantina estaba llena. Tercera Parte, Capítulo XII. En El Fiord se lee, sorpresivamente: «Entonces apareció mi mujer». Entonces se lee. ) No se puede responder. Padre nuestro que estás en los cielos, esquizofrénico, yo por mí no hubiera matado, fue por los otros: yo era demasiado extrovertido. La portera pretendió prohibirme la entrada a mi propia casa, cosas que a mí me pasan. Luchamos junto al ascensor. No quería dejarme entrar a mi propia casa. Echado de mi casa, expulsado hasta la desolada esquina opuesta, pensé, llegué a pensarlo: si me echa no vuelvo nunca más a esta casa. Padre cerdo que estás en la mierda, tu lugar si allí te veo almibarado en grumos, yo por mí hubiera matado a los otros, no a mí mismo, quieto basta. Pero me retraje. Introvertido. Papá mímame los ojos No se puede responder o se puede responder se puede responder e puede responder puede responder uede responder ede responder de responder e responder responder esponder sponder ponder onder nder der er r
Novena Parte. Capítulo III. En la novela, el marqués de Sebregondi dijo: «¿Y Dios es éste, este pendejo que por haberse metido en el Liceo Militar va a salvarse de la colimba?» Dijo, y se sintió justificado en su homosexualidad –activa– y confirmado, conforme en su extrema, cada vez más extrema necesidad de droga. Paciencia, dijo. Culo y terror. Tenía un pene digital, falangíneo. Ortopédico, un aparato brilloso le servía de mano: se la habían cortado. Anduvo por ahí y anduvo por aquí. Bulineando y otras cosas. Se lo recibió primero en familia, hasta que apareció que era un guacho. Tanteó. Hizo su cuento. Lo apartaron. Conocía algunas cosas de cirugía y se metió en las bandas, operaba. Heridas de bala. Allá él, allá su muñón. Aquí. Matar es un disgusto.
Y dificultades en la defecación y en la eyaculación, una pasta verde. Y yo no hablaría así de política. E1 tío Bewrkzogues se baja los pantalones. Es un día de mayo en la caliente Europa. La hierba crece. El tío Bewrkzogues yace. Dar siempre en la tecla como le corresponde a todo europeo: para algo inventaron la tecla. La hierba crece: otra vez. El tío Bewrkzogues se baja los pantalones y espera a los mocetones que vuelven de las eras.
Cuando vengan nos perderemos la escena...
Gitano, gitano... ¡Gitanillo!


(Osvaldo Lamborghini, Sebregondi retrocede, 1973)

Uma imprescindível lição

Eu, Safo de Lesbos, resisto imutável e imperturbavelmente a toda e qualquer fúria mais tenebrosa dos deuses, mas não aguento vislumbrar o andar peludo de uma aranha.

Uma imprescindível lição se poderia tirar facilmente daqui, mas tenho pouco tempo para isso - estou a cozinhar o jantar para Átis, que faz hoje anos.
Fica so uma dica gastronómica rapidíssima e fácil de decorar:
o refresco de café, (tal como os morangos), ganham em sabor e variedade pondo-se-lhes em cima um montinho de chantilly. Em alternativa, para os que não toleram a cafeína, pode optar-se por beber capilé por palhinhas.

sábado, maio 24, 2008

Circe, reencarnada e descomposta, ou exercício anónimo nº24

Gosto de ir à guerra, apenas para me poder esconder num buraco, enquanto espero que a tempestade cesse e me embalo com a litania das armas e dos tiros, e com o odor a terra queimada. Calo-me e espreito-te, lá do fundo da toca, a calcorrear as ruas, à chegada da aurora. Não me mexo, o sal da terra purificou-me os braços, que se fundem na aragem tornada vaga pelo ruído das armas. O teu corpo deixa-se levar pelas ruas, ao sabor do vento e da chuva e de um último sorriso esquecido pela multidão em fuga, que te procurou em vão, Circe, tornada morta pelos sonhos do tempo, pelas noites brancas, e pela sombra da memória de quem se cansou de esperar por ti.

A sedução do príncipe porco

Paula Rego, litografia, 2006

sexta-feira, maio 23, 2008

I see skies of blue...

El vicio del alcohol

«Anoche, desde mi cama, oí el grito ronco de una mujer que gozaba.
Anoche oí detenerse el reloj dos minutos esperando a la Luna que a su vez se había detenido para ver, en su propia sombra de la calle, dos perros que se batían.
Anoche canté, solo, de espaldas:

Voy pa mis montañas
A pedirle a Dios

Pa estas penas mías

Nieve, viento y sol.

Oí mi canto. Lo cual es altamente absurdo.
Consideré también altamente absurdo cómo están organizadas sobre esta Tierra las cuestiones del sexo. Pues todas las muchachas hermosas deberían estar
desnudas, de espaldas, atadas con gruesas cadenas, y con los muslos abiertos, totalmente abiertos. Entonces se las podría azotar sin piedad.
Pero no hay organización alguna. Al menos mientras las estrellas no nos expliquen todas sus distancias reducidas a entre ambas manos, y al menos mientras los obispos no vistan del verde de los musgos de los pantanos sosegados.

Nada de lo anotado es arbitrario. Entre esos tres elementos –m
uchachas atadas, estrellas y posibles obispos vestidos de verde- he visto siempre una filiación absoluta. Prueba de ello es que no he puesto otros elementos sino los anotados. Ahora bien, que yo, hoy día y hasta hoy desde 42 años, no pueda desmontar y luego explicar con claridad de cerebro bien organizado tal filiación, no es prueba alguna de su no existencia. Debe pensarse que tampoco puedo dilucidar cada uno de los elementos que la forman. Sin embargo, nadie duda de su realidad. Desafío a quien sea a que me desmonte y explique una muchacha aunque él mismo la haya atado. Desafío una explicación convincente sobre las estrellas aún si se dispone de todos los telescopios del mundo, pues los telescopios mismos necesitarían una explicación ya que sólo existen por la explicación abstracta que antes el cerebro fabricó. Desafío a cualquier humano a que tome a un obispo, le quite sus vestimentas habituales y las reemplace por las de un tono exacto al verde de los pantanos sosegados. Luego que se siente frente a frente del obispo –que fume o no fume, absorba o no rapé, me es igual-, y con voz nítida me explique lo que realmente acaba de suceder. ¡Desafío! Y, por otro lado, que se presente quien dude de la existencia de muchachas, estrellas y obispos. Por mi parte, espero alguna vez explicar todo esto debidamente. Sigamos, pues, con las cuestiones del sexo.
Podrían tener solución más rápida. Sería ella si pudiésemos
encontrar placer en hacer el amor con largas tiras de terciopelo. Esto tampoco es arbitrario. Puedo rehacer aquí una argumentación semejante a la anterior. Pero esto me quitaría mucho tiempo y es necesario, es urgente, que pronto, antes que termine el grito de esa mujer que goza, es indispensable que todos los hombres bien nacidos, todos cuantos nos emocionamos ante las voces de Patria y Virtud, es impostergable que luchemos tenazmente en contra del vicio del alcohol.
Mas para esto hace falta un muchacho esbelto, moreno,
de ojos claros, que vestiríamos con una malla muy ceñida de color corteza de almendra y que tocaríamos con un gran sombrero, un sombrero planetario, el sombrero en sí mismo y en su total grandeza. ¡Oh qué magnífica, oh qué soberbia cosa es un sombrero!
Yo, aquí en casa, tengo diez y siete. Juro solemnemente
que hace ya nueve años que jamás me he acostado sin antes haber orinado varias gotas sobre cada uno. Luego cojo un pequeño fusil de salón y hago fuego sobre los diez y siete, uno tras otro. Volvamos al muchacho.
¡El sombrero inimaginable!
El muchacho debe esperar algunos minutos.
He tomado un cajón parafinero, de madera bruta. Tie
ne cinco costados. Es decir, tiene un hueco que cubro con un vidrio para que no se pueda tocar lo que hay dentro, pero sí, se pueda ver. Listo.
Hay a un costado cinco botellas que crecen de tamaño a medida que se alejan del vidrio. Al otro lado hay otra cinco iguales. Se juntan al fondo, así:

En las dos primeras se lee: Cerveza; en las segundas: Vino; en las terceras: Pisco; en las cuartas: Whisky; en las quintas: Alcohol Puro.
Símbolo expresado:
Las botellas crecen de tamaño: el alcohólico necesita cada vez más alcohol.
Junto con crecer las botellas, crece el grado de alc
ohol del contenido.
Símbolo expresado:
El alcohólico no sólo necesita mayor cantidad sino que también aumentar la potencia del mismo, desde cerveza hasta alcohol puro.
En el primer plano, al centro, se yergue una rosa artificial. Así:

Símbolo expresado:
Bajo la influencia de los vapores alcohólicos todo lo vemos color de rosa, como una rosa. De ahí la rosa.
Pero la rosa es artificial.
Nada de lo que vemos color de rosa tiene, de verdad, tal color. La vida sigue. La vida es negra.
De lo alto, sobre la rosa, cuelga de un hilo, una tarántula velluda. Así:

Símbolo expresado:
Las tarántulas, sobre todo las velludas, son repugnantes, asquerosas, infernales. A eso lleva el vicio del alcohol: a convertirlo a uno en un ser repugnante, asqueroso e infernal.
No se olvide que la tarántula queda sobre la rosa.
Símbolo expresado:
La verdad está sobre la mentira.
Cada cual puede hacer esta construcción simbólica en su propio domicilio. Pero, si se quiere que alcance a las masas, hace falta algo más:
¡El muchacho!
Y el sombrero.
El muchacho con su sombrero debe colocarse tras el cajón y el cajón debe colocarse al centro de una plaza pública. El muchacho debe ponerse a gritar:
-¡Acudid! ¡Acudid!
Entonces, sí, acudirán las masas y, al ver todo aquello, huirán para siempre del vicio del alcohol.
Si los hombres no bebiesen, tal vez habría posibilidad de atar algunas muchachas y azotarlas. Así las estrellas podrían seguir su camino, los obispos seguir con sus sotanas habituales y las tiras de terciopelo no temer violación alguna.
Pero hace falta el sombrero. Recibiré todos los modelos que se me envíen.
Anoche oí el grito ronco de una mujer que gozaba.
Luego sopló el viento. Se lo llevó todo. Se llevó un obispo que depositó, tras ocho siglos de vuelo, en medio de la Vía Láctea.
Ese obispo puede ser allá nuestro representante en la lucha tenaz en contra del vicio del alcohol. Sólo que..., hay que buscar medio de enviarle cuanto antes un muchacho esbelto, moreno, de ojos claros. El allá se encargará de vestirlo como sea necesario. Acaso, dado el clima, con arena.
Como sea, ¡hay que luchar! Al fondo -¡no lo olvidéis!- están las muchachas atadas con cadenas. No lo olvidéis: ¡podréis azotar sin piedad!
Anoche oí el grito ronco de una mujer que gozaba.
Un momento después me tomé una copa de alcohol puro. Y lloré sobre las desventuras que afligen a mis semejantes.
Luego tomé una copa de whisky. Lloré sobre cuanto tienen que sufrir, a causa de mis semejantes, los animales y las aves de nuestro planeta.
Luego tomé una copa de pisco. Lloré por los reptiles, los peces y los insectos.
Luego, una copa de vino. Lloré por las flores, las hojas, los frutos, por las raíces que se entierran suelo abajo.
Por fin tomé un vaso de cerveza. Y lloré por nuestros hermanos, nuestros tiernos y dulces hermanos que no hablan, que no crecen, que no fornican: los minerales.
Entonces me encomendé al obispo de la Vía Láctea y le imploré tuviese a bien pedirle al Sumo Hacedor hiciese caer sobre la Tierra una lluvia abundante de agua de Su Reino o de las simples nubes si el tedio en aquel instante lo dominaba.
Llovió.
Estiré ambas manos juntas. Me incliné sobre ellas. Bebí, bebí agua, agua inocente y celeste.
Apareció Pibesa, lenta, regular, sobre sus empinados taconcitos rojos.
Sonriente, se dejó atar con cadenas gruesas.
Desnuda, clara, lejos de toda sombra de alcohol. Clara diáfana. Su cabellera de oro viejo y oscuro; su sexo de oro vibrante. Sus pies con las dos largas gotas sangrientas de sus taconcitos. Las cadenas mudas.
La azoté sin piedad.
La azoté con el látigo hecho de cuero de potro. Un potro manso y sosegado. Aquel que, cuando yo niño, muy niño, me paseó con tranco lento por sobre el primer cerro que veía.
La azoté más y más.

Entonces todo el barrio, todo Santiago, todo Chile, toda América oyó, en medio de la noche, el grito ronco de una mujer que gozaba.»

Lisa says:

«Laura Jáuregui, Tlalpan, México DF, mayo de 1976. ¿Ha visto usted alguna vez un documental de esos pájaros que construyen jardines, torres, zonas limpias de arbustos en donde ejecutan su danza de seducción? ¿Sabía que sólo se aparean los que construyen el mejor jardín, la mejor torre, la mejor pista, los que ejecutan la más elaborada de las danzas? ¿No ha visto usted nunca a esos pájaros ridículos que bailan hasta la extenuación para conquistar a la hembra?
Así era Arturo Belano, un pavorreal presumido y tonto. Y el realismo visceral, su agotadora danza de amor hacia mí. Pero el problema era que yo ya no lo amaba. Se puede conquistar a una muchacha con un poema, pero no se la puede retener con un poema. Vaya, ni siquiera con un movimiento poético.
¿Por qué seguí frecuentando durante a algún tiempo a la gente que él frecuentaba? Bueno,también eran mis amigos, todavía eran mis amigos, aunque no tardaron, ellos también, en cansarme. Permítame que le diga algo. La Universidad era real, la Facultad de Biología era real, mis profesores eran reales, mis compañeros eran reales, quiero decir tangibles, con objetivos más o menos claros, con planes más o menos claros. Ellos no. El gran poeta Alí Chumacero (que supongo no tiene ninguna culpa de llamarse así) era real, ¿me entiende?, sus huellas eran reales. Pobres ratoncitos hipnotizados por Ulises y llevados al matadero por Arturo. Trataré de resumir y ser concisa: el mayor problema era que casi todos tenían más de veinte años y se comportaban como si no hubieran cumplido los quince. ¿Se da cuenta?»

(R.B., Los detectives salvajes, II-2)
ACTO I

1ª CENA

Foco de luz ilumina o Estômago (sentado com ar sofrido) e o (soberbo e austero).

: Ouvi dizer que não andas muito bem, ó Estômago.
Estômago: Pois, é esta azia constante, não deve ser nada, não sei... nunca sei muito bem...
: Ele nunca sabe dizer. Nunca nos quer informar. De qualquer modo, não creio que seja alguma coisa grave.
Estômago: Pois, também acho o mesmo. Mas eu é que pago sempre as favas. As leguminosas no geral. Aquela reacção doentia que ele tem com ela. Submete-se a todos os seus desejos.
: A ela e àquele amiguinho dele, o Coração. Quem é que o convenceu de que eram irmãos? Não consigo perceber tanta falta de senso. Eu, que vos carrego a todos sem me queixar.
Estômago: Mas andas outra vez com dores, ó Pé?
: Qual quê! O meu mote é andar, andar sempre. É como me sinto em forma, é como consigo escapar à sua maldita influência, que só vos faz ficar assim, prostrados como tu. Eu cá sinto-me em forma. Só odeio quando ele me manda ficar quieto. Aí, sim, começo a sentir dores, mas a maioria das vezes é porque ele não me muda de sapatos.
Estômago: Pronto, deixa-te disso. Sei que és chato, mas acalma-te. Afinal, não me sinto assim por gosto.
: Pois, acredito, desculpa. Não o percebo, a sério.
Estômago: Está sempre isolado, o problema é esse. Ela, aquela Boquinha atrevida, e o Coração só se aproveitam disso. Têm mais influência do que todos nós juntos, quer-me parecer.
: Mas, com tanto isolamento, com tanta reflexão, como é que ele se deixa ir assim?
Estômago: Se calhar devíamos ir falar com ele. O pior é que sempre que tento fazê-lo, ele se põe nervoso e a minha situação só piora. Qualquer dia aparece-me uma úlcera.
: Pois, também tenho medo que lhe dê mais neura e que decida outra vez que não vamos sair da cama. Como naquela altura em que o Cabelo resolveu começar a cair, lembras-te?
Estômago: Claro! Nessa altura sofri imenso mas foi de privação de comida. Dessa vez, por acaso, até foi ela que nos salvou, com os seus apetites insaciáveis...
: Sim, talvez. Mas é sempre pelas piores razões. Já não sei o que fazer. É que vocês todos, quando começam a entrar nesses processos estranhos, parece que ganham peso. E o meu caminhar torna-se lento e aborrecido. Perco a alegria toda.
Estômago: O que diz o teu irmão de tudo isto?
: O mesmo que eu. Está é menos preocupado. Eu, que sou o destro, tenho mais sonhos, mais actividades que gostava de pôr em prática, mais potencial para ser realizado. Ele compreende-me e diz que gostava de me apoiar, mas não se interessa tanto.
Estômago: Também gostava de ter um irmão. Sinto-me só.

O Intestino começa a falar em voz off.

Intestino: Pouco barulho, que já se faz tarde! Não descansas, ficas sem energia para digerir as coisas como deve ser e, depois, quem se lixa sou eu!
Estômago: Estava eu a queixar-me da solidão e vem-me agora este palerma retorcido do Intestino chatear-me outra vez. Vamos falar mais baixo.
: Mas qual é o problema deste, agora?
Estômago: Ele já sabe que quando há algum problema comigo, não tarde a passar para ele também. Se estou com azia, como agora, passados uns dias, está ele com cólicas. Se estou em baixo e não digiro bem os alimentos, o trabalho dele duplica. E como é grande e sinuoso, acha que o sofrimento dele tem mais valor. Mas eu não tenho culpa, não fui eu que escolhi esta organização.
: Chega! Daqui a pouco vais parecer ele a falar. Não quero ouvir mais, fiquemos por aqui. No fundo, continuo a achar que vocês são todos uns fracos cheios de auto comiseração. Há que fazer as coisas com dignidade. Mantermo-nos de pé. Adeus, vamo-nos vendo, infelizmente.

quinta-feira, maio 22, 2008

POP CORNER

quarta-feira, maio 21, 2008

Cuando todos se vayan a otros planetas
yo quedaré en la ciudad abandonada
bebiendo un último vaso de cerveza,
y luego volveré al pueblo donde siempre regreso
como el borracho a la taberna
y el niño a cabalgar
en el balancín roto.
Y en el pueblo no tendré nada que hacer,
sino echarme luciérnagas a los bolsillos
o caminar a orillas de rieles oxidados
o sentarme en el roído mostrador de un almacén
para hablar con antiguos compañeros de escuela.

Como una araña que recorre
los mismos hilos de su red
caminaré sin prisa por las calles
invadidas de malezas
mirando los palomares
que se vienen abajo,
hasta llegar a mi casa
donde me encerraré a escuchar
discos de un cantante de 1930
sin cuidarme jamás de mirar
los caminos infinitos
trazados por los cohetes en el espacio.

Jorge Teillier

SUPER POP LIMÃO

«Todo lo podría condenar igualmente, no se me pregunte en nombre de qué.
En nombre de Isaías, el profeta, pero con el grotesco gesto inconcluso de su colega Jonás
que nunca llegó a cumplir su pequeña comisión sujeto a los altos y bajos
del bien y del mal, a las variables circunstancias históricas
que lo hundieron en la incertidumbre de un vientre de ballena.
Como Jonás, el bufón del cielo, siempre obstinado en cumplir su pequeña comisión, el porta-documentos incendiario bajo la axila sudorosa, el paraguas raido a modo de pararrayos.
Y la incertidumbre de Jehová sobre él, indeciso entre el perdón y la cólera, tomándolo y arrojándolo, a ese viejo instrumento de utilidad dudosa
caído, por fin, en definitivo desuso.

Yo también terminaré mis días bajo un árbol
pero como esos viejos vagabundos ebrios que abominan de todo por igual, no me pregunten
nada, yo sólo sé que seremos destruidos.
Veo a ciegas la mano del señor cuyo nombre no recuerdo,
los frágiles dedos torpemente crispados. Otra cosa, de nuevo, que nada tiene que ver. Recuerdo algo así como.. .
no, no era más que eso. Una ocurrencia, lo mismo da. Ya no sé a dónde voy otra vez.
Asísteme señor en tu abandono

(Enrique Lihn)

terça-feira, maio 20, 2008

Para mim uma faúlha ainda incandescente
Agulhas espetadas na garganta
E o toque gelado dos fantasmas.
O duplo do real num eterno presente
& um deus de malte.

POPILLON

«El recuerdo de Lisa se descuelga otra vez
por el agujero de la noche.
Una cuerda, un haz de luz
y ya está:
la aldea mexicana ideal.
En medio de la barbarie, la sonrisa de Lisa,
la película helada de Lisa,
el refrigerador de Lisa con la puerta abierta
rociando con un poco de luz
este cuarto desordenado que yo,
próximo de cumplir cuarenta años,
llamo México, llamo D.F.,
llamo Roberto Bolaño buscando un teléfono público
en medio del caos y de la belleza
para llamar a su único y verdadero amor.»

«Cuando Lisa me dijo que había hecho el amor
Con otro, en la vida cabina telefónica de aquel
Almacén de la Tepeyac, creí que el mundo
Se acababa para mí. Un tipo alto y flaco y
Con el pelo largo y una verga larga que no esperó
Más de una cita para penetrarla hasta el fondo.
No es algo serio, dijo ella, pero es
La mejor manera de sacarte de mi vida.
Parménides García Saldaña tenía el pelo largo y hubiera
Podido ser el amante de Lisa, pero algunos
Años después supe que había muerto en una clínica psiquiátrica
O que se había suicidado. Lisa ya no quería
Acostarse más con perdedores. A veces sueño
Con ella y la veo feliz y fría en un México
Diseñado por Lovecraft. Escuchamos música
(Canned Heat, uno de los grupos preferidos
De Parménides García Saldaña) y luego hicimos
El amor tres veces. La primera se vino dentro de mí,
La segunda se vino en mi boca y la tercera, apenas un hilo
De agua, un corto hilo de pescar, entre mis pechos. Y todo
En dos horas, dijo Lisa. Las dos peores horas de mi vida,
Dije desde el otro lado del teléfono. »

terça-feira, maio 13, 2008

Anedotas de minuto e meio para crianças de palmo e meio

Era uma vez um Sominur. Costumava ir contra as coisas. De manhã levantava-se e ia contra o espelho do guarda-vestidos. Depois ia contra a porta do quarto, saía do quarto e ia contra a porta da casa de banho, depois saía da casa de banho e ia contra a porta da cozinha, depois saía da cozinha e ia contra a porta de entrada. Descia as escadas e no átrio ia contra os vasos decoradores que a dona Encéfala aí colocava para dar um ar mais enternecedor ao prédio. Depois ia contra a paragem do autocarro, depois contra os passageiros do autocarro, depois contra o segurança do banco onde trabalhava, depois contra as secretárias, as cadeiras, os móveis, em suma, todas as coisas materiais que constavam do inventário da sua agência bancária. Só contra o rosto da menina Salária é que nunca conseguiu ir. Depois, ao fim do dia saía, ia contra o segurança, contra o a paragem do autocarro, contra os passageiros, contra a porta do prédio, contra os vasos decoradores, contra a porta de casa, contra a porta da cozinha, contra a porta da casa de banho, contra a porta do quarto. Chegado ao quarto, pairava sobre a cama. Um dia, deixou de respirar. O médico que o autopsiou escreveu no relatório da autópsia que o problema sempre foi a falta de...

domingo, maio 11, 2008

sexta-feira, maio 09, 2008

O Mi Menor Que Queria Ser Dissonante

Havia um mi menor que não gostava da sua condição. Estava farto de ser utilizado nas baladas de adolescentes, e de ser chamado grande malha. Que raio! Tinha de estar sempre a ser conjugado com o dó, o lá e outros que tais. Ainda o irritava mais, quando o utilizavam e faziam, de seguida, um solo estridente na escala de mi menor.
Até que resolveu ser dissonante. Aliou-se ao ré de sétima e ao fá sustenido e elaborou um manifesto artístico, “Da dissonância e aleatoriedade dos acordes musicais – O manifesto”. Contudo, como a situação se mantivesse inalterável, passou à luta activa.
De cada vez que um guitarrista se atrevesse a tocar o acorde de mi menor, apanhava um choque eléctrico. Em breve, vários outros acordes se juntaram à luta. O mi menor reside agora nas notas estridentes, tocadas totalmente ao acaso, ao sabor da trova do vento que passa e não pede licença para soprar, e da desafinação do momento. O seu lema é “tudo pela ordem musical, tudo contra a ordem musical”. E não lhe falem em pautas e escalas. Pode irritar-se e dar-vos uma dentada valente, com aqueles dentes aguçados, capazes de partir pedras (não muito duras, claro está, pois o mi menor não usa dentagard).

Anedotas ingénuas de minuto e meio para crianças ingénuas de palmo e meio

Um dia o Trinordiol dava o seu passeio matinal pela ala direita da alameda. Do mesmo lado, mas em sentido contrário vinha um alegre Minigeste. Trinordiol cumprimentou o velho amigo nestes termos: "Então, Mini, sempre tão festivo, por onde tens andado, não te vejo há muitos períodos?" Minigeste respondeu: "Pela trompa, meu velho, pela trompa em grandes festas de arromba. Não tenho mãos a medir." "Eu cá ando muito triste. Já não vou a festas há muito tempo", disse Trinordiol num tom elegíaco "Já nem sei o que é uma verdadeira festa. Às vezes, de longe em longe, ainda vou vendo um fogo de artifício, mas coisa pouca, meu velho, coisa pouca." Minigeste, para dar um pouco de ânimo ao seu amiguinho, convida-o a ir tomar um copo à farmácia Bem-Estar. Entram os dois, o Sr. Silva cumprimenta-os com um sorriso lacónico. Sentam-se. Trinordiol pede um Viagra, Minigeste um Valium, e eis que chega a dona Estefânia, a esposa do Sr. Silva. Ao reparar em Trinordiol e em Minigeste, a um canto da farmácia, é tomada de um rubor lúbrico, imaginando as confidências trocadas por estes. O sr. Silva, sempre circunspecto, dirige um olhar de reprovação à mulher, e indica-lhe o fundo do corredor. Não passaram cinco minutos e chega a menina Lipinha, a mais nova do Sr. Silva. Ao ver o seu querido Mini e recordando-se do atraso lança-se num pranto contido no último instante, quando o sr. Silva, regressado das traseiras, e inquieto com as expressões faciais da menina Lipinha, lhe ordena que vá imediatamente ter com a mamã que está lá atrás. Solícito, o Sr. Silva oferece mais uma bebida em solução, em jeito de despedida. Lá fora, um sol de meio-dia, tórrido e intolerável, acolhe os dois amigos com um abraço que nenhuma rotina poderia substituir. Alguns passos na torreira e desfalecem, um após outro. Nunca se soube a verdadeira composição daquela solução, ao contrário dos nomes do netinho e do filhinho do sr. Silva, que nasceram uns meses depois no mesmo dia e se chamam Filipe e Estevão, respectivamente.

Anedotas ingénuas de minuto e meio para crianças ingénuas de palmo e meio

Era uma vez um porco-espinho. Cantava lindamente, como uma garça maléfica. Um dia, uma verdadeira garça maléfica, uma garça maléfica real, ia a passar e ouviu a voz do porco-espinho. Aproximou-se e disse-lhe: "Olá porco-espinho, eu sou uma garça maléfica e a tua voz é minha." O porco-espinho continuou como se nada fosse com ele. Subiu aliás de tom, espalhando a sua melodia pelos ares rasteiros com ainda maior encanto. A garça maléfica, irada, retorquiu: "Se continuas a usar a minha voz de garça maléfica eu atiro-me a ti aqui de cima e despedaço-te." Mas o porco-espinho, desdenhoso, elevou ainda mais uma vez o tom. O estado de irritação da garça maléfica chegou a tal ponto que, num voo picado a alta velocidade, arremeteu contra o porco-espinho. O porco espinho, ao aperceber-se do perigo, fechou-se em si mesmo, numa última tentativa de reclusão. A garça maléfica atingiu-o, é verdade, mas ficou com uma barba que nem vos digo nem vos conto.

terça-feira, maio 06, 2008

A problemática do balão

Dói-me a terceira pestana da pálpebra superior do olho direito

Às vezes, acontece. Já me habituei. É que o meu olho direito tem a mania, julga que é génio, (muito embora seja de vidro) e - volta e meia - exige que lhe caia uma pestana só para que lhe peçam desejos. Mas na maior parte do tempo reduz-se à sua inoperância e deixa-se estar sossegadinho.